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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

O que desejar para 2017

Carlos Russo Jr.
Antes de apresentar meus votos para o ano que se inicia, devo frisar que me meti na esquerda por indignação moral e estética, não por conta de raciocínios dialéticos ou por desígnios históricos. A bem da verdade, nunca acreditei muito no materialismo dialético e muito menos na inevitabilidade da História. 
Abracei a esquerda pelo horror e nojo infinito aos homens que exploram outros homens, que os manipulam, que os corrompem, que os massacram. Meti-me porque os pobres, os desvalidos me constrangem e doem profundamente por serem supérfluos, desnecessários, criados pela ganância e pela sordidez daqueles menos de 1% da humanidade que em tudo mandam, que quase tudo consomem. Em muitos sentidos os reis medievais tratavam seus súditos de um modo melhor que os potentados modernos tratam seus “eleitores”, sejam eles “liberais- democratas” americanos, ou tiranos “a la chinesa” ou “ a la russa”.
Quando ingressei na esquerda, e o fiz para valer há mais de meio século, ainda se tinham belos ideais, feitos gloriosos, crença firme no progresso inevitável da humanidade.
Esteticamente, por outro lado, ser de esquerda significava trazer em cada um de nós uma mensagem libertadora, juntar-se aqueles que professavam uma ideologia gregária, coletiva, regeneradora do homem e de suas perversões homicidas e suicidas.
Ser de esquerda era pensar-re-pensar o mundo e a inserção de si mesmo nele, algo muito auspicioso para uma época em que ser jovem era romper com as tradições, revoltar-se e, para poucos, tornar-se revolucionário correndo todos os riscos da opção.
Eu fui minha época, a segunda metade do século XX.
Tive ilusões no “socialismo real”. Acreditava que na U.R.S.S. construía-se o “homem novo”. Mentira. A ditadura imposta por Stalin destruíra não somente os homens que haviam realizado o Outubro de 1917, mas também distorcera seus papéis e seus ideais. Os antigos revolucionários que não entregaram suas cabeças ao cutelo tornaram-se cúmplices da tirania, burocratas, assassinos.
Depois, a China. O excelente Mao libertador também foi o inventor da estupidez desabrida e castradora da “Revolução Cultural”, que aplainou o caminho para a servidão em um Capitalismo de Estado, onde operários que trabalham por 100 U$ por mês, vivem em jaulas de 6 metros quadrados. Para os revoltados sempre houve e haverá uma “Praça da Paz Celestial”.
Restava-nos a Revolução Cubana. Pobre Cuba, entre duas potências mundiais, esmagada, sempre buscou alguma autonomia auxiliando todo e qualquer foco de resistência nas Américas e na África. Fizeram milagres aqueles cubanos. Como contraponto ao sacrifício da liberdade imposta ao povo, entregaram educação e saúde às bocas famintas.
Na virada do século XXI, Partidos que tiveram suas origens na esquerda armada e desarmada, nos movimentos sociais ou nas lutas de libertação nacional, chegaram ao poder em quase todos os países da América e da África. Estiveram por uma década ou mais no comando político e desmoronaram essencialmente por falência ética. E em seu monumental esfacelamento provocaram crises políticas e econômicas tremendas. As forças mais reacionárias, no seu vácuo, abocanharam o poder e, rapidamente, tentam fazer escoar pelo esgoto todas as pequenas conquistas, os pequenos avanços sociais da década anterior.
Em todo o mundo, a direita mais cafajeste, preconceituosa e oportunista, cresce. Pouco resta da democracia representativa e a imagem mais bem acabada do neoliberal-fascismo é Donald Trump. O mundo se afigura despudoradamente como o dos mais fortes, dos mais velhacos e espertos.
Nesse momento, paro, reflito e tento condensar os meus desejos para 2017. Puro exercício de Utopia? E por que não?
  1. Espero que o socialismo decadente de Cuba se reinvente, abra-se para a prática democrática sem deteriorar-se.
  2. Que o governo corrupto do inimigo declarado dos trabalhadores, pobres e marginalizados do Brasil, o Governo Temer, seja destituído pela ira do povo nas ruas.
  3. Que os movimentos sociais e sindicatos se reinventem, desatrelem-se do Estado, rompam com o imobilismo, transformem-se de burocratas em revoltados.
  4. Que o Estado brasileiro deixe de ser um nicho das injustiças, máquina parasitária que suga os recursos que saem da população e cumpra minimamente suas funções na área da assistência social, saúde, ensino e segurança pública.
  5. Que se aprofundem as investigações e as punições sobre a corrupção epidêmica que levou nossos países ao caos moral e dinamitou a crença e confiança em partidos e nos políticos de um modo geral.
  6. Que Trump engasgue-se com o próprio fel e nele se dissolva até o inferno, de preferência em um jantar como o pequeno ditador Putin.
  7. Que o Papa Francisco permaneça como um farol de sanidade em um mundo decadente e boçalizado.
  8. Que um suspiro de solidariedade humana acolha aos refugiados de suas terras.
  9. Que os valores da civilização ocidental consigam ser minimamente preservados.
  10. Que o meu Antigamente sirva-me sempre de referência, mas que o Presente seja vivo e vivido com a sofreguidão de uma criança. Quanto a construir o Futuro, já tropecei neste conto de fadas muitas vezes na vida. O Futuro que se construa, viverei o presente.
AMEM!
*Escritor, ensaísta e professor, dedica-se ao ensino de Literatura e Mitologia. Mestre em Humanidades,  com militância política na esfera dos Direitos Humanos. 

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