terça-feira, 23 de junho de 2020

Não vou deixar que homens como Trump e Bolsonaro me calem

A ativista ambiental inglesa Jane Goodall disse em entrevista publicada ontem no site do El País Brasil: "Você precisa se preocupar com as futuras gerações, ao menos deve tentar. Não vou deixar que sujeitos como Donald Trump e os Bolsonaros me atinjam e me façam me calar. Não, vou me levantar de novo. Morrerei lutando, porque é a única coisa que posso fazer", afirmou a britânica.
Conhecida por seu trabalho de estudo da vida social e defesa dos chimpanzés na África, a antropóloga relacionou a pandemia do novo coronavírus com o desmatamento e a falta de respeito com a natureza. O problema não é só não respeitarmos o meio ambiente, mas sim não respeitarmos os animais: os caçamos, os matamos, os comemos, os traficamos", disse. “Muitos acabam em mercados de animais vivos na Ásia, onde essas diferentes espécies estão juntas em situações estressantes e anti-higiênicas, porque costumam matá-las nesse mesmo lugar, e desta maneira o comprador e o vendedor podem chegar a ser contaminado", afirmou. Para a ativista, é importante que mudemos a forma como consumimos a carne animal e o jeito como os tratamos. “É muito importante percebermos que cada animal, tanto os que estão nos mercados de carne como os que estão nas fazendas-fábricas, nessas condições espantosas, tem uma personalidade", afirmou. Goodall também relacionou a importância do combate à pobreza com a defesa do meio ambiente pois "se você for realmente pobre, destruirá a última árvore, pescará o último peixe e disparará no último chimpanzé só para sobreviver". 
"À medida que ajudemos a encontrar outras formas de viver que não sejam destruir o meio ambiente, as florestas que se foram voltarão, e haverá mais esperança, muitos animais à beira da extinção terão uma nova chance", disse. 
No dia 2 de junho, a renomada primatóloga Jane Goodall participou de uma conferência online organizada pelo Parlamento Europeu que teve como foco discutir a relação entre pandemias, vida silvestre e agropecuária. Na ocasião, ela defendeu que a única saída é uma revolução no sistema alimentar. “Se não fizermos as coisas de maneira diferente, será no nosso fim”, alertou Goodall, acrescentando que nós somos os responsáveis pelo que está acontecendo hoje, considerando nossos hábitos de consumo e o sistema alimentar que financiamos.
“É por causa do nosso absoluto desrespeito ao meio ambiente e aos animais. Nosso desrespeito aos animais silvestres e nosso desrespeito em relação aos animais de criação [para consumo] levaram a esses ambientes em que as doenças podem atravessar a barreira das espécies e se transferir de um animal para um ser humano.” 
Na conferência que contou com sete membros do Parlamento Europeu, a primatóloga reforçou várias vezes que a situação é urgente. “Se continuarmos com esses negócios como de costume, isso realmente levará ao fim de nossa espécie no planeta Terra.” Em abril, durante outra conferência virtual, Jane Goodall já havia defendido que o novo coronavírus é consequência do desrespeito a outras formas de vida.
 “Isso foi previsto há muito tempo”, disse e acrescentou que as civilizações modernas criaram ambientes onde o vírus pode se espalhar facilmente. “Agrupamos cruelmente bilhões de animais no mundo todo [que serão mortos para consumo]”, 
Segundo a primatologista, que dedicou sua vida aos animais silvestres lançou recentemente o documentário “Jane Goodall: The Hope”, à medida que destruímos, por exemplo, a floresta, diferentes espécies de animais são forçadas a se aproximarem e, como consequência, as doenças estão sendo transmitidas de um animal para o outro. 
“É mais provável que o segundo animal infecte humanos porque ele é forçado a ter um contato mais próximo com os humanos. Essas são condições que criam uma oportunidade para o vírus ultrapassar a barreira das espécies e chegar aos humanos.” Jane Goodall sustenta que o mínimo que podemos fazer é aprender a respeitar o mundo natural. “Temos que perceber que fazemos parte do mundo natural, dependemos dele e, ao destruí-lo, roubamos o futuro de nossos filhos”, reforçou.

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