domingo, 6 de maio de 2012

"Temos um apagão do ensino no país" diz Pedro Herz

 Pedro Herz, da Livraria Cultura, fala sobre a dificuldade de contratrar talentos atualmente
Para o dono da Livaria Cultura, ausência de pessoas qualificadas e dedicadas no mercado é resultado da falta de qualidade no ensino

Helvio Romero/AE
Helvio Romero/AE
Dono da Livraria Cultura participou do 2º encontro Estadão PME

 Da última vez que alguém atrasou cerca de uma hora para um compromisso marcado com Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, não foi recebido. E ainda precisou esperar 90 dias por uma nova data em sua agenda.
A história, contada com frequência pelo empresário, ilustra bem seu estilo de gestão, mas também evidencia um dos principais problemas do mercado corporativo atualmente: a falta de comprometimento.
De acordo com Pedro Herz, está difícil encontrar profissionais qualificados e dedicados. “Ninguém tem compromisso com horário, com o trabalho, com nada. E, infelizmente, essa é uma prática estimulada pelos nossos governantes, que não cumprem o que prometem”, disse o empresário durante a 2ª edição do Encontro Estadão PME, realizado na última sexta-feira, dia 27, na sede do Grupo Estado.
Por isso, Herz optou por oferecer a sua equipe uma política básica de benefícios e investir em ferramentas que possibilitem a cada funcionário segurança para realizar o trabalho com qualidade. “O objetivo não é reter gente, é reter clientes”, afirma. 
É a partir da forma com que cada um utiliza essas ferramentas que Herz identifica os funcionários mais comprometidos. “Outros benefícios, como cursos, são analisados caso a caso. Os mais compromissados com o que fazem são considerados talentos e por esses nós fazemos o possível para mantê-los”, diz. 
De acordo com Herz, reter os funcionários qualificados é muito complicado e, por isso mesmo, a Livraria Cultura está sempre com vagas abertas. 
Para o empreendedor, porém, são poucos os candidatos que superam a primeira etapa de seleção da empresa, um teste básico de conhecimentos gerais. “Um bom país se faz com homens e livros, já dizia Monteiro Lobato”, acredita Herz. “E hoje nós temos um apagão no ensino do País”, afirma o empresário.
A vantagem das pequenas empresas nesse cenário, segundo ele, é que elas são mais ágeis em comparação com as grandes corporações – é por isso que Herz implantou um sistema de gestão horizontal na Cultura.
Presidente do conselho administrativo da empresa, Herz não tem secretária e prefere atender, ele mesmo, as suas ligações. É o empresário quem também faz suas próprias reservas de hotéis e passagens aéreas, tudo em prol da desburocratização e agilização de processos. “Isso me permite ter uma tomada de decisões rápida, fundamental para o desenvolvimento do negócio.”
O empresário comandou recentemente o processo de expansão da rede – em novembro de 2011, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 31,7 milhões à Livraria Cultura para a modernização e abertura de novas lojas em pelo menos oito cidades.
A experiência desta empreitada talvez tenha moldado a opinião atual do empresário sobre a necessidade da pequena empresa crescer. “No Brasil ou sua empresa cresce ou ela fecha”, afirma. Segundo o empreendedor, a alta concorrência do mercado e a necessidade de melhoria contínua dos processos para satisfazer o consumidor, exigem que o empresário invista na expansão do seu negócio para sobreviver. “Eu sempre digo que se algo funciona bem, é obsoleto. Em um mercado tão dinâmico, você se torna ineficiente se para de investir”, analisa Pedro Herz.
Mas se o desafio pela frente é grande, o segredo é continuar em frente e não desistir. Os medos e os enganos são parte da trajetória de todo empresário e devem ser superados. “O empreendedor erra 24 horas por dia e esses erros são importantes para você se questionar e rever processos o tempo todo”, finaliza.

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