terça-feira, 17 de julho de 2012

Dilma planeja uma base menor e mais fiel para depois das eleições

 

Por Caio Junqueira | De Brasília 
O governo planeja uma recomposição de forças na base aliada da Câmara dos Deputados após as eleições municipais. Ela passa pelo fortalecimento do PMDB, reequilíbrio de força dos grupos internos do PT, inclusão oficial do PSD e enfraquecimento ou até mesmo exclusão do PR, PSC e PTB. O objetivo é trabalhar com uma base menor e mais fiel, já que, desde o início de seu governo, o desalinhamento de boa parte das bancadas em relação à orientação do Palácio do Planalto aumentou.
Segundo dados do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), partidos como PR, PSC e PTB apresentaram neste período grande queda nos seus índices de governismo na Câmara. Isso ocorreu ao mesmo tempo em que partidos da oposição, embora com taxas de apoio globais baixas, tenham diminuído o caráter oposicionista nas votações. (veja quadro nesta página).
Por essa razão, o Palácio do Planalto pretende fazer algumas alterações. O primeiro passo de um novo modelo deve ser sinalizado em agosto, quando, em um ato público, PT e PMDB reafirmarão o acordo realizado no final de 2010 para apoiar a eleição do líder pemedebista na Casa, Henrique Eduardo Alves (RN), à Presidência da Câmara em fevereiro de 2013.
O ato foi um pedido da própria presidente Dilma Rousseff para assegurar o partido do vice-presidente Michel Temer como principal aliado em 2014. Mas tem também um efeito colateral previamente calculado: o de se precaver contra o esperado salto no número de prefeituras petistas nas eleições municipais de outubro.
O aumento é dado como certo por todos os aliados e apontado como maior prova do tratamento diferenciado que os petistas têm pelo Palácio do Planalto, seja pela predominância da legenda nos cargos da administração, seja pelo atendimento preferencial de suas emendas parlamentares. Por isso, a confirmação desse crescimento petista nas urnas é tido como um possível fator de instabilidade na base após as eleições. Já se precavendo disso, o governo quer se antecipar e mostrar que apoia um não-petista para presidir a Casa.
O gesto também é um sinal claro à ala petista comandada pelo líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), de que Henrique Alves não deve ser alvo das articulações petistas desse grupo que, desde o cumprimento do acordo, trama pelo o rompimento desse acordo.
Há ainda a avaliação de que esse grupo se fortaleceu muito durante os dois primeiros anos de legislatura e que é preciso reequilibrar as forças internas da bancada petista. Nesse sentido, a articulação política do governo também defende o cumprimento de outro acordo que vive sob ameaça desse mesmo grupo: o rodízio na liderança da bancada entre Jilmar Tatto (SP), ligado a Marco Maia e Chinaglia, e José Guimarães (CE), que integra o grupo do ex-líder do governo Cândido Vaccarezza (SP).
O próprio calendário político colabora para esse reequilíbrio de forças, na medida em que Marco Maia deixa o posto em fevereiro. Além disso, o relator do Orçamento de 2014 será egresso do grupo de Vaccarezza, que trabalha ainda para que a terceira-secretaria da Mesa fique com o outro aliado seu: o deputado André Vargas (PT-PR), secretário de Comunicação do PT.
O contrapeso viria com a Vice-Presidência da Câmara, que, no desenho atual, seria ocupada pelo deputado Paulo Teixeira (SP) e com a liderança do governo, que pode vir a ser trocada se Chinaglia não se recompor a tempo. Apesar de o governo não ter perdido nenhuma votação relevante no plenário, sob sua gestão acumulam-se derrotas nas comissões, como convocações de ministros muito próximos a Dilma - Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) - e a aprovação do projeto que destina 10% do PIB para a educação. Interlocutores de Dilma prometem que ela cumprirá a promessa de rodízio no cargo. Paulo Teixeira também é cotado para o posto, assim como o deputado Ricardo Berzoini (SP). Apesar de ligado ao grupo petista da bancada hoje majoritário, não concorda com todas algumas de suas posições mais "autônomas" em relação ao governo.
Em outra frente, a presidente cogita colocar o PSD oficialmente na base, concedendo-lhe um ministério. O partido é o que teve maior mudança no comportamento em relação ao governo na Câmara. Passou de 21,7% de alinhamento em 2011 (contando-se a partir de outubro, quando foi criado), para 62,1% neste ano. A entrada do PSD obedece ainda a outra estratégia: desestabilizar o ânimo do partido em se aliar ao PSB e ao PCdoB para lançar uma candidatura alternativa à Presidência da Câmara, com os deputados Júlio Delgado (PSB-MG) ou Márcio França (PSB-SP).
Os movimentos da presidente nas últimas semanas já colaboraram para isso. Ela interferiu na eleição de Belo Horizonte para juntar PT, PSD e PMDB contra o PSB e o PSDB. Reafirmou, assim, o PMDB como principal aliado e forçou o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a incorporar a seu projeto político a eleição de Henrique Alves para a Presidência da Câmara.
A bancada do PSB sentiu o golpe e agora afirma que uma candidatura em seu campo só sairia com o aval de Campos e do presidente do PSD e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que, com um ministério na mão, dificilmente jogaria contra o governo.
Assim, a chance da candidatura alternativa poderia vir de partidos cada vez mais alijados do processo político governista, como o PR, PSC e PTB e até mesmo o PDT. O nível de infidelidade neles é muito alto. Com a entrada do PSD na base, a tendência é que eles fiquem escanteados de vez.
Entretanto, a se manter a insatisfação generalizada na base com o tratamento recebido pelo Palácio do Planalto, pode vir daí a tentativa de galvanizar esse sentimento e ganhar votos de rebeldes de todas as bancadas. Pré-campanha já existe: Inocêncio Oliveira (PR-PE), ex-presidente da Casa e deputado há nove mandatos (Henrique Alves está no décimo-primeiro mandato), promete se lançar oficialmente no final do ano.

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