segunda-feira, 14 de março de 2022

A canalhice na questão da Ucrânia


  Fernando Dourado Filho* 
Por uma questão de método e de consideração por você, leitor, eu não vou chover no molhado. Eu não vou escrever aqui sequer duas linhas seguidas sobre o mérito militar, geopolítico ou econômico da invasão da Ucrânia pela Rússia. Todos nós sabemos mais ou menos as mesmas coisas a respeito. O que diferencia nossa percepção é a ênfase que damos aos fatores. 

Vou fazer um paralelo: todo mundo sabe que Cabral descobriu o Brasil em 1500. O que resulta do fato? Um grupo de gente é contra o verbo "descobrir" e exige que tenha aspas. Ora, a terra já existia e era habitada. Outro dirá que ali começou o genocídio dos índios. Outro dirá que os fenícios já tinham estado aqui. Mas nada disso muda o fato de que a esquadra de Cabral chegou mesmo à Bahia na Páscoa de 1500. E ponto. 

Voltemos à vaca fria: em fevereiro de 2022, os russos avançaram sobre a Ucrânia sob um elenco de pretextos. Na esteira dessa verdade, as diferentes escolas manipulam os fatos de forma a querer acreditar - e fazer os outros acreditarem - que sua forma de ver é a mais certa. No Brasil, vale a regra.  


Mas então: o que há de mais canalha na questão da Ucrânia? É a exortação à rendição pura e simples. Sob pretexto de evitar um banho de sangue, cada vez mais pessoas advogam que o governo da Ucrânia ceda ao império da força e desista de se defender. Assim, de graça....


Ora, que a supremacia russa é patente, ninguém questiona. Que é uma questão de tempo até que ambas as partes, certamente em frangalhos, se sentarão para acertar os termos da neutralização do País, é ponto pacífico. 


Demais, quando as guerras saem das manchetes e dão lugar a um racha entre Flamengo e Bangu, francamente, é péssimo sinal para quem está de arma em punho ou expulsando soldados invasores de casa. É indício de atrofia do músculo da indignação. Mas, repito, fazer a defesa de uma rendição incondicional é o que há torpe, de vil. 


Pergunto: o que teria sido do Vietnã se desse ouvidos a esses conselheiros? O que teria sido de Israel, se cedesse ao determinismo das armas e abdicasse do ímpeto de existir? O que teria sido dos afegãos, dos gays, dos veganos, dos pretos de Soweto, se essa lógica vingasse? Ou o que seria de nós nas nossas micro lutas contra o alcoolismo, o tabagismo, a dependência química, o capitão, o medo da morte? 


Há 48 horas tenho visto ganhar corpo essa tendência derrotista, na voz de um general americano multipurpose. Nada tenho contra os pacifistas. Mas logo vi que aqui no Brasil não se tratava disso. 


Em muitos casos, senão na maioria, os que defendem que o capricho cleptomaníaco de Putin seja honrado com a rendição, são uns ratos morais que o fazem porque, para eles, a capitulação ucraniana seria ruim para os Estados Unidos. Ora, se for ruim para os EUA, seria boa para o mundo (deles). 


Boa parte deles integra as falanges de negocistas do PT, e sonha com o momento em que uma cúpula camarada conceda um pacote de esmolas para uma Ucrânia espoliada e lobotomizada, para que ela exista, sem contudo representar uma ameaça ao Oriente, vide a Moscou. 


Que canalhice,. Que tibieza, que cinismo.


Por outras razões, fiéis à simetria que os assemelha, têm discurso igual ao das milícias do capitão que exultam com a ação de Putin porque Putin integra o fascismo real tal como eles o valorizam. E como ele é? Ele patrocina a morte. Para essas gangues tudo o que denota valentia, arbítrio e que implique no derramamento de sangue, é bom. 


Tem até uma turba de celerados que defende esse primado em nome da "Santa Rússia", um construto espúrio para justificar a bala.


O que há de mais canalha é que psiquiatras - sim, psiquiatras -, desses que recebem adolescentes com a pulsão de morte na alma, psiquiatras, repito, cuja missão é ajudar as pessoas a encontrar  navegabilidade nas brumas de suas ansiedades e, eventualmente, até prescrevem um antidepressivo ou similar, pois bem, esses psiquiatras fazem a defesa aberta da tal rendição. 


Que credencial profissional é essa? Que modelo de superação eles propugnam? 


Os gulags siberianos tinham médicos assim para reforçar o controle social. E para assinar atestados de óbito apócrifos, à la Harry Shibata. Aqui no FB a gente tem um monte de gente assim. 


Vou concluir: para mim não há aberração maior do que um psiquiatra que distorce a história para ficar de bem com a tribo política a que quer agradar. Psiquiatra deveria ter, além do mais, a decência de se recatar diante de certos temas porque sua pregação pode afetar diretamente os pacientes. 


Conheço pelo menos 3 psiquiatras que estão nesse momento agitando bandeiras de capitulação e tibieza. Tudo em nome da ideologia. Essa é a suprema canalhice. Ela reza que: diante da ameaça, ceda. Atacado, se entregue. Diante de um coturno, lamba-o. 


Psiquiatra populista não deveria existir na face da Terra. Sendo isso inevitável, pois bem, que não escrevam no Facebook. Isso é criminoso.

*Psiquiatra

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