O ex-presidente da República Itamar Franco, recém-eleito senador por Minas Gerais, pelo PPS, na chapa capitaneada pelo ex-governador e também eleito senador Aécio Neves, disse que o presidenciável José Serra tem de mudar radicalmente o seu discurso se quiser vencer as eleições contra a petista Dilma Rousseff.
“Se ele mantiver o mesmo discurso, vai ser muito difícil”, disparou o ex-presidente. Ele também afirmou que somente com a coordenação de campanha do tucano sob responsabilidade de Aécio, o panorama poderá mudar.
“Serrra para tentar conquistar não apenas a senadora mas o voto do partido verde ele terá que mudar radicalmente o seu discurso. Não apenas por causa do PV, mas ele tem que mudar para poder ganhar as eleições”, disse durante entrevista coletiva na sede do PPS, na capital mineira, nesta terça-feira (5).
“Eu diria que ele precisa ser mais ele, com a experiência política que ele tem, do que ser marqueteiro”, afirmou. Itamar, no entanto, negou-se a ser “interlocutor” em uma aproximação entre os tucanos e o PV.
“Eu jamais seria um intermediário porque eu não tenho liberdade com a senadora Marina (Silva) e nem com o José Fernando, que acabou de disputar o governo (de Minas Gerais)”, disse ele, para também questionar a elasticidade do tempo de 15 dias, período no qual a direção do PV deverá se posicionar em relação a apoios no segundo turno. Segundo ele, uma quinzena é excessiva para a tomada de decisão.
Apesar de ter afirmado que no último conselho que deu a Serra, ouviu como resposta um “cala a boca”, Itamar citou, como exemplo, que Serra deveria sair do “casulo”. Segundo ele, Serra tem de abordar, por exemplo, temas que ficaram de fora dos debates no primeiro turno, como “problemas” na política externa, no programas nuclear e energético brasileiros.
“Ele, quando for aos debates, tem que mostrar realmente quem ele é. Se ficar naquele joguinho de para lá e para cá, há um desinteresse do telespectador”, afirmou.
Apesar de Dilma ter ganhado de Serra em Minas Gerais na primeira fase da eleição, a fórmula sugerida também vale para o Estado, que segundo Itamar Franco, poderá ser palco da virada do tucano.
“Se ele ficar nesse discursinho frágil, ele sabe que tem que tirar uma diferença muito grande. É possível tirar. O eleitorado mineiro é sensível, tanto que resistiu violentamente à atuação do presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) e da candidata (Dilma Rousseff)”, disse Itamar, referindo-se ao apoio dado por Lula ao ex-ministro Hélio Costa (PMDB), candidato derrotado ao governo local pelo tucano Antonio Anastasia, que se reelegeu.
"Ele (José Serra) tem receio de falar certas coisas, tem receio de combater o governo e não ter medo do confronto”, disse. O ex-presidente disse também que o tucano “precisa relembrar que o Plano Real deu estabilidade à economia”, avaliou.
Comando de campanha tucana para Aécio Neves
Franco sugeriu à direção da campanha do tucano a indicação de Aécio Neves para ser o novo coordenador. “Ele, para mim, é a maior liderança (política) do país e mostrou (capacidade) de organização na campanha aqui em Minas Gerais”, ressaltou o presidente, para em seguida criticar a concentração da coordenação da campanha em São Paulo.
Para tanto, ele citou que Aécio se destacou na campanha mineira ao ressaltar que nem mesmo as presenças no Estado de Lula de Dilma foram suficientes para dar a vitória ao ex-ministro Hélio Costa. “Fizeram uma campanha violenta aqui, não só com suas presenças, mas usando o telefone e todos os artifícios possíveis”, disse Franco.
Ele também reclamou de ter sido vítima de uma campanha “muito suja” por parte de seus adversários no Estado e defendeu maior autonomia do Senado em relação ao Executivo. “É um Senado subalterno, que esquece as suas prerrogativas constitucionais”, finalizou.
Folha de São Paulo, 06/10/2010
Folha de São Paulo, 06/10/2010


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