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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Celebrar a morte é feio, mas é humano

Benedict Carey*
Alguns americanos celebraram o assassinato de Osama bin Laden com grande estardalhaço, promovendo uma verdadeira festa nas ruas. Outros ficaram muito incomodados - não com o assassinato, mas com a celebração.
"Agimos corretamente ao ir atrás de Bin Laden, simplesmente para tentar cortar fora a cabeça daquela serpente, mas não acho que seja decente celebrar uma morte como se tem feito", disse o açougueiro aposentado e veterano do Exército George Horwitz, de Bynum, Carolina do Norte.
Outros fizeram críticas bem mais incisivas. "É o pior tipo de arrogância patriótica", escreveu um estudante da Universidade de Virgínia no jornal da faculdade, The Cavalier Daily.
Nos blogs e nos fóruns da rede, algumas pessoas perguntaram: o fato de nos vingarmos e ainda glorificarmos o próprio feito não faz com que pareçamos iguais aos terroristas? Os cientistas sociais dizem que a resposta é não: isso faz com que pareçamos seres humanos. Num grande número de pesquisas, realizadas tanto dentro de laboratórios quanto no mundo exterior, psicólogos mostraram que o desejo de vingança é um critério relevante para medir como uma sociedade enxerga a seriedade de um crime e a possível ameaça maior que quem o cometeu possa representar.
A vingança é mais satisfatória quando há fortes motivos - tanto práticos quanto emocionais - para buscá-la.
"A vingança evoluiu como um fator de dissuasão, uma forma de impor consequências àqueles que ameaçam uma comunidade e de influenciar as atitudes daqueles que pensarem em seguir o mesmo rumo", disse Michael McCullough, psicólogo da Universidade de Miami. "Nesse sentido, a vingança é uma resposta muito natural."
Muitas das fontes da manifestação de alegria eram óbvias: uma vitória clara após tantos conflitos prolongados; uma demonstração da competência americana, e das consequências do ataque feito contra o país; o valor simbólico de se desferir com sucesso um golpe público contra uma rede terrorista mundial; e o momento escolhido para que o anúncio fosse feito, bem na hora em que muitos bares se preparavam para fechar.
Mas a notícia foi muito mais do que um pretexto para festejar.
"Tratou-se de um momento de puro extravasamento existencial", disse Tom Pyszcynski, psicólogo social da Universidade do Colorado, que estudou as reações ao 11/9. "Derrotar um inimigo que ameaça nossa visão de mundo, os próprios valores que acreditamos serem capazes de nos proteger, é a maneira mais rápida de acalmar a ansiedade existencial."
Depois da maioria das traições o desejo de vingança perde força conforme as memórias ficam mais distantes. Mas o desejo de retribuir uma violência sofrida - especialmente no caso do 11/9, que deixou quase 3 mil mortos - nunca desaparece completamente. A simples exibição do rosto de Bin Laden na TV pode ter sido suficiente para fazer com que as pessoas saíssem da relativa indiferença e tomassem as ruas.
Assim, o desejo natural de vingança - satisfeito tão subitamente, liberando uma década de ansiedade contida, instigado pelos pares - se alimenta de si mesmo. A alegria evolui para um hino de vitória e a seguir para o desejo de subir nos postes e festejar. / 
* Articulista do  The New York Times
 TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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