Semana passada fui trabalhar de metrô todos os dias. Isso se tornou mais fácil com a abertura da estação Pinheiros do metrô. Não é a opção mais prática. Seria mais fácil pegar o ônibus na Cardeal Arcoverde, como vinha fazendo nos últimos anos. Mas, convenhamos, o metrô com uma linha novinha em folha é outra história. Embora a rota seja subterrânea, eleva meu espírito logo cedo. O transporte sobre trilhos é romântico.
Reconheço minha caipirice. Não é só o sotaque. Embora na Califórnia tenha sido criado em uma vila de 5 mil habitantes. Andar de metrô traz à flor da pele a experiência da cidade grande e essa sensação me deixa, ainda hoje, excitado que nem uma criança em passeio escolar. Gosto da voz sexy da moça quando anuncia: "Atenção passageiros, próxima estação: Pinheiros". Poucos segundos depois ela emenda com: "Estação..." E aí faz uma pausa dramática antes de anunciar que é a Pinheiros mesmo.
Estive no Japão ano passado. Chamou atenção o orgulho com que o povo de lá trata seus trens. É bonito isso. Não é só o Shinkansen, o lendário trem-bala, merecedor de toda sua fama. Essa obra de arte tem um lugar especial no coração do japonês, é verdade. Vendem hashis no formato longilíneo, branco e polido do Shinkansen em qualquer loja de conveniência - comprei vários. O orgulho nacional se estende ao conjunto da obra, aos trens comuns, muitos, aos metrôs de Tóquio, Nagoya e outras cidades do país do sol nascente. Vendem-se baralhos com fotos de trens diversos, cards e figurinhas. Todo tipo de lembrancinha.
Se digo isso, não é apenas para me gabar de ter conhecido o Japão (sou caipira, falei), mas porque entendi melhor o sentimento nipônico na semana passada. Existe metrô em São Paulo há décadas. Já andei muito nele. Mas a expansão criada a partir da linha amarela lhe deu uma feição mais completa. Orgulhei-me da nossa cidade. Não é sempre que ela nos dá esta oportunidade.
A nova linha não é perfeita. Acho mais inspirado o interior da estação Pinheiros do que o exterior, para dar um exemplo.
Tampouco devemos deixar de mencionar o fato de que a estação Consolação está localizada na Avenida Paulista, enquanto a estação Paulista fica na Consolação. Quem vive em São Paulo há anos, como eu, consegue driblar essa curiosidade geográfica. Pode vir a ser, até, uma pegadinha boa para os gringos que visitarem a cidade durante a Copa do Mundo em 2014, se é que sai o estádio do Corinthians a tempo (não quero ser chato, mas avisei aqui no Estadão há dois anos que estava atrasado... como diz Mario Prata, ninguém me ouve). Imagino argentinos, franceses e alemães perdidos lá perto do saudoso cinema Bela Artes - esse tragado pela estupidez humana -, com guias de viagem e telefones inteligentes nas mãos e expressões de incompreensão nas caras.
Não adianta perguntar onde fica a Consolação para quem busca a estação homônima. Tal indagação só vai gerar mais confusão. Se perguntar da Paulista, então, o espiral aos infernos do desentendimento será completo. A certa altura da Copa, aquele cruzamento talvez fique entulhado de estrangeiros perdidos. Será um bom ponto para os vendedores ambulantes.
Tudo isso para dizer que a nova linha de metrô torna mais fácil realizar o pedestrianismo 2.0, que considero a melhor maneira de andar em São Paulo. Consiste em consultar sempre o Google maps pela internet. Ele ensina os melhores caminhos. Cabe ao pedestre fazer uma combinação de ônibus, metrô, trem (sim, é ótimo) e táxis para chegar ao destino. E largar esse último para andar a pé quando o engarrafamento estiver próximo. Dessa forma é possível evitar o trânsito. Liberdade é isso na cidade grande. Sair do Baixo Pinheiros e chegar à Avenida Paulista em alguns minutos não tem preço. O povo da Associação de Bairro de Higienópolis não sabe o que está perdendo.
* Articulista do jornal O Estado de São Paulo
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