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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Woody Allen lança novo filme em Cannes

Luiz Carlos Merten*
Palavra de Thierry Frémaux - o delegado geral do Festival de Cannes, o homem que assina a programação da seleção oficial, não deixa por menos. Ele assistiu a 1.775 filmes ao longo do ano para chegar aos 50 que integram a competição, a mostra Um Certain Regard (e que passam fora de concurso em ambas as manifestações). Frémaux viu uma melhora considerável nos filmes que lhe foram enviados. Ele está otimista quanto ao que chama de "renovação" do cinema atual. E ele explica - a seleção de um grande festival de Cannes envolve um conceito, o que preside as escolhas, e muitas hipóteses. Os filmes vão satisfazer?
Valery Hache/AFPÀ Meia-Noite. O ator Owen Wilson entre Woody Allen (E) e a atriz canadense Rachel McAdams: festejando o amor em Paris
O primeiro, que abriu fora de concurso o 64.º festival, foi bem recebido pelo público festivalier. Não é um público comum, mas jornalistas - e críticos - de todo o mundo. Sorriram e aplaudiram Meia Noite em Paris em cena aberta. Woody Allen confessou que, antes do filme, lhe veio o título. Ele adorou Meia Noite em Paris. Não fazia a menor ideia do que ia ocorrer nesse horário. E, então, um dia, passeando pela cidade, lhe surgiu a ideia. Owen Wilson, mais Woody Allen do que o próprio, faz um roteirista de Hollywood que vai à capital francesa com a namorada (Rachel McAdams) e os pais dela. Ele sonha escrever um grande romance, mas está bloqueado. À meia-noite, ele está no meio da rua, cansado. Recosta-se numa escada e aí, pode ser um sonho, surge esse estranho carro, qual uma carruagem de contos de fadas, que o leva a um encontro com as figuras míticas da literatura do século 20.
Paris é uma festa, ou melhor, continua uma festa, Owen Wilson descobre relacionando-se com Scott e Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein (que vai fazer a crítica de seu livro não publicado). De repente, o círculo amplia-se - Pablo Picasso, Luis Buñuel, Man Ray. Quando a piada, que é o filme, parece que vai se esgotar, a entrada em cena de uma nova figura estelar reaviva o interesse. E há o mistério de Marion Cotillard. Ela faz essa amante de grandes pintores, que todos - Pablo, Modigliani e os outros - adoram pintar. O que representa essa viagem para Woody Allen? Durante todo o tempo, Owen Wilson parece querer fugir da época contemporânea, convencido de que a Paris dos anos 1920 é o mundo de sonho no qual gostaria de viver. Meia Noite em Paris é, até certo ponto, esse sonho. Mas o que o herói descobre é que a fuga é impossível. Somos todos prisioneiros da nossa época e o melhor a fazer é tirar proveito dela. É o que Owen Wilson descobre. Não adianta perder tempo sonhando com a deslumbrante Marion. Lea Seydoux, a princesa de Clèves de Christophe Honoré, é uma presença tão viva, tão carnal. E vive l"amour!
Meia Noite em Paris abriu em alto estilo o (ainda) maior evento de cinema do mundo. Desde a manhã de terça-feira, havia uma multidão acampada na frente do palais, com cadeiras, marmitas e o escambau. Centenas, milhares de pessoas que já guardavam seus lugares para ver, ontem à noite, Woody Allen e sua trupe subirem a escadaria. A montée des marches faz parte do cerimonial de Cannes. Pisar naquele tapete vermelho pode ser a glória para artistas de todo o mundo. Para a multidão, a glória é pode ver de perto e até merecer um olhar, um aperto de mão do seu astro ou estrela preferido(a).
Robert De Niro, o presidente do júri de 2011, repetiu o que, ano após ano, todos os presidentes de júri repetem. Eles querem ser surpreendidos. De onde virá a surpresa que vai arrebatar a Palma de Ouro deste ano? É prematuro arriscar, mas a seleção é cheia de grandes nomes ou de estreantes talentosos. Um monte de hipóteses, como diz Thierry Frémaux. Na portada do palais, a jovem Faye Dunaway é um assombro de beleza em Puzzle of a Downfall Child, de Jerry Shatzberg. Sua foto ornamenta o cartaz de 2011. O filme, em versão restaurada, é uma das atrações anunciadas de Cannes Classics. Ontem, a programação foi light. Muitas coletivas (a do júri, a de Woody Allen e a do principal homenageado deste ano, Bernardo Bertolucci). Woody Allen forneceu a abertura ideal - um autor de prestígio e, no elenco, a própria primeira-dama da França, Carla Bruni Sarkozy. Ah, sim, Carla é do ramo, mas o papel é pequeno, para não dizer insignificante. O verdadeiro tachã começa hoje.
*Jornalista de O Estado de São Paulo

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