Cássia Ferreira*
E se você desejasse profundamente uma coisa? E se essa coisa que você deseja profundamente acontecesse? O sonho de Gil, personagem de Owen Wilson no filme Meia Noite em Paris – que estreiou na última sexta-feira (17) –, é viver na capital francesa, na década de 1920. Em visita a cidade – em companhia da noiva Inez (Rachel McAdams) e seus pais, vividos por Kurt Fuller (Jonh, um conservador homem de negócios) e Mimi Kennedy (Helen, uma conservadora esposa de um homem de negócios) – ele consegue.
Gil é um escritor sonhador e Inez é pragmática, como uma boa norte-americana. Enquanto ela se prende às coisas práticas da vida, Gil idealiza viver em Paris e escrever seu grande romance. Ele vive a poesia daquelas ruas, que parecem estar em um estado constante de letargia, como se tivesse parado no tempo. A sequência inicial, formada pelas tomadas de Paris durante o dia até o adiantado da noite, em uma textura envelhecida da imagem, já dão indícios que o passado é o nosso destino.
A história começa à meia noite. Gil é levado a uma viagem fantástica, ao encontro dos grandes escritores os quais admira e que vão adaptando sua história real. O filme traz marcas da direção de Woody Allen, como sua leveza e a simplicidade do roteiro, bem como o modo de contar a história, com uma docilidade cômica e sem muitas afetações.
Gil deseja uma vida em uma Paris chuvosa dos anos 1920. Para ele, tudo que aconteceu naquela época é melhor do que acontece agora, no final da primeira década do segundo milênio. E ele vive lá até encontrar Adriana, personagem de vencedora do Oscar Marion Cotillard, jovem design que teve um relacionamento com Salvador Dali. Os dois vivem uma história de nostalgia, já que a Adriana prefere a Paris da Belle Epóque.
Woddy Allen promove uma leve fábula, tendo a capital francesa como pano de fundo. Para aqueles acostumados com Owen Wilson em tom pastelão, o ator convence como um escritor em crise e sonhador, “apaixonado pela fantasia”, como destaca Inez.
Na verdade, o filme trata da nossa eterna insatisfação com o presente, uma espécie de negação. Essa insatisfação é comum à existência humana. Sempre sentiremos saudades do tempo em que não vivemos. Uma discussão pertinente para nossa época, em que tudo é efêmero, rápido e se “desmancha” no ar.
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