Porta-voz da imprensa livre na Bahia, faleceu no dia 27/7 o jornalista e empresário João Falcão, que durante 25 anos marchou à frente do Jornal da Bahia – extinto em 1983, após resistir por anos à pressão promovida pelo então governador Antonio Carlos Magalhães.
Aos 92 anos, Falcão continuava ativo e lúcido e tinha assumido recentemente a cadeira 35 da Academia de Letras da Bahia. Natural de Feira de Santana, João da Costa Falcão nasceu em 24/11/1919, filho de Adnil e João Marinho Falcão. Por causa dos estudos, acabou vindo para a capital baiana, onde graduou-se na Faculdade Livre de Direito em 1942. As relações do tempo de faculdade abriram as portas para o Partido Comunista do Brasil (PCB), onde militou secretamente contra o Estado Novo.
Foi nesse ambiente que nasceu a revista comunista Seiva, primeira publicação brasileira a falar abertamente contra o nazifacismo. No ano seguinte, Falcão foi convocado a servir ao Exército, o que, é claro, não se realizou quando se revelaram suas atividades comunistas. Além de expulso e preso, o então advogado foi condenado a cinco anos de prisão. A caminhada no jornalismo ganhou mais força com a fundação do jornal O Momento, seguida da sua eleição para a Câmara Federal pelo PCB, como suplente do baiano Carlos Marighela. Com o fechamento do partido, João Falcão seguiu para a militância clandestina no Rio de Janeiro. Lá, cuidou da segurança de Luiz Carlos Prestes, em cuja biografia vinha trabalhando nos últimos meses antes de falecer.
De volta a Salvador em 1950, ingressa no mercado imobiliário e constrói o Edifício Antônio Ferreira, na Rua Chile, com projeto de Oscar Niemeyer.
A volta à vida pública vem em 1954, com a eleição para deputado federal pelo PTB. Esse seria seu último mandato, já que funda o Jornal da Bahia em 1958, do qual esteve à frente até 1983, quando o endividamento causado pela fuga de anunciantes durante o governo ACM venceu a batalha contra o diário. Na sua redação, foram formados ícones do jornalismo baiano, a exemplo de Florisvaldo Mattos, João Carlos Teixeira Gomes, Wilter Santiago, Flávio Costa e Glauber Rocha. Paralelamente, foi proprietário do Banco Baiano da Produção S.A. e da João Falcão Urbanizadora Ltda., além de ter ocupado a presidência do Banco de Desenvolvimento da Bahia.
João Falcão nunca abandonou as letras e, em 1988, publicou o livro de memórias ‘O Partido Comunista que eu conheci’. Depois disso, escreveu ‘A vida de João Marinho Falcão – Vitória de uma vida de trabalho’, onde narra a história do pai, ‘O Brasil e a 2ª Guerra Mundial’, ‘Não deixe esta chama se apagar – História do Jornal da Bahia’ e, por último, sua autobiografia, ‘Valeu a pena’.
O jornalista foi internado no Hospital Português no dia 25/7 e morreu dois dias depois, vítima de falência múltipla dos órgãos. Falcão era casado com Hyldeth Ferreira Falcão e deixou sete filhos, 21 netos e 11 bisnetos.
*Texto publicado no Jornal da Metrópole
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