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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A ignorância é abençoada?

Petrônio Portela Filho*
A situação é assustadora. Autópsias mostram que 75% dos homens que chegaram aos 85 anos tinham câncer de próstata mas morreram de outras causas.
Autópsias realizadas em homens com mais de 50 anos revelam que 30% deles tinham câncer de próstata.
Ou seja, a maioria dos homens idosos e grande parte dos cinquentões têm a forma benigna do câncer de próstata mas não sabem. Se soubessem, suas vidas seriam um inferno. A ignorância é uma bênção. Pois se trata de um tipo de câncer muitíssimo comum, raramente letal, pessimamente tratado pelos urologistas. Na maioria dos casos, não compensa tratar, pois o câncer permanece estável, sem incomodar o paciente ao contrário do tratamento (que deixa em muitos pacientes sequelas graves, como impotência e incontinência urinária).
O teste do PSA dá falso positivo em dois terços dos exames, caso em que exige uma biópsia altamente prejudicial à saúde do paciente. E quando o paciente de fato tem câncer, o teste falha em diagnosticar 1 em cada 6. Em resumo: o teste é horrivelmente impreciso.
Quando o PSA acerta ao diagnosticar o câncer de próstata agressivo, o diagnóstico acontece tarde demais (e os pacientes que fazem ou não o teste morrem na mesma proporção). Aliás, tais estatísticas já são bem conhecidas há vários anos.
Crítica semelhante se aplica ao exame de toque retal.
Sabendo de tudo isso, os urologistas vão continuar prescrevendo PSA e fazendo toque retal nos pacientes. Se não fizerem, um dia um paciente vai morrer de câncer de próstata e a família, com o apoio das organizações médicas, irá processar o médico por imperícia. A mesma coisa acontece no caso dos remédios para baixar o colesterol.
Se, ao contrário, o médico prescrever tratamentos ineficientes em sintonia com os consensos médicos, ele minimizará o risco de perder o diploma. O teste de PSA bem como os exames de colesterol vieram para ficar.
Alguns anos atrás, um Ministro da Saúde tentou eliminar a obrigatoriedade do exame rotineiro de toque retal (e ele estava amplamente respaldado na boa ciência), mas foi pressionado e teve que voltar atrás.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) também já divulgou comunicado contrário à aplicação rotineira de testes de PSA e toque retal mas teve que voltar atrás.
Felizmente a Organização Mundial da Saúde mantém a posição contrária à realização de testes de rastreamento para câncer de próstata.
*PHD em Economia

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