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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Os Descendentes: uma família em pedaços

Lais Cattassini*
“Meus amigos no continente acham que, porque eu moro no Havaí, eu vivo no paraíso. Como se nós aqui vivêssemos em férias permanentes, só bebendo Mai Tais, rebolando e surfando.” A frase que praticamente introduz o personagem Matt King, de Os Descendentes, é também a que melhor descreve o filme. Ninguém, nem mesmo quem mora em um suposto paraíso, está imune a problemas.
Matt, interpretado por George Clooney, tem problemas demais no momento. Sua mulher, Elizabeth, está em coma e ele precisa assumir, pela primeira vez, as responsabilidades de ser pai de duas adolescentes. Além disso, o advogado é responsável pela venda de um terreno valioso que pertence à sua família. Quando descobre que sua mulher não sairá do coma, Matt também descobre que estava sendo traído.
O que se inicia é uma jornada dupla. Matt e sua filha mais velha, Alexandra, partem para contar aos familiares e amigos que Elizabeth irá morrer e também para encontrar o homem com quem ela o estava traindo.
Tudo em Os Descendentes tem um peso duplo. Matt e Alexandra devem lidar com o luto de perder um ente querido e com a raiva que sentem por Elizabeth querer abandoná-los. O título também tem duplo sentido. O protagonista, descendente da realeza havaiana, deve lidar com os familiares para tomar uma decisão que afetará toda a ilha e também precisa aprender a se relacionar com as filhas, as suas próprias descendentes.
O filme foi indicado a 5 Oscars e ganhou dois Globos de Ouro, um para George Clooney, como melhor ator, e outro para melhor filme na categoria drama. De todas as categorias para as quais foi indicado ao Oscar, incluindo a de melhor filme, as grandes chances de Os Descendentes estão em melhor roteiro adaptado. A história é baseada no livro homônimo da havaiana Kaui Hart Hemmings e o roteiro foi brilhantemente adaptado pelo diretor Alexander Payne.
Maestria do elenco

Se o roteiro é ótimo, o elenco é ainda melhor. George Clooney está absolutamente confortável no papel, que mistura um pouco de comédia e drama. A jovem Shailene Woodley, que interpreta Alexandra, é uma grata surpresa. Aos 20 anos, a garota nunca tinha feito um grande papel no cinema, mas ela é um excelente complemento ao personagem de Clooney.

É Alexandra quem dá força ao pai e assume o papel de condutora de uma família que está se desmoronando, seja pela morte da mãe ou pela inabilidade do pai.
Assim como Matt, Alexandra também precisa lidar com a raiva que sente pela mãe. É ela quem descobre a traição e, mais tarde, conta ao pai o que viu. Mas até que ponto você pode guardar raiva e rancor de alguém que está morrendo? Alguém que não pode se desculpar ou se justificar? São os dois personagens que carregam a trama e os atores assumem os papéis com maestria.
Mas os coadjuvantes não são menos interessantes. Scottie, a filha mais nova de Matt, é vivida pela novata Amara Miller, que jamais havia trabalhado como atriz. Ao lado do jovem Nick Krause, que interpreta um dos amigos de Alexandra, Amara é responsável por algumas das cenas mais descontraídas e engraçadas do filme.
Os Descendentes se sustenta em três fortes aspectos: os personagens, vividos por ótimos atores, a história, simples e tocante, e o diretor, que já mostrou talento para contar esse tipo de drama. E é isso que faz o bom cinema. Não é necessário muito mais. Basta reunir um bom time de atores sob o comando de um diretor competente para contar uma boa história. E Os Descendentes tem isso de sobra.
*Crítica de cinema do Estadão

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