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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Rainha encara vida de chatice eterna com graça e dignidade

 Barbara Gancia*
São 60 anos de gloriosa torração de pacovás. Alguém tem noção do que isso significa? Desde o momento em que seu tio, o inconsequente Eduardo 8º, abdicou do trono para casar com uma divorciada, a então princesa Elizabeth foi condenada a viver uma vida de chatice eterna. E o feitiço se cumpriu.
Papas também levam vidas reclusas e assaz entediantes. Digamos que, excluindo um ou dois tipos como o dalai-lama e o Aga Khan, eles não encontram muita gente com quem parlamentar.
Mas ao menos o papa teve a chance de optar. Ele poderia ter sido carteiro se quisesse. Mudasse de ideia na hora da fumacinha branca, ele poderia sair-se com algum achado do tipo “vou ali comprar um bicho de pé e já volto”.
O mesmo se aplica a Michael Jackson e outros artistas mirins condenados a viver uma vida inteira de aporrinhação. Embora se sacrifiquem, eles se regozijam no talento, no prazer de fazer algo que nenhum de nós faz.
Que se saiba, Elizabeth 2ª não possui nenhum predicado que a torne singular além do berço esplêndido. Nesses anos todos, ninguém a pescou fazendo nada de extraordinário. A constância de sua mesmice parece ser sua maior virtude. A rainha nunca chama a atenção, nunca faz banzé. Só está lá, com graça e dignidade, para reassegurar a instituição e seus súditos.
Há 60 anos, Elizabeth jogou pela janela todas aquelas microglórias que nós conhecemos por pequenos prazeres da vida. Hoje nem tanto, mas aos 25 anos, a idade que tinha quando ascendeu ao trono, deve ter sido duro abdicar de certos deleites.
Quem sabe na época ela teria trocado os condados de Surrey e Sussex por um piquenique no Hyde Park, uma dança com o cara errado, uma happy hour no pub, uma compra de impulso na Selfridge’s, um passe do metrô de Londres. Ou por vestir um decote mais ousado.
Mas não. Elizabeth é única. Nem as outras rainhas da Europa têm qualquer coisa a ver com ela. Nenhuma é chefe da igreja, toma conta da Commonwealth ou é a mulher mais famosa do mundo.
Para tentar dar sentido ao seu universo maluco, a rainha passou a encarar o cargo como missão divina. Ao mesmo tempo, trata de desmitificar o trabalho. Considera-se nada mais do que uma funcionária pública: “Quando não precisarem mais de nós, faremos as malas e iremos”.
Mas, enquanto esse dia não vem -e lá vão 60 anos esperando-, ela trata de remendar, com grande êxito segundo as pesquisas, o estrago de relações públicas causado pela nora, Diana -os filmes “A Rainha” e “O Discurso do Rei” certamente tiveram algo mais que apenas apoio moral do palácio real.
Craque em novas mídias (já admitiu passar horas diante do micro todo dia), ela continua comendo ovos mexidos no escritório anexo ao quarto no Palácio de Buckingham e fazendo as palavras cruzadas do “Daily Telegraph”.
Ultimamente, sua maior preocupação é a saúde do príncipe Philip, recentemente hospitalizado. É difícil prever quanto do jubileu ela irá conseguir aproveitar sem a presença do marido.
*Barbara Gancia é colunista da ‘Folha’.

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