Uma pesquisa recentemente publicada pelo mais importante Jornal brasileiro, a Folha de São Paulo, nos indica que o símbolo do pai não basta mais para sustentar a unidade de um país tão grande quanto o Brasil. E isso na contracorrente de países da América do Sul, como a Venezuela ou a Bolívia, em que apesar da oposição crescente, o estilo populista ainda está presente.
A pesquisa mostra que a popularidade da Presidente Dilma, ao final de seu primeiro ano de mandato, é superior ao mesmo período do exercício de Lula. Enquanto este havia conseguido 50% de aprovação após um ano de governo, Dilma (quase uma desconhecida dos 200 milhões de brasileiros há apenas dois anos), possui hoje uma cota de popularidade em torno dos 60%.
O estilo Dilma é o oposto ao de Lula. Ela encarna por excelência a mulher-medusa, que faz tremer mesmo o chefe das forças armadas. A discrição e a busca de resultados são a regra. No que tange a diplomacia anterior a ruptura é evidente, tal como demonstra a mudança radical das relações com Ahmadinejad, mais do que ambíguas à época de Lula.
Os resultados desta pesquisa surgem no mesmo momento em que Francis Fukuyama, em um artigo publicado no último número da revista Foreign Affairs, revisita – e isso para a grande surpresa de seus leitores – sua própria posição sobre o Fim da história a partir de uma nova proposição de Futuro da história. Suas reflexões nos levam a interrogar diretamente o Brasil de hoje, já que a questão de Fukuyama é saber se a democracia liberal poderá sobreviver ao declínio da classe média. Sua resposta é bastante clara: é chegado o momento de devolver ao estado mais poder, o que não pode ocorrer, segundo ele, sem uma certa dose de populismo. Estaríamos diante de um fim do “Fim da história”? E seria a posição de Fukuyama a melhor chave de leitura para apreender o Brasil de hoje?
No Brasil, a análise da questão nos aponta, ao contrário, para um certo desgaste do modelo carismático de Lula (um tanto quanto revestido de populismo). Este modelo é percebido no momento atual como uma porta aberta aos arranjos políticos duvidosos e aos escândalos de financiamento de campanhas eleitorais. A classe média cresce sem parar, mesmo se os programas lançados para erradicar a pobreza fracassaram. O fracasso do sistema brasileiro é decorrente da formidável complexidade da gestão burocrática e da ascensão cada vez maior das instâncias que fiscalizam e denunciam qualquer irregularidade, e isto sem discernir má fé de incapacidade de gestão.
Desse modo, o futuro dos grandes projetos para fortalecer a nova classe média foi fortemente ameaçado. O sonho liberal dos anos 90 deveria ter sido acompanhado de uma resposta ágil da máquina burocrática na execução de trabalhos de infraestrutura, sobretudo na esfera de energia e de saneamento de águas. É sabido que um dólar gasto com saneamento poupa quatro dólares gastos pelo sistema de saúde. Ora, uma vez que ninguém sabe como desenvolver políticas nacionais para aproveitar a onda de desenvolvimento que banha uma década de ouro, faz-se apelo ao mestre avaliador. Ao invés de investir no desenvolvimento do sistema de gestão pública gasta-se fortunas aumentando cada vez mais os salários de todo o dispositivo jurídico de vigilância. E será que isto impede ou freia a corrupção? Na prática os resultados são decepcionantes.
Entretanto, cada vez mais, os administradores públicos dos hospitais e prefeituras das pequenas cidades são punidos por “desvios” de gestão. Na maioria das vezes, esses agentes assumem postos sem ser capazes de enfrentar as normas. cada vez mais complexas. da burocracia e do olhar vigilante, e passam a ser vistos como os grandes vilões que impedem o desenvolvimento de um futuro promissor, herdeiros de um sistema corrupto desde o nascimento. As licitações são exigidas para tudo, mas o tempo necessário para que uma licitação chegue ao final é em média de quatro meses. Contudo, é praticamente impossível prever com quatro meses de antecedência todas as necessidades de compra de uma pequena cidade, por exemplo, quando é sabido que o nível de escolaridade dos prefeitos e servidores públicos nas pequenas cidades é muito baixo.
A aspiração de se tornar um herói da denúncia, desse modo, passou a se constituir como um traço de identificação que agrupa os melhores jovens advogados brasileiros. Contudo, não se trata apenas de uma questão de ideais, já que no Brasil o judiciário oferece os melhores salários da burocracia (um jovem juiz ou procurador pode ganhar o mesmo salário da presidente da república). Na contracorrente, os funcionários públicos encarregados da gestão dos hospitais, das escolas ou qualquer outro órgão público, são mal pagos e extremamente policiados. As exigências dos órgãos de controle tornam a gestão praticamente impossível: é Davi contra Golias. De um lado um diretor de um órgão público mal preparado, com um salario muito baixo e controlado permanentemente; do outro, inúmeros órgãos de controle (incluindo uma imprensa ávida por escândalos), que abriga uma casta que recebe os melhores salários brasileiros, com agentes muito bem preparados, já que são provenientes de concursos públicos muito duros, e que fiscalizam e punem sem parar. Não chegamos ainda ao ponto da revolução cultural chinesa, mas não deixa de ser uma vertente inquietante do declínio do pai.
A pesquisa mostra que a popularidade da Presidente Dilma, ao final de seu primeiro ano de mandato, é superior ao mesmo período do exercício de Lula. Enquanto este havia conseguido 50% de aprovação após um ano de governo, Dilma (quase uma desconhecida dos 200 milhões de brasileiros há apenas dois anos), possui hoje uma cota de popularidade em torno dos 60%.
O estilo Dilma é o oposto ao de Lula. Ela encarna por excelência a mulher-medusa, que faz tremer mesmo o chefe das forças armadas. A discrição e a busca de resultados são a regra. No que tange a diplomacia anterior a ruptura é evidente, tal como demonstra a mudança radical das relações com Ahmadinejad, mais do que ambíguas à época de Lula.
Os resultados desta pesquisa surgem no mesmo momento em que Francis Fukuyama, em um artigo publicado no último número da revista Foreign Affairs, revisita – e isso para a grande surpresa de seus leitores – sua própria posição sobre o Fim da história a partir de uma nova proposição de Futuro da história. Suas reflexões nos levam a interrogar diretamente o Brasil de hoje, já que a questão de Fukuyama é saber se a democracia liberal poderá sobreviver ao declínio da classe média. Sua resposta é bastante clara: é chegado o momento de devolver ao estado mais poder, o que não pode ocorrer, segundo ele, sem uma certa dose de populismo. Estaríamos diante de um fim do “Fim da história”? E seria a posição de Fukuyama a melhor chave de leitura para apreender o Brasil de hoje?
No Brasil, a análise da questão nos aponta, ao contrário, para um certo desgaste do modelo carismático de Lula (um tanto quanto revestido de populismo). Este modelo é percebido no momento atual como uma porta aberta aos arranjos políticos duvidosos e aos escândalos de financiamento de campanhas eleitorais. A classe média cresce sem parar, mesmo se os programas lançados para erradicar a pobreza fracassaram. O fracasso do sistema brasileiro é decorrente da formidável complexidade da gestão burocrática e da ascensão cada vez maior das instâncias que fiscalizam e denunciam qualquer irregularidade, e isto sem discernir má fé de incapacidade de gestão.
Desse modo, o futuro dos grandes projetos para fortalecer a nova classe média foi fortemente ameaçado. O sonho liberal dos anos 90 deveria ter sido acompanhado de uma resposta ágil da máquina burocrática na execução de trabalhos de infraestrutura, sobretudo na esfera de energia e de saneamento de águas. É sabido que um dólar gasto com saneamento poupa quatro dólares gastos pelo sistema de saúde. Ora, uma vez que ninguém sabe como desenvolver políticas nacionais para aproveitar a onda de desenvolvimento que banha uma década de ouro, faz-se apelo ao mestre avaliador. Ao invés de investir no desenvolvimento do sistema de gestão pública gasta-se fortunas aumentando cada vez mais os salários de todo o dispositivo jurídico de vigilância. E será que isto impede ou freia a corrupção? Na prática os resultados são decepcionantes.
Entretanto, cada vez mais, os administradores públicos dos hospitais e prefeituras das pequenas cidades são punidos por “desvios” de gestão. Na maioria das vezes, esses agentes assumem postos sem ser capazes de enfrentar as normas. cada vez mais complexas. da burocracia e do olhar vigilante, e passam a ser vistos como os grandes vilões que impedem o desenvolvimento de um futuro promissor, herdeiros de um sistema corrupto desde o nascimento. As licitações são exigidas para tudo, mas o tempo necessário para que uma licitação chegue ao final é em média de quatro meses. Contudo, é praticamente impossível prever com quatro meses de antecedência todas as necessidades de compra de uma pequena cidade, por exemplo, quando é sabido que o nível de escolaridade dos prefeitos e servidores públicos nas pequenas cidades é muito baixo.
A aspiração de se tornar um herói da denúncia, desse modo, passou a se constituir como um traço de identificação que agrupa os melhores jovens advogados brasileiros. Contudo, não se trata apenas de uma questão de ideais, já que no Brasil o judiciário oferece os melhores salários da burocracia (um jovem juiz ou procurador pode ganhar o mesmo salário da presidente da república). Na contracorrente, os funcionários públicos encarregados da gestão dos hospitais, das escolas ou qualquer outro órgão público, são mal pagos e extremamente policiados. As exigências dos órgãos de controle tornam a gestão praticamente impossível: é Davi contra Golias. De um lado um diretor de um órgão público mal preparado, com um salario muito baixo e controlado permanentemente; do outro, inúmeros órgãos de controle (incluindo uma imprensa ávida por escândalos), que abriga uma casta que recebe os melhores salários brasileiros, com agentes muito bem preparados, já que são provenientes de concursos públicos muito duros, e que fiscalizam e punem sem parar. Não chegamos ainda ao ponto da revolução cultural chinesa, mas não deixa de ser uma vertente inquietante do declínio do pai.
* Marcelo Veras é psicanalista
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