Osvaldo Campos
Magalhães*
Elaborado há mais de 15 anos pelo Governo da Bahia, o Plano
de Fomento do Vale do São Francisco, permanece esquecido, enquanto outros
projetos não tão relevantes para o desenvolvimento da Bahia, como o da ponte
Salvador Itaparica, recebem vultosos recursos públicos.
Partindo da premissa que a revitalização da hidrovia do rio
São Francisco, inicialmente entre as cidades de Ibotirama e Juazeiro e depois,
chegando até Pirapora em Minas Gerais, seria o ponto de partida para fomentar o
desenvolvimento de uma vasta região do estado, onde vivem mais de seis milhões
de baianos, a grande maioria ainda em precárias condições sociais e econômicas,
o Plano de Fomento do São Francisco ganha nova oportunidade com o estudo que
vem sendo desenvolvido pelo Banco Mundial.
Em workshop realizando entre os dias 9 e 11 de abril em
Salvador, que contou com a presença de produtores agrícolas, industriais,
técnicos do governo e do Banco Mundial, foram apresentados os mais recentes
estudos e dados sobre o projeto do Corredor Multimodal de Transportes do Vale
do São Francisco.
Atualmente, as condições de navegação no rio estão muito
precárias, e, apenas uma empresa, a ICOFORT, permanece movimentando cargas na
hidrovia, transportando apenas cerca de 50 mil toneladas de caroço de algodão. A
Caramuru, líder na distribuição de derivados de milho e soja no Nordeste
desativou a unidade industrial que operava na região e o transporte de soja que
realizava na hidrovia. Também adiou os investimentos numa nova unidade
industrial que seria implantada em Juazeiro, devido às precárias condições de
navegação na hidrovia. O desmatamento das matas ciliares nas margens do rio, provocando
assoreamento, as restrições hidrológicas e a falta de investimentos públicos na
manutenção do canal de navegação podem provocar a completa desativação do
transporte de cargas na hidrovia.
Por outro lado, segundo dados apresentados pelo presidente da
AIBA, Associação que reúne Irrigantes e Produtores do Oeste da Bahia, cerca de
4.5 milhões de toneladas de grãos produzidos no oeste baiano e que se destinam
ao mercado nordestino poderia utilizar o modal hidroviário, no trecho Ibotirama
Juazeiro, viabilizando economicamente a hidrovia do rio São Francisco e
possibilitando o resgate do Plano de Fomento do São Francisco.
A principal dificuldade apresentadas durante o workshop em
Salvador, para reativar a hidrovia, foi o enorme emaranhado de órgãos públicos
que atuam no setor, e, uma das alternativas apresentadas no workshop, seria a
liderança do Governo da Bahia, viabilizando o trecho inicial entre Ibotirama e
Juazeiro.
Ao longo dos últimos 20 anos, a hidrovia do rio São Francisco
sempre foi incluída entre os projetos de infraestrutura do Governo Federal.
Recebeu recursos dos programas Brasil em Ação e do Avança Brasil, durante o
governo FHC e dos PAC I e II nos governos Lula e Dilma. A forma como estes
recursos foram aplicados merece uma indagação. Faz-se necessária a liderança do
governo da Bahia e um rígido controle dos investimentos a serem realizados.
O Banco Mundial se
dispõe a financiar o projeto que deve ser encarado como uma grande oportunidade
de promover uma vasta região do semiárido baiano. Inicialmente o setor público
realizaria os investimentos, com o apoio do Banco, realizando dragagem,
derrocamento de pedrais e reconstituição das matas ciliares. Posteriormente o
setor privado assumiria a operação da hidrovia e dos terminais portuários.
Faz-se necessário também impedir a desativação do trecho ferroviário entre
Juazeiro e o porto de Aratu.
Num momento de definição das candidaturas ao Governo do
Estado, o resgaste do Plano de Fomento do Vale do São Francisco e sua
incorporação aos Planos de Governo que serão apresentados pelos candidatos
tornam-se de extrema relevância para o desenvolvimento da Bahia.
O apoio do Banco Mundial ao projeto e o engajamento dos
produtores agrícolas e dos industriais é uma garantia para a viabilização que
necessita de uma forte liderança do governo da Bahia.
*Membro do Conselho de
Infraestrutura da FIEB
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