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segunda-feira, 9 de junho de 2014

E o pior aconteceu

João Bosco Rabello*
Dois dados na pesquisa Datafolha a elegeram, entre os políticos, como a pior de todas para a presidente Dilma Rousseff: o crescimento do pessimismo com a economia e a redução para 8% da diferença entre ela e o senador Aécio Neves, do PSDB, num segundo turno - a essa altura dado como favas contadas.
O pessimismo com a economia, que cresceu oito pontos em relação à pesquisa anterior, de maio, se assenta na percepção da inflação, com a qual estabelece uma relação de causa e efeito. Como diagnosticou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, "o longo prazo chegou".
A alta de preços, que afeta o cotidiano do cidadão, puxa o desencanto com o governo, cujo índice de aprovação caiu a 33% - tecnicamente o mesmo índice de intenção de votos na presidente (34%), três pontos a menos em comparação com a consulta anterior.
Uma subconta da pesquisa permite que a perspectiva negativa em relação à economia seja ainda agravada: aos 36% que estimam a piora nesse campo, é válido acrescentar outros 32% que acham que tudo vai ficar como está hoje. Ou seja, não piora o que já está ruim, o que não ajuda a vida da presidente.
Não por outra razão, o ex-presidente Lula reage a esse aspecto da pesquisa criticando as restrições impostas pela alta da inflação e pressionando por mais crédito para um contribuinte que vê o dinheiro acabar antes do mês e ainda paga as dívidas da farra consumista estimulada pelo governo.
A cobrança de Lula é pela renovação da anestesia e expõe a visão manipuladora do PT na economia. Para o ex-presidente, fiel ao método simplório de abordagem de temas complexos, tudo se prende à decisão de eliminar a "mentalidade de tesoureiro" do secretário do Tesouro Arno Augustin, "para gastar mais um pouco”.
É a inflação como causa que retira da pesquisa de agora seu caráter de fotografia do momento para projetá-la como uma planilha de dados consistente, de difícil reversão em um ambiente já contaminado pela insatisfação geral com a precariedade dos serviços públicos. O que ainda não faltava, o dinheiro fácil do crédito farto, agora falta.
Nesse contexto, a angústia do PT aumenta com o crescimento de Aécio Neves entre os eleitores que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo (de 27 para 31%), quesito em que Campos caiu de 15% para 10%, indicando a consolidação do tucano como o candidato da oposição.
O que põe em xeque a aposta de Campos na votação de Marina Silva em 2010, um ativo que parece intransferível e que começa a merecer a releitura de sua natureza, mais para voto de protesto do que de adesão a uma proposta reformista.
*Articulista de O Estado de São Paulo

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