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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Alberto Youssef acusa tesoureiro do PT

 André Guilherme Vieira | De São Paulo


Sérgio Lima/Folhapress
Vaccari: diretório nacional do PT divulgou nota de repúdio em que repudia "com veemência e indignação" as acusações

Acusado de ser o operador financeiro do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro rastreado pela operação Lava-Jato na diretoria de Abastecimento da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef afirmou em interrogatório à Justiça Federal do Paraná que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto e o lobista Fernando Soares - ligado ao PMDB, segundo a investigação - operavam esquemas paralelos que correspondiam a 60% dos desvios de recursos na Petrobras: "Eu não operei em outra diretoria, mas eu sei que existiam os mesmos moldes em outras diretorias", afirmou. Questionado pelo juiz como tinha conhecimento dos outros supostos esquemas, explicou: "Eu sei por conta dos próprios empreiteiros, os próprios operadores, no caso o Fernando Soares. Em todas as áreas, tanto na internacional como na de serviços", respondeu.
Youssef foi categórico ao afirmar que Vaccari e Soares atuavam também na diretoria de Abastecimento: "Sim eles operavam também".
Youssef afirmou que os políticos envolvidos na nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento da Petrobras em 2004 travaram a pauta do Congresso por três meses, de modo a forçar o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a homologar a nomeação.
"Na época era o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele ficou louco, teve que ceder e realmente empossar o Paulo Roberto na diretoria de Abastecimento", afirmou.
Ex-diretor da Petrobras por oito anos, Costa admitiu em juízo que foi indicado pelo PP e explicou durante interrogatório que 3% do valor dos contratos eram para propina dos "agentes políticos", e que as obras chegavam a ter superfaturamento de 20%: "Quem não pagava não participava", disse. "Na área de petróleo e gás essas empresas, normalmente entre os custos indiretos e o seu lucro, o chamado BDI, elas colocam algo entre 10% a 20% dependendo da obra, dos riscos, da condição do projeto. Nas obras da Petrobras o BDI era 15%, por exemplo, então se colocava 3% a mais alocado para agentes políticos", descreveu ao juiz Sergio Moro, que não decretou segredo de Justiça nos depoimentos dos réus - registrados em vídeo - por entender tratar-se de assunto de interesse público.
Youssef resumiu o "fracionamento" da propina que seria paga com recursos da Petrobras: "Eram 1% de todos os contratos, 30% para doutor Paulo Roberto, 60% para agentes políticos, 5% para mim e 5% era para João Claudio Genu", explicou. Genu, condenado no mensalão por corrupção e lavagem de dinheiro, era assessor parlamentar do PP.
Ele descreveu detalhes do que afirmou ser um esquema de cartel envolvendo 13 empresas, entre as quais as maiores construtoras do país: Camargo Corrêa, OAS, UTC, Odebrecht, Queiroz Galvão, Toyo Setal, Galvão Engenharia, Andrade Gutierrez, Mendes Júnior, Engevix, Tomé Engenharia, Jaraguá Equipamentos e Engesa. "Todas elas pagam 1% nos contratos feitos com a diretoria de Abastecimento e de 2% a 5% nos termos aditivos de contratos", relatou Youssef ao juízo criminal.
"Era entregue uma lista dos que iam participar no certame e já era dito quem ia ser o vencedor. Era repassada pelo Paulo Roberto Costa", afirmou o doleiro.
"Podia chegar de 2% a 5%, a proporção era a mesma dos repasses", esclareceu. Ele também explicou como o caixa dois era dividido: "Eram 1% de todos contratos: 30% para doutor Paulo Roberto, 60% para agentes políticos, 5% para mim e 5% era para João Claudio Genu [então assessor parlamentar do PP e do deputado federal já falecido,José Janene]", disse. Genu foi condenado no mensalão.
Youssef reputou à Odebrecht e à Toyo pagamentos de comissões praticados no exterior. Afirmou que o vice-presidente e um diretor da Camargo Corrêa também eram remunerados nos contratos fraudados. O doleiro disse que diretores da Camargo Corrêa faziam retiradas em dinheiro vivo.
Youssef contou que a propina controlada por Costa também serviu ao caixa dois de PMDB e PT. "Paulo Roberto fatiava um pouco os recebimentos de obras porque também tinha que atender o PMDB ou o PT", afirmou.
Ele disse haver ao menos outros quatro operadores que atuavam em outras diretorias e áreas da Petrobras, em esquema semelhante de corrupção.
Também confirmou que as planilhas apreendidas em seu computador pela Polícia Federal contabilizam as propinas pagas pela construtora Camargo Corrêa, via fornecedora de tubos Sanko-Sider e pelas empresas de fachada abertas por ele, como a MO Laudos e GFD. Ele disse que sua contabilidade inclui valores movimentados, comissões e repasses acertados no esquema.
Em seu relato, Costa afirmou ainda que a formação de cartéis entre as grandes empresas do país para fazer condução de obras não é exclusividade da Petrobras: " Existe em ferrovias, portos e aeroportos", afirmou
Ele falou que o "acordo prévio" entre empresas e o superfaturamento ficou evidente na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco: "Quando começou essa atividade, ficou claro para mim a existência desse acordo prévio entre as companhias em relação às obras", falou. "Existia claramente. Isso me foi dito por algumas empresas e presidentes de suas companhias de forma muito clara, que havia uma escolha de obras dentro da Petrobras e fora da Petrobras", revelou. "Por exemplo, usina hidrelétrica de tal lugar, nesse momento qual empresa está disponível para fazer? E essa cartelização obviamente que resulta num 'delta preço' [variação do valor da obra] excedente."
O ex-diretor indicou nomes de seus supostos contatos em empreiteiras: "Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC, Andrade Gutierrez, Iesa, Engevix, Mendes Jr", listou.
Disse que tratava diretamente com diretores e presidentes dessas empresas. "Na Camargo Corrêa tratava-se com o Eduardo Leite". "OAS, Leo Pinheiro".
Afirmou que na UTC tratava com Ricardo Pessoa; Na Odebrecht com Rogério Araújo e Marcio Faria. Na Queiroz Galvão com Hildefonso Colares, afirmou.
Na Toyo Setal com Júlio Camargo. Sobre o contato na Galvão Engenharia respondeu ser pessoa chamada Herton.
Na empreiteira Andrade Gutierrez Costa disse não se recordar do nome de quem tratava inicialmente. "Depois, Paulo Dalmaso", falou.
Sobre a Iesa alegou não se recordar. "Não estou lembrando, está no depoimento do Ministério Público [Federal]".
Costa disse que o contato na Engevix era Gérson Almada e afirmou que o cartel de empreiteiras atuava em outras diretorias da Petrobras, além da de Abastecimento.
Ele indicou nomes de diretores que alega estarem envolvidos no esquema: "Na área de serviços foi o [Renato] Duque, que foi indicado na época pelo ministro da Casa Civil José Dirceu. Ele tinha essa ligação com o João Vaccari dentro desse processo do PT", afirmou. "O [Nestor] Cerveró foi indicado por um político e tinha uma ligação muito forte com o PMDB", disse.
Ao ser perguntado se Duque e Cerveró também recebiam propina, respondeu: "Claro que sim"
Procurado, o ex-presidente Lula não quis comentar as declarações. A Secretaria Nacional de Finanças do PT informou que "o secretário João Vaccari Neto nunca tratou sobre contribuições financeiras do partido, ou de qualquer outro assunto, com o sr. Paulo Roberto Costa".
O diretório nacional do PT divulgou nota de repúdio "com veemência e indignação as declarações caluniosas" de Costa.
A Odebrecht disse que "nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras e por doleiro réu no mesmo caso"
A Andrade Gutierrez informou que as declarações de Costa e Youssef isentam a companhia de envolvimento na investigação.
A Mendes Júnior disse que não se pronuncia sobre processos em andamento.
A Engevix diz que se colocou à disposição das autoridades e irá contribuir com a investigação.
A Sanko-Sider disse que os depoimentos mostram que a empresa foi equivocadamente acusada.
Uma fonte próxima à Iesa disse que Costa não lembrou o nome do contato na empresa porque ele [o contato] nunca existiu.
Procuradas pela reportagem, OAS e UTC não se pronunciaram.
O Consórcio CNCC afirmou repudiar as acusações sem prova contra o consórcio e seus executivos. Representantes de Toyo, Tomé Engenharia não se manifestaram.

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