Murillo Camarotto | Valor Economico

O decreto 8.033/13, que regulamentou a nova Lei dos Portos (12.815/13), determina que os interessados em construir ou operar terminais enviem uma lista de documentos para a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). É o que dá a partida no processo. A partir do recebimento dos papéis, tem dez dias para publicar no Diário Oficial da União uma consulta a eventuais outros interessados no mesmo empreendimento. Entretanto, um levantamento feito pelo Valor com as solicitações enviadas após a nova legislação entrar em vigor mostra que a publicação pode demorar mais de 200 dias.
Desde junho de 2013, foram encaminhados à autarquia 27 pedidos, cujos projetos somam pelo menos R$ 3,3 bilhões em investimentos. Desses, apenas um foi publicado no Diário Oficial dentro do prazo previsto na lei. O atraso nos demais resulta em uma espera média de mais de 100 dias, situação que, para alguns empresários, pode atrasar os investimentos.Na maioria dos casos, entretanto, a culpa recai sobre os próprios empreendedores, que raramente enviam a documentação completa para a Antaq. É o que explica o diretor-geral da autarquia, Mario Povia. "O prazo de dez dias é considerado a partir da documentação completa. Muitas vezes o empresário quer fazer um terminal, mas não manda nem sequer a planta. Precisamos de um hall de informações essenciais", esclarece o dirigente. "Quando isso acontece, temos cumprido rigorosamente".
A Camorim Serviços Marítimos protocolou em 10 de junho de 2014 um pedido de autorização para explorar um TUP na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, onde pretende investir R$ 13,5 milhões. A publicação do interesse no Diário Oficial, entretanto, só ocorreu em 7 de janeiro deste ano, após quase 200 dias.
"A Antaq exigiu mais documentação e, por conta da lentidão, outros documentos acabaram expirando. Para completar, nós esquecemos de anexar o termo de responsabilidade técnica. Existiu atraso, mas acredito que por culpa dos dois [empresa e Antaq], reconhece o diretor da Camorim, Cláudio de Souza Brito. Para ele, a simplificação do processo poderia agilizar os investimentos.
Dois dos principais pedidos encaminhados recentemente têm relação com empresas controladas pelo grupo americano Edison Chouest. A construção de uma base de apoio logístico offshore na praia da Gamboa, em Itapemirim (ES), tem investimentos previstos de mais de R$ 900 milhões e foi requerida à Antaq em 27 de março de 2014. A publicação, porém, só aconteceu 65 dias depois, em 2 de junho.
Outro projeto semelhante está sendo tocado pelo mesmo grupo no Porto do Açu, no Rio, com estimativa de investimentos da ordem de R$ 282 milhões. Questionado sobre os 77 dias entre o pedido e a publicação no Diário Oficial, o gerente de produção da Chouest, Rafael Silva, reforça a tese da documentação insuficiente. "Sempre pedem mais documentos. A gente até levanta tudo com antecedência, para evitar atrasos no investimento, mas eles acabam acontecendo", diz.
Os empresários também apontam problemas nas etapas posteriores à publicação dos pleitos no Diário Oficial. O presidente da Associação dos Terminais Portuários Privados (ATP), Murillo Barbosa, cita a aprovação do local dos empreendimentos como uma das mais morosas. Povia, da Antaq, lembra que o envio dos termos de referência necessários para o licenciamento ambiental dos terminais também costuma gerar.
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