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sábado, 5 de setembro de 2015

Mujica e a nau dos insensatos


Vitor Hugo Soares*

O ex-presidente do Uruguai esteve no Brasil semana passada. São comoventes e exemplares algumas imagens que José "Pepe" Mujica deixou no rastro da sua passagem. Somadas com atitudes e palavras em atos e encontros durante a visita para não esquecer.
Principalmente o ex-presidente Lula e a atual ocupante do Palácio do Planalto, mas também políticos do principal partido de "sustentação" aos atuais donos do poder e outras legendas, grupos de interesses e figuras que o cercam na hora em que o governo e seus principais personagens cada vez mais se assemelham ao painel humano e político retratado em "A Nau dos Insensatos" (Ship of Fools), célebre romance de Katherine Anne Porter, depois levado às telas por Stanley Kramer, em filme cultuado há mais de 50 anos.
Os dois flagrantes fotográficos são do diário espanhol El País (edição do Brasil). Ilustram o texto da excelente reportagem assinada por Felipe Betim sobre o fim de semana, brasileiro, de Mujica.
A mais impressionante (e alentadora), mostra o ex-dirigente uruguaio brilhando como um astro pop no Rio de Janeiro. Em época de tanta desilusão política, quase 10 mil jovens lotaram a concha acústica da UFRJ, para ver, ouvir e aplaudir o visitante.
Na outra fotografia, colhido em São Paulo, durante um seminário internacional, aparece Lula agarrado na cintura do ex-colega, enquanto Mujica o encara com ar que mistura surpresa e desalento. A cena passa a inevitável mensagem de "abraço de afogado", que constrange. Nas duas cenas, no entanto, Pepe Mujica é o foco estelar. Um incrível senhor de 80 anos, tipo pacato, normal, que dá um show de sensatez, decência e grandeza modelar de figura humana e homem público. No Brasil, faz quase um sermão de avô, e a explicação para tamanho sucesso é tão simples quanto sua figura e suas palavras (à parte, é claro, registra o jornal espanhol, que ele regulamentou o uso da maconha em seu país): “Existem determinados elementos do nosso cotidiano político que deixaram de ser naturais e se tornaram insultantes".
Pelos padrões atuais da política brasileira, em especial os do petismo no poder, o líder uruguaio e global tinha tudo para não dar certo. Descreve o repórter Felipe Betim: "José "Pepe" Mujica anda encurvado, devagar. Dirige um Fusca, veste um terno meio surrado, não corta a unha do pé, possui uma pança imensa e evita a todo o momento o contato visual. Sua fala é mansa, doce. Diz coisas óbvias, sensatas, que qualquer outro velho camponês poderia dizer. A última no sábado passado, ao lado do ex-presidente Lula: "Os políticos devem aprender a viver como a maioria do país, não como a minoria". Na mosca!
Pego então um assento no avião da memória, e vou parar na beira do Rio da Prata. Tantas foram, que perdi a conta das vezes em que estive no Uruguai. Houve um tempo, quando trabalhava na sucursal do Jornal do Brasil, em Salvador, que marcava férias sempre para 1º de abril (reinavam ditaduras praticamente na América Latina inteira e aimplacável Operação Condor rondava solta). Sabia dos perigos e sobressaltos políticos e pessoais a que estava sujeito então. Mas valia a pena, pelo aprendizado do exemplo.
Na véspera do meu período de descanso começar a correr oficialmente, eu pegava um avião para Porto Alegre. À noite, na capital gaúcha, tomava o ônibus leito da "Puma" ou da "TTL" e, bem cedinho, na manhã seguinte, com a alma aos pulos, descia em Montevidéu: no histórico terminal bem no centro da capital sul americana, com lugar cativo para sempre no coração do jornalista desde a primeira chegada, nos anos 70, sob um frio de rachar, na companhia do saudoso amigo e brilhante advogado, Pedro Milton de Brito, depois compadre e presidente da OAB-BA, além de corajoso e destacado conselheiro federal da Ordem mais de uma vez, quando a OAB era símbolo e razão de orgulho entre as entidades de resistência democrática, sempre altiva e independente dos poderosos da vez .
A passagem me fez recordar das idas e vindas ao Uruguai. Das ruas de Montevidéu, seu povo, seus líderes, seus cafés povoados de exilados brasileiros (Brizola, Dagoberto Rodrigues, Paulo Cavalcante Valente, entre tantos outros e a gente do lugar nas mesas em volta - atenta, solidária, educada e generosa . Recordei também do amigo Pedro, um tipo de quem o líder uruguaio seguramente iria gostar e admirar, se é que não se bateram alguma vez em algum café, restaurante, bar ou calle na querida e acolhedora cidade à beira do Prata.
Alguém de palavras que incomodam, como um cisco no olho, acompanhadas de conduta pessoal que condiz com o que prega. Virtudes que fizeram com que esse ex-guerrilheiro Tupamaro (Tupas como a gente chamava então), tão normal e tão humano, alcançasse a presidência do Uruguai em 2009 e o status de guru e filósofo internacional de toda uma geração”. Que bom!
E quanta diferença do Brasil deste setembro dos insensatos discursos e ininteligíveis entrevistas da presidente Dilma. Ou do boneco inflado do ex-presidente Lula vestido de presidiário que percorre o pais e que faz tremer petistas só em pensar que o espantalho pode ser a maior atração civil do 7 de Setembro em Brasília e no resto do País, nos desfiles desta segunda-feira. A conferir.

Um comentário:

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