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quarta-feira, 16 de março de 2016

Dilma decidiu inflar Lula

Élio Gaspari*
Dizer que o 13 de março foi a maior manifestação política da história do país é pouco. Ao contrário dos grandes comícios das Diretas, as manifestações de domingo não tiveram participação relevante de governos estaduais, muito menos transporte gratuito. Isso para não mencionar o vexame dos tucanos que tentaram surfar a cena, foram para a avenida Paulista e ouviram o ronco da rua.
Em 1984, o palanque do comício da Sé tinha 120 metros quadrados e foi montado pela Paulistur. No do Rio, os palanques foram dois, um só para VIPs, mais um pódio e passarela para os artistas que se acomodavam num prédio próximo. Sinal dos tempos: em 1984, receando vaias da militância petista, o governador de São Paulo, Franco Montoro, chegou ao proscênio ao lado de Lula. (A cena foi coordenada pelo advogado Marcio Thomaz Bastos.) Passou o tempo e Lula, onipresente nas ruas com seus bonecos infláveis, foi convidado pela doutora Dilma para voltar a Brasília como regente do ocaso do governo e do PT.
O que houve no dia 13 foi povo na rua repudiando o governo e uma oligarquia ferida pela Lava Jato. A prova disso esteve na beatificação do juiz Sergio Moro. O paralelo com as Diretas resume-se a uma questão numérica, mas difere nos desdobramentos.
Nos dois casos, a iniciativa caduca se não conseguir dois terços dos votos dos deputados. Caducou em 1984, pois, apesar de ter conseguido 298 votos, faltaram-lhe 22. Hoje, 171 votos dos 513 deputados seriam suficientes para arquivar o pedido.
Admita-se que num improvável gesto de ousadia dos oligarcas, o impeachment seja mandado ao arquivo. Em 1984, o arquivamento da emenda fechou a porta. Hoje há outra. É a possibilidade da cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois processos têm origens diversas. O impedimento está ancorado nas pedaladas fiscais. O TSE julgará a conexão das contas da campanha da doutora com as propinas confessadas por empresários e políticos. A votação do impeachment ocorrerá antes do julgamento. Entre um e outro poderá ressurgir o grito de Diretas-Já, pois nesse caso seriam convocadas eleições para até 90 dias depois da sentença.
O ministro Jaques Wagner tem toda a razão quando diz que a Operação Lava Jato está criminalizando a política. Ele e o PT não perceberam que o juiz Moro está botando na cadeia criminosos que se meteram em transações políticas para atacar a bolsa da Viúva. Quem criminalizou a política foram os criminosos, seguindo um velho hábito da oligarquia. O PT se meteu nesse jogo porque quis.
Jaques Wagner atribui o tamanho do 13 de março à crise econômica. Novamente, tem razão, mas expõe a ruína do governo. Essa crise foi inteiramente fabricada pela doutora Dilma e pelo comissariado. Pode-se dizer que ela não sabia que o PT tinha uma cloaca de pixulecos. (Isso seria o mesmo que dizer que o presidente Médici não sabia das torturas do DOI, onde esteve a Estela-Dilma em 1970.) No caso da crise econômica, a responsabilidade é dela, e só dela.
Os críticos da Lava Jato repetem com frequência que a Operação Mãos Limpas italiana levou ao poder o teatral Silvio Berlusconi. Se as coisas continuarem dando errado, o PT poderá pensar que Lula é o seu Berlusconi.
*Jornalista e escritor

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