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sexta-feira, 27 de março de 2020

Bolsonaro tem pressa, mas não cria condições para retorno ao trabalho

Além de fazer propaganda de um remédio em fase de testes, Jair Bolsonaro anunciou outra ideia para enfrentar o coronavírus. O presidente disse que a população deve voltar ao trabalho e lançar a campanha "Fica em casa, vovô". "O brasileiro tem que entender que quem vai salvar a vida dele é ele", esbravejo
O retorno à atividade econômica se consolidou como aposta definitiva do governo na crise. Bolsonaro ainda tenta disfarçar sua desumanidade atroz ao indicar a necessidade de equilíbrio entre saúde e a retomada da produção, mas continua priorizando um só lado. "Lamentavelmente, a nossa vida, um dia ela se esvai", disse, nesta quinta-feira (26).
O presidente sabe que boa parte da população teme o desemprego e a evaporação da renda como consequências da crise. O problema é que o próprio governo reforça o medo: até agora, foi incapaz de oferecer uma proteção para quem perder o salário e não conseguiu criar condições seguras para a volta ao trabalho.

Bolsonaro age como se a solução para a crise fosse simplesmente chamar empresários que o bajulam e permitir que eles fritem hambúrgueres ou vendam quinquilharias em suas lojas de departamentos.

O governo ignora o sentido da palavra urgência. Desconsidera o fato de que a redução da circulação de pessoas salva vidas, ao adiar o colapso do sistema de saúde, e demora para apresentar medidas que ajudem financeiramente a população vulnerável enquanto a onda atinge o país.

A retomada da atividade exige uma cobertura emergencial, como fizeram as autoridades americanas e britânicas, que ofereceram uma renda mínima para seus cidadãos. O Brasil anunciou um plano franzino há dias e ainda não conseguiu implantá-lo.
Mesmo assim, a volta ao trabalho deve ser precedida de medidas na saúde, como o aumento de testes, o reforço de hospitais e o monitoramento de regiões de contágio. Bolsonaro prefere perder vidas a perder a piada: "O brasileiro tem que ser estudado. Você vê o cara pulando em esgoto e não acontece nada com ele".

*Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA.

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