O retorno à atividade econômica se consolidou como aposta definitiva do governo na crise. Bolsonaro ainda tenta disfarçar sua desumanidade atroz ao indicar a necessidade de equilíbrio entre saúde e a retomada da produção, mas continua priorizando um só lado. "Lamentavelmente, a nossa vida, um dia ela se esvai", disse, nesta quinta-feira (26).
O presidente sabe que boa parte da população teme o desemprego e a evaporação da renda como consequências da crise. O problema é que o próprio governo reforça o medo: até agora, foi incapaz de oferecer uma proteção para quem perder o salário e não conseguiu criar condições seguras para a volta ao trabalho.
Bolsonaro age como se a solução para a crise fosse simplesmente chamar empresários que o bajulam e permitir que eles fritem hambúrgueres ou vendam quinquilharias em suas lojas de departamentos.
O governo ignora o sentido da palavra urgência. Desconsidera o fato de que a redução da circulação de pessoas salva vidas, ao adiar o colapso do sistema de saúde, e demora para apresentar medidas que ajudem financeiramente a população vulnerável enquanto a onda atinge o país.
A retomada da atividade exige uma cobertura emergencial, como fizeram as autoridades americanas e britânicas, que ofereceram uma renda mínima para seus cidadãos. O Brasil anunciou um plano franzino há dias e ainda não conseguiu implantá-lo.
Mesmo assim, a volta ao trabalho deve ser precedida de medidas na saúde, como o aumento de testes, o reforço de hospitais e o monitoramento de regiões de contágio. Bolsonaro prefere perder vidas a perder a piada: "O brasileiro tem que ser estudado. Você vê o cara pulando em esgoto e não acontece nada com ele".
*Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA.
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