A região de Ilhéus enfrenta uma crise desde o final dos anos 1980, quando plantações de cacau foram dizimadas pela praga da vassoura-de-bruxa. A crise econômica resultou em um movimento migratório que esvaziou a cidade, que saiu de 222 mil habitantes em 2000 para 184 mil em 2010.
Nos últimos anos, contudo, Ilhéus vinha respirando novos ares com o impulso do turismo e da retomada da produção do cacau no sistema cabruca, no qual as árvores são plantadas aproveitando o sombreamento da mata nativa.
Mais de 70 fábricas de chocolate de pequeno porte instalaram-se na região. Em vez de competir com os líderes globais, os produtores apostaram em produtos de nicho, com maior qualidade e valor de mercado.
Ilhéus foi o berço da literatura de Jorge Amado, que contou para o mundo a saga do cacau no meio das florestas, em livros como Gabriela e Terras do Sem Fim. No ano passado, o faturamento dos produtores rurais de cacau da Bahia aumentou de 220%, graças à crescente tendência de chocolate tree-to-bar. A Costa do Cacau poderia ser um exemplo de economia sustentável, florescendo com sua fruta emblemática, desde agroflorestas a cooperativas de chocolate e ecoturismo!
Diante das novas possibilidades com turismo, retomada do cacau e aposta em um modelo de produção mais sustentável, uma parcela da população de Ilhéus vê com reservas a construção do Complexo Porto Sul e trava um debate acerca do modelo de desenvolvimento proposto para a região.
O principal temor é que a obra da ferrovia, mas principalmente o porto, tragam impactos ambientais como devastação da floresta, redução da biodiversidade, erosão da costa e poluição do ambiente marinho.
“É preciso avaliar o custo-benefício entre seguir em frente ou rever este projeto. Não estamos falando de problemas pontuais, mas em um impacto sistêmico”, afirma Rui Barbosa da Rocha, diretor do Instituto Floresta Viva.
Ele diz que há possibilidade de erosão da costa como reflexo da construção de um porto em alto mar, além de impacto nos corais, nos arrecifes e na área de proteção ambiental Lagoa Encantada, que fica junto ao traçado da ferrovia e abriga áreas remanescentes da Mata Atlântica.
Também preocupa o impacto social da obra no distrito de Aritaguá, litoral norte de Ilhéus, onde cerca de mil pescadores e marisqueiras tiram o seu sustento do mar e do rio Almada.
Na Vila Juerana, comunidade que fica no distrito de Aritaguá, o início das obras do Porto Sul preocupa os moradores, que temem o impacto na oferta de peixes e crustáceos e no fluxo de turistas na região.
“A obra mal começou e já sentimos os impactos: a água do rio está barrenta e uma área grande de manguezal está sendo devastada”, afirma a professora Mônica Santos, presidente da associação de moradores da vila.
Ela diz que a construção do porto vai dizimar a vocação turística da vila, que fica no encontro do rio Almada com o mar e tem boa oferta de bares e restaurantes dedicados a frutos do mar.
Presidente da Bamin, Eduardo Ledsham afirma as obras da ferrovia e porto passaram por rigorosos processos de licenciamento ambiental com a definição de centenas de condicionantes que serão cumpridas pela empresa.
Dentre elas está a criação de um fundo de R$ 42 milhões que financiará uma fundação para avaliar os possíveis impactos do empreendimento. “Cada impacto terá o seu programa específico. O respeito ao meio ambiente é um valor da empresa”, afirma Ledsham.
Os projetos da Fiol e do Porto Sul foram concebidos há cerca de dez anos na gestão do governador da Bahia Jaques Wagner (PT), a partir da descoberta das minas de ferro em Caetité.
O licenciamento ambiental, realizado no início da década, foi desde o início marcado por tensões. Na época, o porto chegou a ter a sua licença negada pelo Ibama por causa dos impactos ambientais e teve a sua localização alterada da Ponta da Tulha para o distrito de Aritaguá.
Ao falar dos impactos ambientais da Fiol, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, destacou a redução de gás carbônico como um dos ativos da ferrovia: “Como uma ferrovia pode não ser sustentável? Falar em Fiol é falar em diminuir em três vezes a emissão de CO2”.
Mas a redução da emissão de gás carbônico não é o único fator a ser levado em consideração em um projeto de infraestrutura, conforme explica Ana Cristina Barros, representante da ONG The Nature Conservancy no Brasil.
“É uma leitura muito estreita do governo falar apenas da redução de gás carbônico. A realidade é que existem muito impactos indiretos, como a ocupação associada ao desmatamento, por exemplo”, diz.
Rui Barbosa da Rocha, do Instituto Floresta Viva, defende que o governo busque soluções alternativas à Fiol.
Artistas se mobilizam em defesa do meio-ambienteNa avaliação do governo baiano, ferrovia e porto serão um indutor de novos negócios no sul da Bahia, descentralizando a atividade econômica do estado.
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