Agora só é possível ouvi-la no internacional do Rio. Já esteve em outros no passado, como em Foz do Iguaçu, Manaus, Congonhas etc.
Na vastidão do Galeão a voz nos pega no colo, sussurra ao miocárdio, mostra que uma fêmea, muitas vezes, sequer precisa de um corpo.
Repito velha tese: mulher é metonímia, parte pelo todo. Basta um narizinho aqui, uma omoplata acolá, e está ganha a vida. Não carece ser bonita por completa. Melhor que não seja.
A carioca dona da voz mais bonita do Brasil -Simone, de Olinda, com quem estudei, talvez seja páreo- foi a primeira mulher a apresentar um telejornal no país, na TV Globo, anos 1970. Depois foi para a TV Manchete, foi modelo, cantora, uma deusa.
Homens do mundo inteiro querem fazer amor com a voz de Iris. O Faith No More, por exemplo, incluiu, sem permissão, a gravação de sua voz na faixa “Crack Hitler”, do disco Angel Dust, de 1992. Deu um rolo danado. Achei uma bela homenagem.
Ao partir agora para o Recife, via Galeão, fechei os olhos, me senti em um quarto escuro, fazia amor com aquela voz. Para fazer amor com uma voz não é preciso o gemido de gozo mais explícito de Brigitte Bardot em “Je t’aime moi non plus”.
Na voz de Iris, basta um Air France, voo 447, Rio/Paris… Basta um Gol, voo 1150, do Rio de Janeiro para o Recife… Nem carece que estejas indo para os braços da(o) amada(o). A viagem de negócios mais chata do mundo se torna um veraneio em Bora-Bora.
É sim possível fazer amor com uma voz. Viajo feliz. Como se nas asas da Panair e do desejo.
*Faleceu hoje, aos 84 anos, Iris Lettiere
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