No começo do ano, definimos que o Democratas se manifestaria sobre a sucessão municipal em março. Como em março não houve condições de nós chegarmos a um entendimento entre os partidos de oposição, estendemos esse prazo para abril. Agora, internamente, havia um consenso que era impossível ultrapassar o mês de abril sem tomar uma decisão.
Mas em função de Pelegrino estar "correndo solto"?
Não. Em função da necessidade de primeiro, o partido ter uma posição clara, em Salvador. E segundo ganhar tempo. Era preciso começar a ganhar tempo. Pensamos que o partido colocaria a pré-candidatura e a partir daí, conversaria com os demais partidos, não deixaria de dialogar, porém com um fato, um passo dado e com uma pré-candidatura estabelecida. Eu tive todo o cuidado no dia 23 de abril, quando apresentei a pré-candidatura, de dizer que aquilo não interrompia o diálogo com os outros partidos. Pelo contrário, dava as condições para o Democratas, de forma até mais oficial e consolidada, conversar com esses partidos, como nós fizemos. Mesmo depois do dia 23, continuei conversando com o PMDB, com o PSDB e com tantos outros partidos que vêm dialogando conosco.
O efeito dessa sua estratégia acabou não agradando aos outros partidos da oposição. Ocorreram críticas dos aliados e no fim das contas muitos disseram que o senhor acabou detonando a união das oposições. Como o senhor responde a isso?
Não é verdade, até porque em nenhum momento os partidos de oposição sentaram para discutir que critérios poderiam nortear a escolha do candidato. Exatamente o Democratas, diante daquele quadro e daquele impasse, onde não havia uma discussão objetiva e claramente havia uma dificuldade colocada pelo PMDB, que usou como argumento político – e eu até de certa forma compreendo, respeito, apesar de discordar – que não poderia apoiar uma candidatura de um partido que não tivesse na base do governo federal. Ora, se assim era, se esse argumento prevalecesse, tornava impossível a construção de uma candidatura única. Isso automaticamente gerava uma dificuldade de que o candidato fosse do Democratas e do PSDB.
O PMDB só aceitaria uma união se houvesse adesão à candidatura peemedebista...
Sim, por outro lado eu contra-argumentava que era fundamental nós tratarmos da eleição de Salvador, no âmbito municipal. Ou seja, a eleição não é para presidente da República e por isso não deve ser federalizada, e não é para governador do Estado e para isso não deve ser estadualizada, ela é para prefeito de Salvador. Agora, o PMDB colocava essa dificuldade, que era política, não havia nenhuma dificuldade pessoal. Minhas relações com todos os dirigentes do PMDB são muito boas. Inclusive nós estamos fazendo alianças em vários lugares do interior, seja apoiando candidatos do PMDB ou apoiando candidatos do Democratas. Esse argumento, que não foi colocado como um empecilho para o interior, foi colocado como um elemento dificultador aqui para a capital. Então o Democratas entendeu que precisava dar um passo. Agora vale dizer que não era de total desconhecimento dos partidos que nós faríamos isso (o lançamento).
Como assim?
Lideranças do PSDB, importantes, sabiam que nós iríamos fazer um evento, recebendo o presidente nacional do Democratas, que faria um apelo pela minha candidatura à Prefeitura de Salvador. E também no PMDB, algumas pessoas sabiam que iríamos fazer um evento de pré-candidatura. No caso do PSDB até detalhes foram divididos. No caso do PMDB, menos, apesar de que foi dito a eles que seria feito um ato, dado um passo sem maiores detalhes.
Por que as negociações não seguiram para a direção do DEM, PSDB e PMDB lançarem candidaturas no primeiro turno e se unirem no segundo?
Chegou-se a especular isso, mas também chegamos à conclusão, inclusive o deputado Jutahy Júnior (PSDB) sempre teve esse pensamento, que a meu ver estava correto, que duas candidaturas de oposição eram suportáveis. Dava para tentar com maturidade, bom senso, construir a convivência de duas candidaturas de oposição que pudessem, chegando ao segundo turno, estarem juntas, para enfrentar esse projeto que pretende ser hegemônico de poder de um mesmo partido (PT). Já três candidaturas nós vimos como algo irresponsável, que ao invés de construir iria dificultar uma vitória mesmo no segundo turno.
Pelo fato do senhor ter negociado com as cúpulas do partido e quase que impor sua candidatura ao PSDB, isso não pode ter um efeito negativo na sua campanha?
Vamos relativizar esta questão de impor. Porque muita gente pensa que nós fomos a São Paulo resolver a questão lá. Isso não é verdade. Eu estive em São Paulo, na última vez tratando com (José) Serra, com (Geraldo) Alckmin sobre aliança no começo de março. E nessa reunião, onde estiveram presentes outras lideranças do Democratas e do PSDB, nós tratamos de São Paulo. As questões de Salvador foram conduzidas fundamentalmente pelo presidente do Democratas José Carlos Aleluia e do PSDB, Sérgio Passos. Então, a condução foi feita fundamentalmente por eles, embora, claro, nós dialogamos com várias lideranças. Mas não houve essa coisa de toma-lá-dá-cá, troca um pelo outro, apoia aqui que eu apoio ali. Não foi desta forma. Ao contrário do que foi especulado e propagado pela imprensa.
Alguns analistas chegaram a dizer que você não seduziu o PSDB, mas o estuprou...
Acho uma imagem distorcida, deturpada, não corresponde com a realidade. Inclusive o deputado Jutahy Magalhães Júnior, o presidente Sérgio Passos podem trazer o testemunho de como foram as conversas conduzidas. Diversos diálogos que eu tive com (Antônio) Imbassahy ao longo de todo este processo. E é evidente que eu acho que é natural o Democratas unir com o PSDB. Porque os dois partidos têm uma grande afinidade, marcharam juntos nas últimas eleições, estiveram juntos na eleição de 2010 aqui na Bahia, os dois partidos têm uma aliança nacional, uma história de luta conjunta, então nada mais razoável que isso acontecesse. E eu vou além: os dois partidos aprenderam com a lição de 2008. Naquele ano o PSDB lançou Imbassahy e o DEM a minha candidatura. Qual foi o resultado? Nem ele, nem eu, nenhum dos dois chegou ao segundo turno. Naquele momento os partidos tiveram em lados antagônicos e de certa forma disputaram entre si. Com isso perdeu-se a oportunidade de um estar no segundo turno. Então apreendemos a lição de 2008, evitando cometer o mesmo erro é que os dois partidos estão caminhando para esta semana, selar uma aliança.
Na eleição de 2008 o senhor começou liderando as pesquisas, era considerado até pelo governador Jaques Wagner como nome certo para o segundo turno e acabou não passando. Então essa fragmentação de aliados no primeiro turno na visão do senhor foi o motivo daquela derrota?
O erro principal da eleição de 2008 foi ter dividido Democratas e PSDB. Agora quero dizer que me sinto muito tranquilo, porque antes de decidir pela minha candidatura em 2008, fiz uma proposta para que o Democratas apoiasse a candidatura de Imbassahy. Fiz isso ainda em 2007, muito antes de eu apresentar minha candidatura. No entanto, naquele momento, o PSDB que tinha uma posição política distinta, preferiu caminhar numa outra direção. Aquilo obrigou que o Democratas apresentasse minha candidatura que teve êxito, pois mesmo que não tenhamos vencido a eleição, saímos politicamente vitoriosos. Fizemos uma campanha de alto nível, acabamos tendo um peso decisivo no segundo turno.
Mário Kertész disse que numa conversa o Senhor teria dito que seu projeto é ser governador da Bahia e que não teria tanto interesse nesta eleição de prefeito. Dentro do seu projeto, para ser governador é preciso ser prefeito de Salvador?
Primeiro, não vou usar a prefeitura como trampolim para nada. Quero ser candidato para ser prefeito de Salvador, fazer um trabalho de recuperação da nossa cidade. Tenho o dever de transformar a gestão na Prefeitura de Salvador um exemplo para o Brasil. Tenho consciência que é fazendo um bom trabalho na prefeitura que estarei credenciado para buscar qualquer outro cargo no futuro. Mas neste momento eu lhe asseguro que seria irresponsável alguém imaginar que vai se eleger prefeito e daqui a um ano e quatro meses deixar a prefeitura para ser governador. Isso não está em cogitação.
O que o Senhor faria diferente do atual prefeito, já que o Senhor o apoiou no segundo turno e participou de sua administração?
De alguma maneira e em algum momento todos os partidos participaram da gestão de João Henrique. O que precisa avaliar é a participação que cada um teve. No caso do Democratas foi uma participação limitada, restrita à área do turismo. Minha gestão teria característica diferente da atual. Nós diminuiríamos fortemente o peso da indicação político-partidária na composição dos quadros principais da prefeitura. Vamos escolher os melhores quadros para governar a cidade. Vamos trabalhar desde o primeiro dia para dar a Salvador autossuficiência econômico-financeira e vamos acabar com o desperdício.
O que o senhor acha sobre esta questão do metrô funcionar agora ou só depois do trecho da Paralela?
O metrô tinha que ter funcionado ontem. Tem que funcionar. Meu compromisso com a cidade é que se eu for prefeito o metrô vai funcionar. Não interessa se agora é época de eleição. Se concluiu tem que operar. Agora, não é possível colocar para funcionar e depois da eleição paralisar os trens. Tem que continuar.
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