Há anos, pessoas supostamente sérias vêm lançando alertas sombrios sobre as consequências de grandes deficit orçamentários -deficit que resultam primordialmente da crise econômica corrente.
Em 2009, Niall Ferguson, de Harvard, declarou que "o maremoto da emissão de dívidas" causaria disparada nos juros americanos. Em março de 2011, Erskine Bowles, copresidente da malfadada comissão do deficit criada pelo presidente Barack Obama, alertou que, a menos que houvesse ação rápida contra o deficit, "os mercados nos devastarão", provavelmente em menos de dois anos. E assim por diante.
Bem, creio que ainda restem alguns meses no prazo de Bowles. Mas algo de estranho ocorreu no caminho para a crise que tantos previram: os custos de captação dos EUA caíram ao seu nível mais baixo na história. E isso não acontece só nos EUA. A esta altura, todos os países avançados capazes de captar recursos em moeda própria vêm obtendo empréstimos a custo muito baixo.
O fato de que os deficit não tenham produzido a alta prevista nas taxas de juros está nos dizendo algo de importante sobre a natureza de nossos problemas econômicos.
Oh, e não prestem atenção aos alertas de que um dia desses nos transformaremos na Grécia.
Países como Grécia e Espanha estão sofrendo as consequências da decisão irresponsável de trocar suas moedas pelo euro, que os torna vulneráveis de um modo que não se aplica de modo algum aos EUA.
Assim, o que está acontecendo? A principal resposta é que isso é o que transcorre quando você passa por um "choque de redução de dívidas", quando todos correm para tentar reduzir seu endividamento ao mesmo tempo. O uso domiciliar de crédito despencou, as empresas acumularam reservas de caixa porque não há motivo para expandir produção na ausência de vendas, e o resultado é que os investidores não têm o que fazer com seu dinheiro.
Por isso, estão comprando títulos do governo mesmo que os retornos sejam muito baixos, dada a falta de alternativas.
Além disso, ao oferecerem dinheiro por juros tão baixos, estão na prática implorando para que os governos emitam mais títulos de dívida.
E os governos deveriam atender a esses pedidos, em lugar de se sentirem obcecados quanto ao deficit em curto prazo.
Ressalva obrigatória: sim, temos um problema orçamentário de longo prazo, e deveríamos começar a resolvê-lo agora, principalmente pela contenção dos custos da saúde. Mas é uma loucura demitir professores e cancelar projetos de infraestrutura em um momento no qual os investidores estão oferecendo dinheiro a juro zero ou negativo.
Não é nem mesmo preciso oferecer o argumento keynesiano quanto à criação de empregos para perceber o fato. A única coisa necessária é perceber que, quando o dinheiro está barato, é um bom momento para investir.
A experiência dos últimos anos -acima de tudo, o espetacular fracasso das políticas de austeridade na Europa- foi demonstração dramática do ponto básico de Keynes: em uma economia deprimida, cortar gastos provoca ainda mais depressão.
Portanto, é hora de ignorar os supostos sábios que sequestraram o debate sobre política econômica e atribuem ao deficit o papel central na discussão. Eles estão errados sobre absolutamente tudo - e agora até mesmo os mercados financeiros nos dizem que deveríamos nos concentrar no crescimento e criação de empregos.
* Economista, prêmio Nobel de economia
Em 2009, Niall Ferguson, de Harvard, declarou que "o maremoto da emissão de dívidas" causaria disparada nos juros americanos. Em março de 2011, Erskine Bowles, copresidente da malfadada comissão do deficit criada pelo presidente Barack Obama, alertou que, a menos que houvesse ação rápida contra o deficit, "os mercados nos devastarão", provavelmente em menos de dois anos. E assim por diante.
Bem, creio que ainda restem alguns meses no prazo de Bowles. Mas algo de estranho ocorreu no caminho para a crise que tantos previram: os custos de captação dos EUA caíram ao seu nível mais baixo na história. E isso não acontece só nos EUA. A esta altura, todos os países avançados capazes de captar recursos em moeda própria vêm obtendo empréstimos a custo muito baixo.
O fato de que os deficit não tenham produzido a alta prevista nas taxas de juros está nos dizendo algo de importante sobre a natureza de nossos problemas econômicos.
Oh, e não prestem atenção aos alertas de que um dia desses nos transformaremos na Grécia.
Países como Grécia e Espanha estão sofrendo as consequências da decisão irresponsável de trocar suas moedas pelo euro, que os torna vulneráveis de um modo que não se aplica de modo algum aos EUA.
Assim, o que está acontecendo? A principal resposta é que isso é o que transcorre quando você passa por um "choque de redução de dívidas", quando todos correm para tentar reduzir seu endividamento ao mesmo tempo. O uso domiciliar de crédito despencou, as empresas acumularam reservas de caixa porque não há motivo para expandir produção na ausência de vendas, e o resultado é que os investidores não têm o que fazer com seu dinheiro.
Por isso, estão comprando títulos do governo mesmo que os retornos sejam muito baixos, dada a falta de alternativas.
Além disso, ao oferecerem dinheiro por juros tão baixos, estão na prática implorando para que os governos emitam mais títulos de dívida.
E os governos deveriam atender a esses pedidos, em lugar de se sentirem obcecados quanto ao deficit em curto prazo.
Ressalva obrigatória: sim, temos um problema orçamentário de longo prazo, e deveríamos começar a resolvê-lo agora, principalmente pela contenção dos custos da saúde. Mas é uma loucura demitir professores e cancelar projetos de infraestrutura em um momento no qual os investidores estão oferecendo dinheiro a juro zero ou negativo.
Não é nem mesmo preciso oferecer o argumento keynesiano quanto à criação de empregos para perceber o fato. A única coisa necessária é perceber que, quando o dinheiro está barato, é um bom momento para investir.
A experiência dos últimos anos -acima de tudo, o espetacular fracasso das políticas de austeridade na Europa- foi demonstração dramática do ponto básico de Keynes: em uma economia deprimida, cortar gastos provoca ainda mais depressão.
Portanto, é hora de ignorar os supostos sábios que sequestraram o debate sobre política econômica e atribuem ao deficit o papel central na discussão. Eles estão errados sobre absolutamente tudo - e agora até mesmo os mercados financeiros nos dizem que deveríamos nos concentrar no crescimento e criação de empregos.
* Economista, prêmio Nobel de economia
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