Walter Salles volta menos sentimental em “Na Estrada - On the Road”, baseado na obra de Jack Kerouac. O filme foi recebido com pouco calor na sessão de imprensa da manhã desta quarta-feira (23), dentro da competição do Festival de Cannes 2012.
De estrutura fragmentada, o filme pega a estrada com o protagonista Sal (Sam Riley), baseado em Kerouac, que encontra e perde pessoas ao longo do caminho. Seu companheiro na maior parte das viagens é Dean (Garrett Hedlund), inspirado em Neal Cassady, um sujeito extremamente carismático, mas também irresponsável e destrutivo que suga a energia de todos ao seu redor – como Marylou (Kristen Stewart), baseada em LuAnne, que se casou com Cassady aos 15 anos e se tornou sua amante depois do divórcio, Camille (Kirsten Dunst), inspirada em Carolyn Cassady, segunda mulher de Neal, e Carlo Marx (Tom Sturridge), ou Allen Ginsberg.
O diretor respeita a obra original, recriando o ambiente libertário representado pela geração beat, que revolucionou a literatura e a cultura americanas, ao ritmo do jazz. Como outros filmes do festival, discute amadurecimento e masculinidade. O longa é bonito e vibrante em muitos momentos, com uma melancolia que perpassa todo aquele sonho de liberdade total, principalmente nas personagens femininas. Mas termina um pouco fluido demais para ser realmente um competidor com força para levar o prêmio principal.
Na entrevista coletiva que se seguiu à exibição, Walter Salles disse que o filme tem uma correlação com “Diários de Motocicleta”. “Ambos são sobre jovens descobrindo a geografia e a realidade e despertando criticamente. Aqui, eles tentam achar todas as liberdades possíveis numa sociedade muito conservadora”, afirmou.
“Os personagens no livro tiveram a coragem de experimentar tudo. Isso também ganhou força hoje, pois a única maneira de obter uma percepção crítica do mundo é através da experiência pessoal. Isso também trouxe contemporaneidade ao filme.”
Viggo Mortensen, que interpreta Old Bull Lee (uma versão de William S. Burroughs), disse que hoje, como na época em que o livro se passa (décadas de 1940 e 1950), também há muito conservadorismo. “Deve ter sido difícil para (o produtor) Francis Ford Coppola esperar 30 anos para ver o livro na tela, mas acho que provavelmente é uma boa época para lançar o filme.”
Os atores passaram por uma espécie de campo de treinamento, recebendo visitas de parentes e personagens ainda vivos. “Foi emocionalmente estimulante falar com a filha de LuAnne”, disse Kristen Stewart. “A personagem é tão vívida no roteiro. Ela não estava se rebelando contra nada, estava sendo ela mesma.”
A atriz também teve de responder sobre as cenas de nudez e sexo, já que ela ficou famosa por interpretar uma personagem que não faz sexo na “Saga Crepúsculo”. “Tinha 16 ou 17 anos quando Walter falou do projeto pela primeira vez. Foi bom ter crescido alguns anos. Seria fácil dizer como o diretor me deixou muito segura, mas eu queria passar medo. Não hesitei por nenhum momento.”
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