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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Democratas é um sobrevivente


A vitória do neto de Antônio Carlos Magalhães em Salvador (foto), se não acaba de uma vez por todas, seguramente arrefece as ideias de fusão ou dispersão do Democratas por outros partidos. O DEM é a única sigla da oposição a governar, a partir do próximo ano, um dos quatro maiores colégios eleitorais do país. Pela ordem, as capitais de São Paulo (PT), Rio de Janeiro (PMDB), Salvador e de Minas Gerais (PSB).Considerando-se o mês de junho de 2011, depois do ataque especulativo que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fez em suas fileiras, o DEM entrou nas eleições municipais com 347 prefeituras e 4,8 milhões de votos. De quarta força nas eleições de 2008, o DEM passou para a sétima. Agora é a nona em número de prefeitos. Elegeu 278, mas cresceu 50% - sempre em relação a junho do ano passado - em número de votos.

O balanço final do DEM é positivo. Graças sobretudo à eleição de Salvador, o partido saiu com 6,87 milhões de votos da eleição municipal. Ou seja, mesmo com menos prefeituras, o Democratas ganhou 2,1 milhões de eleitores. Não governava nenhuma capital. Agora tem Aracaju, a capital de Sergipe, e assume o terceiro maior colégio eleitoral do país. "O DEM cresceu qualitativamente", diz seu presidente, o senador José Agripino Maia (RN).
Agripino diz que Salvador foi uma lição para o governo
A partir do próximo ano, o Democratas vai administrar um orçamento de R$ 12,9 bilhões. Originalmente PFL, a dissidência da Arena que viabilizou a eleição de Tancredo Neves, em 1985, e o fim do regime militar, o DEM era o partido dos grotões. Em 2012, assumirá, além das duas capitais, cidades de porte como Barueri (SP), São José dos Pinhais (PR), Feira de Santana (BA), Mossoró (RN) e Vila Velha (ES), entre outros.
No ranking das capitais, o DEM ficou atrás, em prefeituras, somente do PSB (5), PSDB (4), PT (4) e PDT (3), empatando com o PP (o sucedâneo da Arena, que também elegeu dois prefeitos). Em Santa Catarina, onde o prefeito Gilberto Kassab levou praticamente todos os integrantes do DEM para o PSD, comemorou com especial prazer ser o vice da chapa que tirou da Prefeitura de Blumenau João Paulo Kleinubing, seu antigo filiado hoje no PSD de Kassab. "Eu nunca levei isso muito a sério", diz Agripino, sobre as conversas de fusão do DEM ora com o PSDB ora com o PMDB. Aparentemente, o partido com mais condições locais de acomodar a maioria do DEM é o PMDB. Mas o PMDB é da base do governo e quem não se aliou aos "trânsfugas", como o presidente do DEM faz questão de qualificar os que foram para o partido de Kassab, é porque queria ficar na oposição. Deputados como Ronaldo Caiado, por exemplo. Não faria sentido, portanto, se aliar a um partido da aliança governista. O curioso é que após a eleição de Dilma Rousseff, em 2010, até o prefeito eleito de Salvador tinha dúvidas sobre o futuro reservado ao DEM. Hoje, ACM Neto diz que cumprirá o mandato até o final, sem aventurar-se por uma candidatura a governador em 2014. Muito jovem - tem apenas 33 anos -, Neto é um prefeito "com muitos anos de vida política útil pela frente", como gosta de dizer Agripino.
Há uma espécie de "consenso" entre congressistas e analistas políticos que o DEM é um partido que não consegue sobreviver sem estar à sombra do governo federal. O presidente do Democratas descarta esse teoria. Agripino Maia espera, a partir de agora, "um partido mais coeso" e seguramente na oposição. "Os trânsfugas foram todos embora no ataque do Kassab. Especialmente aqueles que queriam de todo modo aderir ao governo. "Ficou a essência do partido", diz Agripino. "Nós lutamos para sobreviver na oposição. Sobrevivemos e crescemos. Não há lógica, portanto, em se aliar a um partido da base do governo".
Com relação ao PSDB, seu aliado em quatro das últimas cinco eleições presidenciais, Agripino afirma que é cedo para especular sobre uma eventual aliança em 2014. "Não há um alinhamento automático", diz. Por enquanto, o partido pensa apenas em manter a parceria que tem com os tucanos, no Congresso, na oposição aos governos do PT e à presidente Dilma Rousseff.
Agripino destaca como simbólica a eleição de ACM Neto para prefeito de Salvador, área de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também a presidente Dilma esteve em Salvador a fim de fazer campanha para o candidato do PT, Nelson Pelegrino.
Segundo Agripino Maia, esse palanque e mais o governador Jaques Wagner (PT) diziam aos soteropolitanos que eles tinham a "obrigação" de votar no em Pellegrino em retribuição aos benefícios sociais concedidos pelos governos petistas aos baianos. Só para Salvador, neste mês de outubro, o Ministério do Desenvolvimento Social pagou o Bolsa Família para 172.066 famílias.
"O Fernando Haddad, no discurso da vitória em São Paulo, afirmou que sua eleição iria derrubar o muro que separa os ricos dos pobres", diz Agripino Maia. "Essa é a cantilena da companheirada, deve ter sido assim em todo o Brasil", e a eleição na Bahia, no entendimento do presidente nacional do DEM, "deve servir de lição ao governo: o pobre sabe votar".
Eleições municipais são mais relevantes, do ponto de vista das eleições nacionais e estaduais, quanto mais elas são formadoras da opinião pública. Nesse sentido o DEM ganhou ao avançar para cidades de maior porte, deixando de privilegiar os grotões que herdou da Arena e do PFL.
Um estudo dos tucanos revela que há uma interferência das eleições municipais na formação das bancadas, dois anos depois, de maneira especial da bancada de deputados federais. E o número de deputado na bancada da Câmara é determinante para a fixação do tempo de televisão do partido no horário de propaganda eleitoral e a cota que cada partido terá do fundo partidário.
Por esse aspecto, o Democratas deveria se preocupar por ter eleito apenas 278 prefeitos. Mas Agripino é um otimista: como cresceu o número de eleitores e o partido avançou em direção de capitais e de cidades com mais de 200 mil eleitores, dificilmente fará uma bancada na Câmara inferior à atual, desidratada de 43 deputados eleitos para 28, depois da razia de Kassab. O DEM é um sobrevivente.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
E-mail: raymundo.costa@valor.com.br

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