O presidente de uma empresa que atua na área de infraestrutura, com a forte oscilação do dólar e do mercado de ações, as equipes estão em reuniões para “reorganizar o orçamento”, traçando cenários de maior instabilidade. No dia seguinte às denúncias, o dólar avançou mais de 8%, na maior alta desde a maxidesvalorização, em 1999.
“As empresas devem suspender grandes investimentos, pois é preciso delimitar o impacto da crise. Os investimentos que poderão ser mais afetados são os atrelados a áreas reguladas, pois dependem do governo para que sejam operacionalizados, como os de infraestrutura. Os investidores vão tirar o pé do acelerador”, diz Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B.
Segundo projeção da consultoria, dos R$ 60,5 bilhões em investimentos privados previstos para este ano, R$ 30,6 bilhões estão destinados aos transportes, como ferrovias, portos e aeroportos. Energia tem programados R$ 16,1 bilhões, e telecomunicações, outros R$ 11,8 bilhões. “Investir é uma aposta no futuro. Tem que ter previsibilidade”, destacou Frischtak.
Já Gomes, da Alvarez, teve de aumentar o expediente para atender aos fundos de investimento estrangeiros atrás de respostas sobre o atual momento. Como consequência, lembra que uma empresa, com atuação em concessões e em energia elétrica, suspendeu seu processo de venda, que estava marcado para o dia 29.
“A data de fechamento da operação foi cancelada. Um fundo de investimento dos EUA estava negociando a compra por R$ 1 bilhão e iria investir mais R$ 1 bilhão. Nessa crise, os fundos de investimento são mais reativos à instabilidade. A primeira reação é esperar. O setor mais afetado será o de infraestrutura, como saneamento, aeroporto e rodovia”, Gomes.
Ele cita ainda a suspensão do processo de compra de uma empresa brasileira de varejo com atuação nacional por uma americana. “A companhia dos EUA vai esperar de três a quatro meses para ver como vai se comportar o dólar, pois poderá ver o ativo brasileiro ficar mais barato. É um balde de água fria. Apesar das incertezas, no setor de petróleo e gás os investidores continuam interessados em participar dos três leilões previstos para este ano, dois no pré-sal e um no pós-sal.”
Carlos De Luca, da De Luca Consultoria e ex-presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), acredita que as empresas não vão perder a oportunidade de acessar os campos do pré-sal. “A notícia assustou. Acredito que pode ter algum dano, que pode preocupar alguma empresa que estaria vindo para cá pela primeira vez. Mas os investimentos são de longo prazo.”
Para Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base e Infraestrutura (Abdib), avalia que ainda é cedo para se tomar decisões. “Esperamos que a questão política seja resolvida o mais rapidamente possível.”
Para um executivo de aeroportos, a curto prazo, a tendência é que os investimentos que poderiam se concretizar por meio de leilões sejam adiados. Mas ele lembra que os projetos de infraestrutura são de longo prazo e, por isso, os investidores devem apenas retardar sua vinda ao país.
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