segunda-feira, 27 de abril de 2020

'Todas as Mulheres do Mundo' é um respiro de felicidade

Ana Clara Brant*
“Deus inventou o sexo e a paixão. O amor é um delírio para compensar a morte e quem o inventou foram os homens.” A frase é do arquiteto Paulo, personagem de Emílio Dantas, em “Todas as mulheres do mundo”, a mais nova produção do Globoplay.
Todos os 12 episódios estão disponíveis na plataforma de streaming.
A série é baseada no universo do dramaturgo, diretor, ator e poeta Domingos Oliveira (1936-2019) e também não deixa de ser uma homenagem a ele. O projeto teve início há 15 anos como lembra o roteirista Jorge Furtado. “Eu sempre quis fazer alguma coisa com o Domingos; sempre admirei o trabalho dele. E nunca acontecia. Até que um dia a Maria Ribeiro (atriz) me ligou falando dessa ideia. A Globo comprou alguns textos dele, a coisa começou a andar, mas ele morreu no decorrer do processo. Mesmo assim a gente não abandonou e o resultado é essa produção que está bem a altura do que o Domingos Oliveira merecia”, revela Furtado que assina o roteiro ao lado de Janaína Fischer. A direção artística é de Patricia Pedrosa. 
O seriado se inspirou em pelo menos oito obras do dramaturgo, além do filme homônimo de 1966, protagonizado por Paulo José e Leila Diniz, que foi casada com Domingos.
A cada episódio, Paulo se apaixona à primeira vista por uma mulher. E todas são livres, inteligentes e autênticas. “Ali não tem nenhuma ‘mulherzinha; ninguém’ é bela, recatada e do lar. São todas diferentes, interessantes e apaixonantes”, pontua Jorge Furtado.
“Um cara do afeto”
Para Emilio Dantas,  intérprete do protagonista, seu personagem é um cara que distribui afeto.  “Ele é muito afetuoso com seus melhores amigos, Cabral (Matheus Nachtergaele) e Laura (Martha Nowill),  e com todas as mulheres com quem ele se relaciona. Acho que, a princípio, o que bate nele é a paixão da inflamação por conhecer alguém muito interessante”, analisa.
Segundo Dantas, “Todas as Mulheres do Mundo” é realmente uma série que exalta todas as mulheres do planeta. “É uma série que também vem falar sobre o amor em geral, em como ele está sendo exercido hoje pelo ser humano. É uma série que trata de amor”, resume.
Boa parte das 12 atrizes que fazem as paixões de Paulo têm alguma ligação forte com Domingos Oliveira. A começar por Sophie Charlotte, considerada uma das “musas” do dramaturgo e poeta e que vive a bailarina Maria Alice, com quem o arquiteto se envolve no episódio de estréia. No longa da década de 60, o papel foi de Leila Diniz. “A Maria Alice é uma mulher livre, para além de qualquer amarra, de qualquer convenção. E, ao mesmo tempo, muito doce. É um pouco raro encontrar personagens femininos falando de amor e dos encontros de uma forma bonita, livre e poética. Isso diz muito sobre o Domingos, sobre a Leila e sobre mim também. A Maria Alice e o Paulo retratam um pouco da história de amor da Leila com o Domingos”, opina Sophie.
A própria Maria Ribeiro, além de Fernanda Torres assim como Samya Pascotto, Marina Provenzzano, Veronica Debom, Maeve Jinkings estão no elenco que ainda traz as participações afetivas das atrizes Maria Mariana e Priscilla Rozenbaum, filha e viúva do homenageado, respectivamente. Lilia Cabral interpreta a mãe de Paulo. O personagem de Nachtergaele tem a companhia do cãozinho Oliveira, numa singela homenagem a Domingos. "O cachorro se comportou melhor do que o elenco (risos). Era só uma tomada. Não precisava gravar mais nada. Impressionante", brincou a diretora artística Patrícia Pedrosa, uma das inúmeras representantes femininas da equipe.
Ela destacou que o seu grande desafio foi ser fiel ao universo de Domingos Oliveira, mas trazendo uma roupagem nova. “Resolver essa equação é que foi mais complicado, mas acho que tudo deu certo porque o trabalho ficou maravilhoso. Costumo dizer que tivemos 90 e tantas diárias. E não era um trabalho. Foram 90 e tantas festas”, celebra. 
Trilha sonora
Um dos destaques da produção é sua trilha-sonora. Patrícia Pedrosa explica que como cada episódio tem uma mulher protagonista, ela pensou que seria interessante ter também uma cantora diferente fazendo a trilha de cada uma delas. Marisa Monte, por exemplo, embala o romance de Paulo e Maria Alice. “A minha ideia inicial era que a Marisa estivesse presente em toda a série porque canta e fala sobre o amor, é uma artista popular. Mas aí a gente acabou decidindo mudar a cantora assim como a protagonista muda. E foi a própria Marisa que sugeriu “Carinhoso” na abertura. Todas as cantoras convidadas gravaram ou já tinham gravado essa composição”, revela a diretora.
Entre as convidadas estão Alcione, Rita Lee, Elis Regina, Cassia Eller, Céu, Ana Canãs, Nara Leão, Elza Soares e Maria Bethânia.
Jorge Furtado salienta que “Todas as Mulheres do Mundo” é uma série extremamente feminista assim como Domingos Oliveira sempre foi . “Ele era um homem muito à frente do seu tempo. A obra é muito moderna, tanto que tivemos que adaptar poucas coisas para o presente. As mulheres criadas pelo Domingos já eram empoderadas bem antes de esse termo surgir”, ressalta. 
Para o roteirista, a produção chega num momento mais do que apropriado e se guia pelo afeto. “A gente conseguiu manter o espírito, a essência do Domingos ali e o seu amor pelo ser humano. Nesse momento que o Brasil e o mundo estão enclausurados, e as pessoas não podem se beijar, se abraçar, se lamber, a série é um respiro de felicidade e traz um pouco de beleza, de esperança e de amor nesse período tão difícil”, frisa.

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