Armando Avena* - Bahia Econômica
A decisão do PT romper a aliança que sustentava a base governista, mantendo Rui Costa no governo até o final e lançando como candidato a governador, Jerônimo Rodrigues, um candidato desconhecido, foi uma jogada arriscada, com desdobramentos em vários níveis, mas foi ao mesmo tempo uma aposta na força de Lula na Bahia. Ao romper a aliança, o PT empurrou o vice-governador, João Leão, para a oposição e é dado como certo sua candidatura ao Senado na chapa de ACM Neto.
Com isso, a candidatura de Jair Bolsonaro se fortalece e passa a ter importância na Bahia, o 4º maior colégio eleitoral do Brasil. Isso porque, ao ser praticamente expulso da chapa do PT, João Leão foi obrigado a voltar aos braços de Ciro Nogueira, de Arthur Lira e do PP, que apoia o presidente com unhas e dentes. E passa a ser elemento chave na campanha de Bolsonaro, independente da posição de ACM Neto em relação ao presidente. Neto pode continuar dizendo que tem palanque aberto, pode afirmar que não tem candidato a presidente, mas isso não importa, na sua chapa estará João Leão, totalmente integrado ao PP, partido que dá sustentação a Bolsonaro.
E não estará sozinho, pois levará cerca de 100 prefeitos e dezenas de deputados que vão inflar a figura de Bolsonaro no interior da Bahia. Aqui vale lembrar, que Leão terá pela frente um processo de rearrumação política, pois vai perder os cargos que detém no governo Rui, inclusive secretarias de Estado e diretorias de empresas, e vai precisar de cargos no governo federal e na Prefeitura de Salvador para colocar seus correligionários, contando para isso com Ciro Nogueira e o PP nacional em Brasília e com o apoio de Neto e Bruno Reis na Bahia.
Bolsonaro saiu fortalecido politicamente no estado e provavelmente terá dois palanques. Sim, porque pode manter a candidatura de João Roma e subir ao palanque quem sabe com a presença do vice-governador da Bahia, e manter outra campanha, na qual não subirá no palanque, mas seu partido estará ali lhe dando sustentação. E no segundo turno, todos se unirão. Nesse sentido, a expulsão de Leão foi uma ajuda luxuosa à candidatura de Bolsonaro e deixou Neto, livre e solto, sem remorsos, para dizer que não apoia Bolsonaro, no entanto o partido que o sustenta está inteirinho em sua chapa.
A decisão do PT foi uma aposta na força Lula, baseada na ideia, no mínimo temerária, de que ele e Rui Costa serão capazes de transformar um desconhecido num candidato capaz de competir com ACM Neto que há dez anos está na rua como candidato ao governo da Bahia. A realidade traz a lembrança de Rui Costa que começou a campanha com 2% e terminou vencendo Paulo Souto na eleição de 2014, mas traz também a lembrança da Major Denice, completamente desconhecida dos soteropolitanos e retirada do colete para ser candidata à prefeitura de Salvador. Deu no deu. Mas agora o cenário é outro e ele traz Lula como protagonista, o mesmo Lula que transformou o poste Dilma Rousseff em Presidente do Brasil. *ECONOMISTA, foi SECRETÁRIO de PLANEJAMENTO do Governo da BAHIA. 2002/2006 (EP – 14/03/2022)
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