Durante décadas, os geneticistas concentraram-se principalmente nas mutações no ADN para explicar o envelhecimento. Estas mutações podem, com o passar do tempo, corromper o normal funcionamento das células, que levam à decomposição de tecidos e órgãos e traduzem-se na morte celular. Contudo, estudos científicos realizados ao longo do tempo descobriram que algumas pessoas e ratos com altas taxas de mutação não mostram sinais de envelhecimento prematuro e outros observaram que muitos tipos de células envelhecidas têm poucas ou nenhumas mutações.
Para testar a sua teoria nesta nova investigação, David Sinclair e a sua equipa começaram por induzir o envelhecimento normal em ratos de laboratório sem provocar mutações ou cancro. A principal experiência da equipa envolveu a criação de cortes temporários no ADN de ratos de laboratório. Estas quebras imitam as quebras nos cromossomas que as células dos mamíferos experienciam todos os dias em resposta a estímulos externos.
A equipa chamou ICE ao seu sistema, acrónimo em inglês para alterações induzíveis ao epigenoma (o epigenoma responde aos sinais ambientais e liga ou desliga os genes, aumentando ou reduzindo a sua atividade). “A epigenética é o sistema operacional de uma célula, dizendo-lhe como usar o mesmo material genético de forma diferente”, diz Jae-Hyun Yang, coautor do estudo. Deste modo, os investigadores conseguiram envelhecer tecidos no cérebro, olhos, músculos, pele e rins de ratos. “Iniciámos a experiência num rato quando eu tinha 39 anos. Agora tenho 53 e ainda estudamos o mesmo rato”, conta Sinclair.
Ao analisar o funcionamento do corpo humano, o ADN pode ser visto como o hardware e o epigenoma como o software. Os epigenes são substâncias químicas que dizem ao gene “o que fazer, onde fazer e quando fazer”, quando “ligar e desligar” os genes. “Estamos a mostrar por que razão se danifica esse software e como podemos reiniciar o sistema fazendo reset, de forma a restaurar a capacidade que a célula de ler o genoma corretamente”, esclarece o investigador.
As aplicações médicas deste processo em humanos ainda estão muito distantes e serão necessárias extensas experiências em múltiplos modelos celulares e animais. Para isso, a equipa já está a testar esta prática em primatas. A ambição dos investigadores passa também por encontrar uma forma de rejuvenescer um rato de uma só vez. Sinclair referiu que a sua equipa já reiniciou as células em ratos mais do que uma ocasião, mostrando que o envelhecimento pode ser revertido por diversas vezes.
As implicações de poder envelhecer e rejuvenescer tecidos, órgãos, animais ou mesmo pessoas, entram no domínio bioético, o que levanta a consideração sobre o que significaria atrasar continuamente o relógio, evitando o envelhecimento. “Esperamos que os resultados transformem a forma como encaramos o processo de envelhecimento e a maneira como abordamos o tratamento de doenças associadas ao envelhecimento”, diz Jae-Hyun Yang.
Este estudo é apenas o primeiro passo na redefinição do que significa envelhecer “Não compreendemos como o rejuvenescimento funciona, mas sabemos que funciona”, diz David Sinclair. “Podemos usá-lo para rejuvenescer partes do corpo e, esperemos, fazer medicamentos que serão revolucionários. Agora, quando vejo uma pessoa mais velha, não a vejo tão velha, apenas a vejo como alguém cujo sistema precisa de ser reiniciado. Já não é uma questão de se o rejuvenescimento é possível, mas uma questão de quando”, remata.
*Sapo Visão dSaudec
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