Murilo Gitel*
A Baía de Todos os Santos (BTS) abriga dezenas de espécies em seus 1.233 km&³2;. Baleias jubarte, corais e botos são apenas alguns dos exemplos que enriquecem a biodiversidade marinha da sede da Amazônia Azul, maior baía de águas tropicais do mundo e Área de Preservação Ambiental (APA) por meio do decreto Nº 7.595 de 5 de junho de 1999.
O biólogo marinho baiano Gustavo Carvalho-Souza, que atualmente desenvolve doutorando no Instituto Espanhol de Oceanografia da Universidade de Cádiz (Espanha), explica a importância dessas espécies e defende a elaboração de planos de ação capazes de garantir a sustentabilidade dessa fauna.
“Devido às suas características oceanográficas particulares, a BTS possui dezenas de espécies que ocorrem ao longo de toda a baía, sendo comuns em cada tipo de habitat preferencial (ex: recifes, estuários, manguezais). Algumas delas podem ser consideradas emblemáticas do ponto de vista tanto ecológico como social para o funcionamento do ecossistema (abrangendo diversos grupos de animais e importância)”, destaca o especialista.
Entre essas espécies estão o boto (Sotalia guianensis), muito comum na região estuarina do rio Paraguaçu; a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae), cuja preservação tem contribuído nos últimos anos para o aumento da população; e a lagosta (Panulirus laevicauda), de elevada importância ambiental e econômica.
Preservação
Carvalho-Souza ressalta que a riqueza de ambientes presentes na BTS, como recifes, costões rochosos, manguezais ou zonas intermareais, faz com que se estabeleçam diversas comunidades e agrupamentos de espécies nestes habitats. “Essas comunidades acabam influenciadas pelas condições ambientais e relações ecológicas”, acrescenta.
O especialista, que já mergulhou inúmeras vezes para registrar as espécies da BTS, lembra que diversas espécies se encontram listadas no Livro Vermelho de Espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), entre elas o coral-cérebro, peixes como o paru e o cavalo-marinho.
Na avaliação do biológo, apesar de a baía ser uma APA, existem muitas atividades que levam a degradação dos habitats e espécies. “Por exemplo, a ocupação desordenada da costa, pesca sem controle e ilegal (com bomba), coleta de organismos recifais para fins ornamentais, o descarte incorreto de lixo, trafico marítimo intenso, mudanças climáticas, podem ser listadas como algumas dessas ameaças.”
Avifauna
Além das espécies marinhas, as aves representam um papel significativo para a BTS. Essa relevância está registrada no Levantamento da avifauna de duas ilhas da Baía de Todos os Santos: Ilha de Itaparica e Ilha Bimbarras/Bahia/Brasil (2008), desenvolvido pelo pesquisador Marco Antonio de Freitas, do Programa de pós-graduação em zoologia aplicada da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus.
“A diversidade de aves encontradas em algumas das ilhas da Baía de Todos os Santos é relativamente alta, principalmente as famílias e espécies dependentes de ambientes costeiros e as exclusivas da Mata Atlântica baiana”, afirma.
Em uma lista composta por 62 famílias de aves presentes na BTS, o especialista cita exemplos como o gavião-cinza (Circus-cinereus), o mergulhão (Podicipedidae) e a garça-azul (Egretta caerulea). “É de suma importância que os órgãos ambientais façam fiscalizações mais eficientes nesta região de elevada diversidade biológica para garantir a função dos ecossistemas envolvidos na área da BTS”, reivindica o estudioso.
O biológo Gustavo Carvalho-Souza listou algumas das espécies mais características presentes na BTS:
1) Peixe Néon (Elacatinus fígaro)
Espécie endêmica da costa brasileira.
2) Paru (Pomacanthus paru)
Ocorre no Atlântico Ocidental.
“O néon e o paru são peixes limpadores e, portanto, desempenham um grande papel ecológico. Seriam os ‘médicos do mar’, sendo responsáveis pela remoção de crustáceos parasitas do corpo de seus ‘clientes’ (peixes maiores como, por exemplo, budiões e badejos)”, explica o biólogo marinho.
3) Grama-brasileiro (Gramma brasiliensis)
Espécie endêmica da costa brasileira.
4) Cavalo-Marinho (Hippocampus reidi)
Ocorre no Atlântico Ocidental.
5) Tainha (Mugil spp.)
Espécie cosmopolita.
“Apresenta elevada importância ecológica e econômica”, destaca o especialista.
6) Coral-de-fogo (Millepora alcicornis)
Ocorre no Atlântico Ocidental.
“Espécie de coral ramificado que apresenta associações com diversos grupos faunísticos, e devido a sua complexidade estrutural serve de abrigo para muitos organismos.”
7) Coral-cérebro
N. científico: Mussismillia spp.
Espécie endêmica da costa brasileira.
“São corais construtores de recifes amplamente distribuído nos recifes de corais da BTS”, ressalta Carvalho-Souza.
8) Lagosta (Panulirus laevicauda)
Ocorre no Atlântico Ocidental.
“Apresenta elevada importância ecológica e econômica”, pontua o pesquisador.
9) Polvo (Octopus spp.)
Espécie cosmopolita.
10) Boto (Sotalia guianensis)
Ocorre na América do Sul.
"O boto na BTS ocorre ao longo de toda baía, em especial na região estuarina do rio Paraguaçu. Como animais carismáticos e predadores de topo na cadeira alimentar, podem ser considerados como espécies ‘sentinelas da saúde ambiental’”, define Carvalho-Souza.
*Pos graduado em Meio ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Cobriu inúmeros eventos pelo Brasil desde 2008, como a Climate Week da ONU, em Salvador (2019), e a edição especial de dez anos do Fórum Social Mundial em Porto Alegre (2010).
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