sábado, 15 de abril de 2023

Lula reafirma soberania brasileira


Janio de Freitas*
As atenções postas na viagem do presidente Lula à China concentraram-se em investimentos chineses e nas relações comerciais, em detrimento de efeitos mais largos e mais profundos. Mas alguns desses efeitos estão implícitos no aumento da conexão econômica de Brasil e China. Sobretudo de maior presença chinesa na indústria e em outras atividades necessárias ao desenvolvimento brasileiro. A preliminar nesse tema é simples: tudo o que convenha à China contraria os Estados Unidos, no ambiente de hostilidades pontuais reconhecido como uma forma já de guerra econômica. Com risco crescente de eclosão. A China tem presença marcante no comércio exterior de quase todos os países latino-americanos. Como no Brasil, é o maior parceiro comercial em muitos deles. Esses países veem a China como um dia viram os Estados Unidos, que, no entanto, jamais tiveram propósito real de colaboração para o desenvolvimento das Américas Central e do Sul. A imagem do istmo e do subcontinente como quintal dos Estados Unidos, mero estoque de matérias-primas, tem comprovação histórica que precede e sucede a franqueza da Doutrina Monroe. Intensificar a conexão de Brasil e China torna muito mais improvável o alinhamento brasileiro aos Estados Unidos, e mesmo à União Europeia, na política global dessas potências. E o maior entrosamento econômico, trazendo seus efeitos políticos, produzirá influência no mesmo sentido em toda a América do Sul e ao menos em parte da América Central. Um quadro geopolítico muito desfavorável aos Estados Unidos, em especial aos que tendem à solução bélica. Intensificar a conexão de Brasil e China torna muito mais improvável o alinhamento brasileiro aos Estados Unidos, e mesmo à União Europeia, na política global dessas potências. E o maior entrosamento econômico, trazendo seus efeitos políticos, produzirá influência no mesmo sentido em toda a América do Sul e ao menos em parte da América Central. Um quadro geopolítico muito desfavorável aos Estados Unidos, em especial aos que tendem à solução bélica. O presidente Lula não precisava ir à China para ampliar as relações econômicas com os chineses. O Brasil é o 4º país que mais recebe investimento Já 27% das exportações brasileiras rumam para a China, bem mais do que o dobro dos 11% para os Estados Unidos. E 22% das importações vêm da China, ao lado de 19% vindos do antigo parceiro-líder. A viagem ao encontro de Xi Jinping é, como prefácio a todos os demais objetivos, a reafirmação da soberania brasileira em um transe problemático das relações internacionais. Além dos riscos diretos entre Estados Unidos e China, as potências do Ocidente participam com mãos e vidas alheias de uma guerra suja dos 2 lados –e cobram adesões que incluem o Brasil. O alvo declarado dessa guerra não declarada é a Rússia, mas o não declarado é a potência nuclear aliada da China. A ida de Lula a Pequim é uma expressão da soberania brasileira ante essa situação global e as perspectivas brasileiras. As metas econômicas levadas a Pequim foram importantes, sim, como parte de uma viagem política. Entre os seus propósitos políticos, o presidente Lula quis tratar da guerra na Ucrânia. Mas não, como foi tão dito e publicado, com a proposta de mediar a paz. Sua proposta é de criação do Clube da Paz, integrado por personalidades relevantes, para buscar soluções pacíficas de situações conflituosas, a começar da guerra na Ucrânia. A viagem do muito competente Celso Amorim a Moscou não foi para oferecer a mediação pessoal de Lula, como também foi publicado. Foi para ouvir de Putin a sua disposição de de conversar sobre negociação de paz, disposição por ora inexistente...

Viajar à China é visitar o amanhã. Em mais de um sentido, foi o que Lula fez.

Jornalista. Recebeu diversos prêmios jornalísticos, entre eles o Prêmio Esso e o Internacional Rei de Espanha



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