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sábado, 7 de maio de 2011

Porque fizeram do jeito que fizeram – Bin Laden

Marcos Tourinho*
Há alguns dias, os jornais de todo o mundo foram inundados por notícias, especulações e boatos sobre a morte de Osama Bin Laden no Paquistão. Desde então, vários amigos tem me pedido pra explicar o porque de algumas das decisões Americanas em relação à morte de Osama Bin Laden. A pedido de Pedro, adaptei uma dessas respostas e aqui vão algumas das questões centrais consideradas pelas autoridades nos Estados Unidos nessa delicada situação.
Muito ainda não se sabe e o caso é complexo; mas vamos lá!
Primeiro, as teorias conspiratórias (“só acredito quando aparecer o corpo!”) são bem pouco razoáveis. Basicamente, o custo potencial de os Estados Unidos anunciarem a morte e depois ele aparecer com um vídeo novo é tão grande que seria impossível eles fazerem qualquer tipo de anúncio sem absoluta certeza de que quem morreu era ele. Por isso, fizeram exame de DNA, reconhecimento do corpo, etc.
A morte
Há um debate sobre a legalidade do ato de matar Osama. Há basicamente duas variáveis; a primeira se se considera que aquilo era uma guerra (uns dizem que sim; outros que não) e segundo se ele estava desarmado e se rendeu. Armado ou não, eu garanto que ele não se rendeu e preferia morrer do que ser levado preso.
Independente da legalidade, há duas razões pelas quais os Estados Unidos talvez preferissem ver ele morto do que vivo. Primeiro, levar ele preso viraria um problema: quantos atentados, sequestros, tentativas de trocas de prisioneiros seriam feitas se se soubesse que ele estava vivo e em posse dos EUA? Pra eles, seria um pesadelo. Segundo, por problemas legais na captura de todos esses terroristas, é dificílimo para os Estados Unidos julgarem eles no sistema legal americano. Viraria outro problema.
De todo modo, essa prática (targeted killing) é relativamente bastante comum, e os EUA e Israel fazem isso regularmente dentro da lógica do contra-terrorismo. Em geral é até pior do que isso – eles bombardeiam tudo ao invés de entrar com soldados de helicóptero. Uma merda.
O enterro
São duas as explicações prováveis para os EUA terem decidido jogar Osama no mar. Primeiro, eles queriam evitar que se criasse um mártir. Não queriam que o túmulo virasse ponto de peregrinação e que imagens do túmulo ganhassem um símbolo por si só. Segundo, pra eles, o corpo seria um problema da porra. Quem ia ficar com o corpo? Se depois do enterro o pessoal já dá pitaco em como deve ser feito, imagine antes. Levar pros EUA e desfilar em praça pública? Qualquer coisa que eles fizessem ia ser alvo de críticas e um novo foco de discussão (o que eles queriam evitar). Então, melhor sumir logo com aquela porra.
Esse é o mesmo motivo pra fotos (que certamente existem) não aparecerem. Primeiro, pra não criar novas “imagens” (e com isso, empatia) por ele. Segundo, porque a cara do sujeito deve estar tão destruída (irreconhecível, até) que se criaria ainda mais antipatia pela operação. Em todo caso, fotos foram feitas e daqui a pouco elas aparecem…
Tortura
A volta do debate da tortura foi, basicamente, a direita americana tentando surfar na onda da captura e defender/promover as políticas de Bush como responsáveis ou essenciais para a captura de OBL. Pra mim, isso é totalmente fora das regras do jogo e totalmente repugnante. Cretinos. Mas, em geral, acho que esse argumento tem origem na política interna americana e não numa justificativa do governo em si desses atos.
Em resumo, eu acho que os EUA foram muito competentes em relação aos interesses e as possibilidades deles. Claro, há problemas (legais e morais) na operação, mas pra mim, se eles fizessem mais coisas desse tipo e menos guerra-geral tipo Iraque as coisas seriam muito mais fáceis. Finalmente, eu acho que se as pessoas que ficaram revoltadas com a morte de Osama ficassem também revoltadas com todas as mortes extra-judiciais que acontecem diariamente no Brasil e no Mundo inteiro as coisas seriam diferentes também. E isso me cheira a duas coisas: 1. entrar na onda da mídia e considerar a vida de Osama mais importante que a de outros indivíduos; 2. anti-americanismo.
*@MarcosTourinho , estuda Relações Internacionais em Genebra

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