Editorial da Folha de S. Paulo
Queda do 5º ministro em menos de 9 meses questiona a qualidade das escolhas presidenciais e a necessidade de 38 ministérios em Brasília
Com a queda do ministro Pedro Novais (foto), do Turismo, são cinco os auxiliares do primeiro escalão do governo Dilma Rousseff a perder o cargo em menos de nove meses. É uma marca incômoda.
Por um lado, pode sugerir uma atitude menos conivente e permissiva diante dos escândalos por parte da presidente, sobretudo na comparação com a gestão anterior. Mas indica, também, que as escolhas de Dilma ficaram distantes das expectativas que ela própria fixou em público antes de assumir: "Vou exigir competência técnica, desempenho, um histórico de pessoas que não tenham problemas de nenhuma ordem".
Pedro Novais é o caso típico de ministro que não atende a nenhuma dessas qualidades que a presidente elencou. Além dele, outros três ministros não resistiram ao escrutínio público: Antonio Palocci (PT) na Casa Civil, Alfredo Nascimento (PR) nos Transportes e Wagner Rossi (PMDB) na Agricultura. Nelson Jobim (PMDB), da Defesa, saiu porque criticou e constrangeu o governo em público.
Para o cidadão, não faz muita diferença se Dilma escolheu, ela própria, seus ministros ou se eles lhe foram impingidos pelas circunstâncias da sua eleição, apadrinhada por Luiz Inácio Lula da Silva e patrocinada por um ônibus lotado de fisiologismo.
Pedro Novais, lembre-se, não deveria ter assumido o cargo. Dias antes da posse, descobriu-se que ele havia pago com verba de seu gabinete uma noitada num motel de São Luís, no Maranhão.
Reportagens desta Folha mostraram nos últimos dias que o uso indevido do dinheiro público estava longe de ser circunstancial na sua carreira. Durante sete anos, a empregada de seu apartamento em Brasília recebeu salário da Câmara, como secretária parlamentar. Além disso, outro funcionário da Câmara, contratado pelo gabinete de Francisco Escórcio (PMDB-MA), amigo de Novais, trabalhava na realidade como motorista particular da mulher do ex-ministro. São exemplos de almanaque da cultura patrimonialista.
Além dessas miudezas, que precisam ser punidas com rigor, deve-se considerar que este é um governo com número excessivo de ministérios -38 no total.
O Turismo, por exemplo, não tem função estratégica nem é considerado pelo governo nos preparativos para a Copa ea Olimpíada. Do Orçamento da pasta neste ano, de R$ 3,7 bilhões, sobraram menos de R$ 600 milhões -o restante foi bloqueado pelo Executivo.
É um ministério que parece existir apenas para acolher aliados sem nenhum compromisso público, abrigar emendas parlamentares, patrocinar convênios fajutos e dar vazão ao varejo da fisiologia. O país sairia ganhando se essa estrutura fosse extinta.
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