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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

As Dimensões Morais do Governo Obama


Augusto Queiroz*
"The best is yet to come" (O melhor ainda está por vir) e "Yes, we can", "Sim, nós podemos!" Estas frases – pequenas, porém inspiradoras - talvez mais que todas reflitam o novo espírito e o novo modo de pensar que hoje norteiam o jogo de poder na maior potência econômica e militar do planeta. De fato, a ascensão de Barack Hussein Obama II à presidência dos EUA significa mais do que o surgimento de um líder inspirado e talentoso. Suas idéias e sua mensagem central, em essência, nos dizem que podemos ser melhores do que temos sido, não só como pessoas, mas também como nações.
Com seus dons de oratória, sua força moral e seu compromisso de renovação, Obama é um catalisador importante para a mudança. "We are the ones we've been waiting for" (Somos aqueles por quem estávamos esperando), um de seus slogans favoritos, nos alerta que devemos buscar a mudança que procuramos em nós mesmos e que somos capazes de realizá-la.
Que a mudança preconizada por Obama se dá principalmente no fértil mundo dos significados e dos valores fica evidente para todos aqueles que têm olhos para ver. "Rejeitamos a falsa escolha entre nossa segurança e nossos ideais. Os ideais dos fundadores do nosso país ainda iluminam o mundo, e não vamos abandoná-los por conveniência. Nós somos os guardiões desse legado e, guiados por esses princípios, podemos enfrentar novas ameaças que exigem um esforço maior - maior cooperação e compreensão entre as nações. A América vai desempenhar o seu papel em uma nova era de paz", conclamou em seu discurso de posse.
Algumas das suas promessas já começaram a ser postas em prática: a aposta numa nova matriz energética para os EUA com o uso de energias solar e eólica, biocombustíveis e a nomeação do Nobel de Física Steven Chu como novo secretário de Energia. O fechamento da prisão de Guantánamo. A retirada paulatina do Iraque. E, claro, ações imediatas de combate à crise financeira, com maior regulação do mercado e das corporações transnacionais, que hoje acumulam mais poder que muitos países e agem não a partir de ações que beneficiem os povos, mas que atendam à sua ganância e sede de lucros.
Acima de tudo, o mundo espera que, mais do que olhar para o próprio umbigo e pensar apenas nos EUA, Obama adote atitudes que se esperam de um líder global do seu peso. Como o apoio à substituição do anacrônico e posudo G8, que já não reflete a realidade de poder de um mundo multipolar, pelo emergente G20. Reunindo África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, EUA, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Européia, o G20 estará muito mais legitimado como fôro privilegiado de discussões e tomada de decisões a nível planetário.
Por certo, a criação de uma nova ordem global passa também pelo fortalecimento da ONU, que precisa urgentemente vir a ter maior peso e um real poder nas decisões internacionais, pois é para isso que ela foi criada, embora até hoje a humanidade pareça não ter percebido sua verdadeira importância. O que talvez só aconteça quando a Terra for atacada por naves alienígenas, levando a um esforço conjunto de todas as nações em defesa do planeta, e não apenas dos territórios marcados por "cercas embandeiradas que separam quintais".

Universalidade
Voltando ao campo dos valores e da profunda mudança conceitual provocada pela eleição de Obama, vejamos uma de suas declarações recentes: "Minha política baseia-se na crença de que estamos todos conectados. Sou o guardião de meu irmão e sou o guardião de minha irmã, somos todos filhos de Deus." Já no discurso de posse, ressaltou: "saibam que a América é amiga de cada nação e de cada homem, mulher ou criança que procure um futuro de paz e dignidade, e que nós estamos prontos para liderar uma vez mais". Tudo isso passa a idéia de alguém que carrega consigo uma visão maior da humanidade como um todo. E isso ele carrega no seu próprio sangue e vivência cultural, dado às suas características marcantemente híbridas.
Mais do que um híbrido racial, Obama é também um hibrido transnacional. Por isso mesmo, capaz de ver e perceber os EUA de dentro e de fora. Senão, vejamos: nasceu num arquipélago no meio do Oceano Pacífico (Havaí), filho de um pai queniano "negro como carvão" e uma mãe americana"branca como o leite", como ele mesmo os descreve no livro Os Sonhos de Meu Pai. Quando tinha seis anos, sua mãe, já separada de Obama pai, se casou com um engenheiro islâmico e a família se mudou para Jacarta, capital da Indonésia, maior país muçulmano do mundo. Onde o menino Obama, que em pouco tempo falava o indonésio e assimilava a cultura local, brincava diariamente nas ruas com crianças mais humildes.
Tudo isso facilita o diálogo interreligioso e intercultural e coloca Obama como um homem de visão ampla, sem aquele americanismo estreito do presidente que o antecedeu e que tantos estragos causou na imagem americana no mundo. O próprio nome do 44º ocupante da Casa Branca já se configura como uma verdadeira paulada nos radicais muçulmanos que costumam rotular os EUA como "o Grande Satã". Seu primeiro nome, Barack, é derivado do árabe e significa abençoado. O segundo nome, Hussein, é o de um neto do profeta Maomé e do ex-ditador do Iraque (Saddam Hussein). E Obama rima com Osama (bin Laden).
Um ponto interessante é que muitos enfatizam a negritude de Barack, a ponto de esquecer um fato básico: ele é mestiço. Por isso mesmo, transita bem entre dois mundos – o da herança africana de seu pai, com toda sua forte carga de ancestralidade, e o mundo branco de sua mãe – uma garota típica do Meio Oeste dos EUA, com todas as suas qualidades e defeitos. Dois mundos que, ainda hoje, suscitam profundas rupturas na sociedade americana. Rupturas que Obama ajuda a suavizar por sua simples presença e ausência de rancor, não tendo sabiamente colocado a questão racial como tema central da sua campanha. Afinal, sabemos, em última análise só existe uma raça – a raça humana. E, do ponto de vista da política, não importa se o gato é negro ou branco. Se ele caça o rato, ele é um gato bom.
O fato é que, desde Kennedy, os Estados Unidos não apresentavam ao mundo um presidente tão carismático. Segundo Corinne McLaughlin e Gordon Davidson, co-fundadores do Centro para a Liderança Visionária, na Califórnia, e autores do livro "Política Espiritual", com prefácio do Dalai Lama, os americanos apoiaram Obama com tanto fervor "em razão de um novo tom que ele ressoa. A América e o mundo têm consciência de que isto é necessário. Ele soa a nota da união dentro das diferenças, do respeito por todos, da honestidade, das palavras simples e realizando tudo no mais elevado nível de que somos capazes".
Axé Barack abençoado Obama. Se é de paz pode chegar, pois é disso que o mundo precisa.
(Augusto .Queiroz é jornalista - "Escrevi este artigo há 4 anos, no início do 1o mandato de Obama. Pelo visto, continua válido...!!)


(A.Q. - escrevi este artigo há 4 anos, no início do 1o mandato de Obama. Pelo visto, continua válido...!

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