Augusto Queiroz*
"The best is yet to come" (O melhor ainda
está por vir) e "Yes, we can", "Sim, nós podemos!" Estas
frases – pequenas, porém inspiradoras - talvez mais que todas reflitam o novo
espírito e o novo modo de pensar que hoje norteiam o jogo de poder na maior potência
econômica e militar do planeta. De fato, a ascensão de Barack Hussein Obama II à presidência dos EUA significa
mais do que o surgimento de um líder inspirado e talentoso. Suas idéias e sua
mensagem central, em essência, nos dizem que podemos ser melhores do que temos
sido, não só como pessoas, mas também como nações.
Com seus dons de oratória, sua força moral e seu
compromisso de renovação, Obama é um catalisador importante para a mudança.
"We are the ones we've been waiting for" (Somos aqueles por quem
estávamos esperando), um de seus slogans favoritos, nos alerta que devemos
buscar a mudança que procuramos em nós mesmos e que somos capazes de
realizá-la.
Que a mudança preconizada por Obama se dá
principalmente no fértil mundo dos significados e dos valores fica evidente
para todos aqueles que têm olhos para ver. "Rejeitamos a falsa escolha
entre nossa segurança e nossos ideais. Os ideais dos fundadores do nosso país
ainda iluminam o mundo, e não vamos abandoná-los por conveniência. Nós somos os
guardiões desse legado e, guiados por esses princípios, podemos enfrentar novas
ameaças que exigem um esforço maior - maior cooperação e compreensão entre as
nações. A América vai desempenhar o seu papel em uma nova era de paz",
conclamou em seu discurso de posse.
Algumas das suas promessas já começaram a ser
postas em prática: a aposta numa nova matriz energética para os EUA com o uso
de energias solar e eólica, biocombustíveis e a nomeação do Nobel de Física
Steven Chu como novo secretário de Energia. O fechamento da prisão de
Guantánamo. A retirada paulatina do Iraque. E, claro, ações imediatas de
combate à crise financeira, com maior regulação do mercado e das corporações
transnacionais, que hoje acumulam mais poder que muitos países e agem não a
partir de ações que beneficiem os povos, mas que atendam à sua ganância e sede
de lucros.
Acima de tudo, o mundo espera que, mais do que
olhar para o próprio umbigo e pensar apenas nos EUA, Obama adote atitudes que
se esperam de um líder global do seu peso. Como o apoio à substituição do
anacrônico e posudo G8, que já não reflete a realidade de poder de um mundo
multipolar, pelo emergente G20. Reunindo África do Sul, Alemanha, Arábia
Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, EUA,
França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e
União Européia, o G20 estará muito mais legitimado como fôro privilegiado de
discussões e tomada de decisões a nível planetário.
Por certo, a criação de uma nova ordem global passa
também pelo fortalecimento da ONU, que precisa urgentemente vir a ter maior
peso e um real poder nas decisões internacionais, pois é para isso que ela foi
criada, embora até hoje a humanidade pareça não ter percebido sua verdadeira
importância. O que talvez só aconteça quando a Terra for atacada por naves
alienígenas, levando a um esforço conjunto de todas as nações em defesa do
planeta, e não apenas dos territórios marcados por "cercas embandeiradas
que separam quintais".
Universalidade
Voltando ao campo dos valores e da profunda mudança
conceitual provocada pela eleição de Obama, vejamos uma de suas declarações
recentes: "Minha política baseia-se na crença de que estamos todos
conectados. Sou o guardião de meu irmão e sou o guardião de minha irmã, somos
todos filhos de Deus." Já no discurso de posse, ressaltou: "saibam
que a América é amiga de cada nação e de cada homem, mulher ou criança que
procure um futuro de paz e dignidade, e que nós estamos prontos para liderar
uma vez mais". Tudo isso passa a idéia de alguém que carrega consigo uma
visão maior da humanidade como um todo. E isso ele carrega no seu próprio
sangue e vivência cultural, dado às suas características marcantemente
híbridas.
Mais do que um híbrido racial, Obama é também um
hibrido transnacional. Por isso mesmo, capaz de ver e perceber os EUA de dentro
e de fora. Senão, vejamos: nasceu num arquipélago no meio do Oceano Pacífico
(Havaí), filho de um pai queniano "negro como carvão" e uma mãe
americana"branca como o leite", como ele mesmo os descreve no livro
Os Sonhos de Meu Pai. Quando tinha seis anos, sua mãe, já separada de Obama
pai, se casou com um engenheiro islâmico e a família se mudou para Jacarta,
capital da Indonésia, maior país muçulmano do mundo. Onde o menino Obama, que
em pouco tempo falava o indonésio e assimilava a cultura local, brincava
diariamente nas ruas com crianças mais humildes.
Tudo isso facilita o diálogo interreligioso e
intercultural e coloca Obama como um homem de visão ampla, sem aquele
americanismo estreito do presidente que o antecedeu e que tantos estragos
causou na imagem americana no mundo. O próprio nome do 44º ocupante da Casa
Branca já se configura como uma verdadeira paulada nos radicais muçulmanos que
costumam rotular os EUA como "o Grande Satã". Seu primeiro nome,
Barack, é derivado do árabe e significa abençoado. O segundo nome, Hussein, é o
de um neto do profeta Maomé e do ex-ditador do Iraque (Saddam Hussein). E Obama
rima com Osama (bin Laden).
Um ponto interessante é que muitos enfatizam a
negritude de Barack, a ponto de esquecer um fato básico: ele é mestiço. Por
isso mesmo, transita bem entre dois mundos – o da herança africana de seu pai,
com toda sua forte carga de ancestralidade, e o mundo branco de sua mãe – uma
garota típica do Meio Oeste dos EUA, com todas as suas qualidades e defeitos.
Dois mundos que, ainda hoje, suscitam profundas rupturas na sociedade
americana. Rupturas que Obama ajuda a suavizar por sua simples presença e
ausência de rancor, não tendo sabiamente colocado a questão racial como tema
central da sua campanha. Afinal, sabemos, em última análise só existe uma raça
– a raça humana. E, do ponto de vista da política, não importa se o gato é
negro ou branco. Se ele caça o rato, ele é um gato bom.
O fato é que, desde Kennedy, os Estados Unidos não
apresentavam ao mundo um presidente tão carismático. Segundo Corinne McLaughlin
e Gordon Davidson, co-fundadores do Centro para a Liderança Visionária, na
Califórnia, e autores do livro "Política Espiritual", com prefácio do
Dalai Lama, os americanos apoiaram Obama com tanto fervor "em razão de um
novo tom que ele ressoa. A América e o mundo têm consciência de que isto é
necessário. Ele soa a nota da união dentro das diferenças, do respeito por todos,
da honestidade, das palavras simples e realizando tudo no mais elevado nível de
que somos capazes".
Axé Barack abençoado Obama. Se é de paz pode
chegar, pois é disso que o mundo precisa.
(Augusto .Queiroz é jornalista - "Escrevi este artigo há 4 anos, no início do 1o mandato de Obama. Pelo visto, continua válido...!!)
(Augusto .Queiroz é jornalista - "Escrevi este artigo há 4 anos, no início do 1o mandato de Obama. Pelo visto, continua válido...!!)
(A.Q. - escrevi este artigo há 4 anos, no início do 1o mandato de Obama. Pelo visto, continua válido...!
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