A política reduzida a indivíduos. O fim de projetos políticos. A separação estanque do passado com o presente. A desqualificação gratuita e sem fundamento de um político que pautou sua vida em defesa da população baiana, especialmente dos mais pobres, e que acaba de ser votado por quase a metade da população de Salvador, embora tenha perdido as eleições. Este o resumo do artigo de Risério, em que aborda eleições. Risério adora a polêmica, e muitas vezes os que pensam diferente dele deixam suas opiniões passar batido, como costuma dizer o povo. Nesse caso, não acredito seja positivo silenciar. Recorro a Paulinho da Viola: “Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim”...
Será que dá mesmo para misturar Freixo, ACM Neto e Fernando Haddad como se fossem a mesma coisa? Como se não houvesse diferenças entre eles? Será possível pensar que votar nesses três significa coerência? Por menos que pretenda Risério, são projetos distintos. Projetos diversos de País, de concepção da política, e num caso ao menos, o de ACM Neto, de concepções distintas de mundo. Este último, por obviedade, é um homem de direita, tem concepções de direita, seu partido, hoje e ontem, é de direita. Como misturar um político que encarna esse projeto com dois que são de esquerda, embora diferentes entre si, e com visões diferentes de Brasil? Quem tenha acompanhado pouco que seja a atuação de ACM Neto na Câmara Federal, há de louvar sua coerência de político conservador, nitidamente neoliberal, e nisso nunca vacilou.
Como sustentar que o PT não tem projeto? Chega a ser irresponsabilidade, pobreza teórica, ausência de conhecimento, incapacidade de acompanhar a história recente do País, afirmar uma coisa dessas. Não me altere o samba tanto assim. Risério não sabe nada do PT. Foi esse partido, tão atacado, que conseguiu eleger Lula em 2002, ao convencer o nosso povo, em sucessivas eleições, que era preciso mudar o Brasil. E conseguimos. Não apenas vencer três eleições, mas mudar o Brasil, e só o fizemos porque temos projeto. Se Lula é um desses seres raros, de uma capacidade política única, a maior liderança de todos os tempos no Brasil, não é um político solitário, muito ao contrário. Sabe, nunca se esqueceu disso, que sua vida está intimamente vinculada ao PT, a um projeto político construído coletivamente, até hoje.
Qual o projeto político do DEM? É claro, não tergiversa. A favor de tudo aquilo que, por exemplo, foi feito durante os oito anos de governo neoliberal, entre 1994 e 2002: privatização selvagem, endividamento suicida, submissão completa ao FMI, diminuição do poder do Estado, precarização dos serviços públicos, contra quaisquer políticas que possam melhorar a vida dos mais pobres, contra a política de cotas, mesmo que eventualmente, durante as eleições, queiram mascarar suas posições. Não há como negar que o DEM insurgiu-se contra a política de cotas, inclusive indo ao STF para tentar barrá-la. As posições do DEM estão na cena brasileira, em minoria, mas uma posição, um projeto político defendido por ACM Neto. Que ganhou as eleições em Salvador. O projeto que ele defende ganhou, e isso é parte da vida democrática, e quem quer que conheça o projeto do PT saberá que nunca houve qualquer vacilação do partido com relação à democracia, desde o seu nascedouro.
Por tudo isso, não é possível aceitar que vinho e água sejam a mesma coisa, que direita e esquerda se equivalem, ou que o PT não tenha projeto. Mais: Pelegrino, por sua história, por sua militância, por seus compromissos com as melhores causas do povo do Brasil, da Bahia e de Salvador, pelas responsabilidades políticas que assumiu na Câmara Federal, no governo da Bahia, sem que nada o maculasse, não merece ser tratado da maneira como o fez Risério, com tanta agressividade e desrespeito. Perder uma eleição é da vida política. A cidade se dividiu, paciência. Pelegrino seguirá em frente, defendendo o projeto político que apresentou. Estará sempre a favor de Salvador, com a serenidade de quem sempre defendeu a democracia, parte inseparável de sua trajetória.
*Artigo publicado orginalmente na edição desta quarta-feira, 14, no jornal A Tarde, produzido em resposta ao texto Esquecendo Eleições, escrito por Antônio Risério e publicado na edição do último sábado, 10, no mesmo veículo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário