Antônio Risério*
Entendo que
o jornalista e escritor Emiliano José, em sua ainda condição ou função
comissarial, tenha se visto na obrigação de assumir as dores de Nelson
Pelegrino, candidato derrotado à Prefeitura de Salvador. Tudo bem. Mas nem por
isso precisava falsificar o artigo que escrevi e publiquei aqui.
Porque é
realmente escandalosa a diferença entre o que eu escrevi e o que Emiliano José
leu. O lance é distorcer para poder contestar? Não, meu caro. Veja o que você
acha que eu disse: "O fim de projetos políticos. A separação estanque do passado com o
presente. A desqualificação gratuita de um político que pautou sua vida em
defesa da população baiana... Será que dá mesmo para misturar Freixo, ACM Neto
e Fernando Haddad como se fossem a mesma coisa?".
Primeiro,
não leve para o plural o que coloquei no singular. Não falei em "fim de
projetos políticos" pelo simples motivo de que não acredito nisso.
Projetos políticos existem desde tempos paleontológicos. E vão existir sempre. Aprendemos
essa lição com Aristóteles, ok? O que falei foi específico: a crise projetual
do PT. Se você quer discutir com seriedade, discuta isso. E comece pelas
leituras de André Singer (o autor de Os Sentidos do Lulismo: Reforma Gradual e
Pacto Conservador) e Tales Ab'Saber, em Lulismo: Carisma Pop e Cultura
Anticrítica.
Segundo:
Pelegrino, no Congresso, não fez nada de importante para Salvador. Seus
projetos foram em boa parte recusados. E ele ainda quis inventar uma esdrúxula
Universidade da Região Metropolitana de Salvador. Quando Mário Kertész ainda
estava na dúvida se seria ou não candidato, encomendei a uma especialista no
assunto (a melhor que temos hoje no Brasil: Susi Aissa) um levantamento
completo - estatístico e analítico - do desempenho de Pelegrino como deputado.
Ela ficou chocada. Pelegrino não tinha feito nada. Passou em brancas nuvens
seus muitos anos de deputado. Portanto, Emiliano, não minta. Não venha dizer
que o bobão que vocês inventaram passou a vida lutando em defesa do povo de
Salvador. Em momento algum escrevi que era possível "misturar"
Freixo, Neto e Haddad. São pessoas e personalidades completamente distintas.
Tanto que, se Pelegrino tivesse sido o candidato do PT em São Paulo, eu teria
votado em Serra. Mas a discussão não é essa, Emiliano, e você deveria saber
isso. A discussão é: por que tanta gente (incluindo artistas e intelectuais)
hoje, no Brasil, se dispõe a votar em candidatos de partidos diferentes entre
si (para o PSOL, Emiliano, vocês do PT estão quase na direita)? Qualquer
análise séria tem de começar por aqui, pela crise do partidocratismo tristetropical.
Aliás,
podemos levantar aqui outra discussão, meu caro. Sobre pessoas na política. A
psicanálise e o existencialismo acabaram com qualquer ingenuidade
"holística" sobre o tema. E Adam Przeworski está certo quando diz que
o marxismo é uma teoria da história que não foi capaz de elaborar uma teoria
das ações das pessoas que fazem esta mesma história. E sempre será
insatisfatória, na minha modesta opinião, qualquer teoria da história que seja
incapaz de dar conta da ação dos indivíduos. Mas, enfim, acho que realmente não
sei nada do PT. Apenas por acaso participei de 2002, quando meu amigo Palocci
discutiu, com os redatores da campanha, os termos da hoje célebre "Carta
aos Brasileiros". Ah, e Dilma não era do PT, mas do PDT de Brizola e Darcy
(preencheu a ficha petista para poder fazer o que ainda está fazendo: ao se
mover assim, Dilma prega "o fim dos projetos políticos"?). Por fim,
Emiliano, deixe Paulinho da Viola em paz. Ele é claro, limpo e lógico. Belo e
profundo exemplo de conservador, no campo estético. Pelegrino, ao contrário,
não é belo, nem profundo, nem exemplo. Muito menos exemplo, para dizer a
verdade. Quanto a dizer que ele teve quase a metade dos votos da população de
Salvador, pense no seguinte: foi esta mesmíssima população que elegeu, por duas
vezes!, o atual desprefeito João Henrique. Respeitemos o voto, sim. Mas sem
manipular as coisas, nem reverenciar a burrice. *escritor e articulista do
jornal A TARDE
Este artigo
responde ao de Emiliano José, "Pensando em Política"
(http://atarde.uol.com.br/politica/materias/1467243-artigopensando-em-politica)
, publicado em 14/11/2012, como réplica ao artigo anterior de Antonio Risério,
"Esquecendo Eleições
Acompanhei.
ResponderExcluirBate boca de comadres.
Esse pessoal precisa aprender a argumentar melhorzinho. Sugiro começarem pelo Grau Zero da Escrita (tem até edição paperback).
Poupem-me!