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terça-feira, 30 de abril de 2013

Triste Bahia


Manuca Ferreira
Responda rapidamente: quem é o maior pensador baiano atualmente? Não, não vale Robyssão, que prometeu um livro inspirado em George Orwell. Tampouco a pequena grande liderança política Pepy Safado. Passamos por um vazio de pensamento que compromete seriamente o futuro do estado. A Bahia, que já produziu figuras do quilate de Ruy Barbosa, Rômulo Almeida, Anísio Teixeira, Milton Santos, hoje sofre uma aridez tamanha nos meios políticos. Os citados já morreram, mas mesmo grandes figuras políticas de outras gerações (que pensam o estado), ainda vivos, passam por um processo de serem deixados de lado como é o caso do ex-governador Waldir Pires. Qual é a Bahia que queremos? Não se trata de quem está no poder. As alternativas políticas ao atual governador do estado, nem de longe, podem ser enaltecidas como capazes de fazer algo melhor do que está posto, afinal de contas têm também a sua parcela de responsabilidade. Se fossem tão bons quanto dizem ser, não teríamos lugares do estado vivendo em condições análogas à Europa medieval. “E uma terceira via?”, podem questionar alguns. A nossa atual terceira via se assemelha tanto com a segunda no modo de pensar e agir, que não é à toa estarem de namoro público para se tornarem uma só. Aliás, qual é o projeto de quem quer a cadeira do Palácio de Ondina? “Ah, ainda não temos projeto”, argumentam. Se não têm projeto, a disputa é pelo poder puro e simples? Os discursos são pequenos: “Ah, Pernambuco está passando a Bahia. Ah, isso. Ah, aquilo”. Que bom que Pernambuco e o resto do nordeste estão se desenvolvendo. A Bahia, idem. Em questões econômicas, estamos excelentes. O que preocupa é a falta de perspectiva intelectual. Alguém que queira moralizar os nossos costumes políticos, por exemplo, avançando em pensamento republicano, que não esteja a fim de lotear o Estado com indicações políticas. Não sou ingênuo e concordo que quem ganha tem que governar junto, dando espaço aos aliados, mas como diz um professor meu: o que explica a necessidade do presidente do Fundo de Amparo à Pesquisa ser um indicado político, sem as devidas condições acadêmicas para o cargo? Há que se ter limite. É preciso alguém que se preocupe de fato com a nossa memória cultural. Salvador está largada às traças e ao mercado imobiliário. Só não vê quem não quer. A culpa é do governador ou é da prefeitura? De ambos? Talvez. Mas, sem dúvida, ainda mais do gestor municipal que tem que pensar isto aqui de forma grandiosa. É inadmissível com o tamanho que tem, Salvador não possuir uma secretaria ou um gestor cultural que assuma a manutenção do Patrimônio Histórico da Humanidade. Salvador tem que ser capaz de manter o Pelourinho em funcionamento. Tem que ser capaz de reformar o entorno da Igreja da Conceição da Praia, melhorar o Subúrbio Ferroviário e entregar à população uma orla decente. Não se justifica mais de dois anos de embargo judicial em relação às novas barracas de praia e não se ouve uma palavra sequer das autoridades municipais. Aliás, que autoridades? A capital baiana é a terceira maior cidade do País. Precisa de transporte público de qualidade. Sem essa de que o ônibus é a grande opção que nós temos. Que piada! Salvador precisa de metrô, de ônibus, de bonde, de VLT, de trem, BRT, tudo integrado e funcionando o maior tempo possível. A título de registro, o metrô de São Paulo funciona das 4h40 a 1h em alguns dias da semana. E não para ficar apenas na seara dos governos, precisamos de empresários que queiram o desenvolvimento intelectual disso aqui. Um mercado jornalístico mais ousado e menos amigo do governo e das oposições, que não se contente com jogos políticos e/ou econômicos. Por enquanto, meus amigos, o que vejo é que a Bahia parou de pensar.

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