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segunda-feira, 13 de julho de 2015

Rua Chile atrai 155 milhões e será revitalizada



Valor Econômico*

Um projeto privado estimado em R$ 150 milhões prevê começar o resgate da primeira rua do Brasil, a rua Chile, em Salvador, pela reabertura do que foi até os anos 1960 o mais luxuoso hotel do Nordeste brasileiro, o Salvador Palace – tantas vezes cenário do escritor Jorge Amado, que lá narrou encontros entre os personagens Vadinho e dona Flor.

Esse é o plano do sócio fundador da Fera Investimentos, Antonio Mazzafera. Herdeiro da Expresso Gardênia, terceira maior empresa de ônibus de Minas Gerais, ele trocou o negócio da família para apostar tudo nesse projeto. “Dizem que ou sou visionário ou louco”, diz o criador da firma que administra recursos próprios e “de pessoas que não querem ser identificadas”.

Mazzafera quer fincar um hotel de luxo na rua mais antiga de Salvador, primeiramente chamada de rua Direita e hoje de rua Chile. Foi lá que o primeiro governador-geral da colônia lusa no Brasil, Tomé de Souza, ergueu o palacete do governo. “Vou usar tudo o que aprendi no Claridge’s e no Savoy”, diz.

Quando o fundo de investimento Trust Blackstone comprou, em 1998, o Maybourne HOTEL Group, juntou bandeiras de luxo sob um mesmo grupo. Recém-saído de Harvard, Mazzafera foi contratado, então, para a área financeira do grupo. Passou por várias funções até chegar a diretor global de marketing. “No Brasil, os únicos hotéis de luxo de verdade que temos são Copacabana Palace, Fasano e Emiliano”.

O Salvador Palace terá 81 apartamentos, 2 restaurantes, 2 bares, salões de festas e uma piscina na cobertura, com vista para a Baía de Todos os Santos. Para manter o estilo “art déco”, de 1934, as obras – que começaram em outubro – seguem a ritmo artesanal para respeitar as determinações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Não é um trabalho de construção; é uma restauração”, conta Mazzafera.

A conclusão da obra, prevista para abril de 2016, representa apenas o primeiro desafio da Fera Investimentos; o segundo será atrair hóspedes. A rua Chile atravessa quatro décadas de abandono.

Casarões históricos estão abandonados. Na vizinha ladeira da Montanha, a prefeitura derrubou 31 imóveis porque chuvas recentes colocaram em risco várias construções.

“Vamos resgatar o centro histórico. E o Salvador Palace será a primeira das atrações”, diz Mazzafera. O executivo vem comprando imóveis na rua Chile para recuperar edificações e atrair lojas, escritórios e casas de entretenimento. Ao longo dos últimos dois anos foram adquiridos 30 mil metros quadrados de 16 prédios, somando gastos de quase R$ 40 milhões. “Comecei pagando R$ 1 mil pelo metro quadrado.

Hoje, os preços superam R$ 2,5 mil”, diz o empresário.

O metro quadrado na rua Chile custa cerca de um quinto de valores pagos na avenida Lafayete Coutinho, à beira-mar, perto dali. Mas o custo da construção no centro histórico é mais que o dobro desta avenida por causa das demandas do Iphan. “Por isso nenhuma grande rede de hotelaria apostou nesse projeto”, diz Mazzafera, que contratou o arquiteto dinamarquês Adam Kurdahl, curador da última Bienal de Arquitetura de Veneza, e o arquiteto baiano David Bastos, para desenhar os projetos.

Depois do Salvador Palace, a Fera Investimentos começa as obras nos demais prédios, como o Palacete do Tira-Chapéu, o Tesouro 17 e as Ruínas do Sodré. No futuro, essas casas vão abrigar lojas, galerias de arte, restaurantes, bares, edifícios residenciais e escritórios. “Para os centros residenciais já tenho unidades vendidas”, conta Mazzafera, que também negocia com duas varejistas a locação de um prédio comercial a funcionar no Palacete Tira-Chapéu, de 1917.

Mazzafera observa que sem a participação pública, o investimento privado na rua Chile terá dificuldade para atrair outras empresas. “A gente conta com isso”, diz o empresário.

O governador da Bahia, Rui Costa, confirmou o apoio à iniciativa. “Contamos com investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a pavimentação de vias importantes, incluindo a rua Chile”, disse, referindo-se à verba de R$ 1,6 bilhão, anunciada em 2013 para ações em cidades históricas.

A Fera Investimentos contratou também financiamento da Desenbahia – Agência de Fomento do Estado da Bahia -, que tem linhas para atividades empreendedoras voltadas ao turismo.

O prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, apontou que a proposta para a rua Chile é válida. “Buscamos sempre atrair a iniciativa privada para INVESTIR na recuperação do nosso patrimônio histórico”, apontou. Segundo o Superintendente do Iphan da Bahia, Carlos Amorim, o projeto da rua Chile faz parte da recuperação do centro da capital baiana. “Na nossa visão, esta é a maneira mais rápida de recuperar a importância dos centros históricos, dando a eles função na vida das pessoas”.

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