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sábado, 29 de outubro de 2016

Zuemir Ventura*
 Crivella representa não um eventual desvio, mas um planejado projeto de poder com a política a serviço da religião
Como convencer do contrário os quase 20% de eleitores que amanhã pretendem optar pelo “não voto”, ou seja, os que vão votar em branco, anular ou simplesmente abster-se? Eu mesmo, que pertenço à geração que lutou tanto para conquistar esse direito, confesso que fiquei tentado a embarcar nessa nau dos desencantados. Poucas vezes meu título de eleitor velhinho, todo amarelado, teimou tanto em permanecer na gaveta, inclusive porque a lei dispensa os idosos de usá-lo. 
Foi muito difícil escolher entre dois extremos — um religioso e outro político — para um cargo que, antes de tudo, exige a humildade de um competente gestor. Mas como em eleição não há neutralidade, vota-se mesmo quando se pensa não estar votando, acabei optando por Freixo, apesar de sua tentação pelo método da violência com pedras, paus e rancor, como se isso fosse instrumento de transformação. O esquerdismo é “a doença infantil do comunismo”, como proclamou Lênin, que não pode ser acusado de reacionário ou direitista. Mas é um mal que tem cura, como a História tem demonstrado sobejamente, inclusive no Brasil.
Já Crivella representa não um eventual desvio, mas um planejado projeto de poder com a política a serviço da religião. Quem me diz isso não são os repórteres que ele xinga de “patifes” da “Veja” e “vagabundos” do GLOBO. Mas ele mesmo, o pastor que nos discursos de campanha promete não misturar religião e política, uma separação que, como ele sabe, é a base constitucional do Estado laico. Mas em um vídeo feito provavelmente num templo em que estava pregando, ele pede orações, posto que “já temos dinheiro e até aviões”. E com a soberba de quem se acha íntimo de Jesus, afirma com todas as letras: “Os evangélicos ainda vão eleger um presidente da República que vai trabalhar por nossas igrejas para cumprirmos a missão de levar o evangelho a todas as nações da Terra”.
Com humor, ele adverte que a realização do plano talvez não seja para o seu tempo. E, por modéstia, evita dizer que já está fazendo a sua parte no cumprimento da “profecia” que, segundo garante, foi traçada há dois mil anos: “evangelizar todos os países da Terra”. Não acho justo que prefeitura de uma cidade precisando de tanta atenção como a nossa venha a ser apenas o trampolim para esse ambicioso salto, para essa catequese global. Algumas das piores tragédias do mundo moderno se devem a essa mistura.
Às vésperas de completar 7 anos, minha neta Alice desabafou: “Não ligo pra ser famosa, eu só quero paz”. Ela e o Rio de Janeiro.

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