Vinicius Torres Freire*
Redução de juros no BB e na CEF pode se transformar num teste sobre o nível de concorrência bancária
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal prometem grande redução das taxas de juros, como no caso do cheque especial. Esperam assim tirar clientes de instituições privadas. A depender de como a coisa vá funcionar, a promoção pode se tornar um teste da concorrência entre bancos comerciais.
O que está havendo?
1) O governo Dilma entrou em rebuliço quando percebeu que o crescimento econômico seria também baixo no primeiro trimestre;
2) O governo atribui parte do marasmo à alta dos juros para o tomador final, apesar da queda da "taxa básica" (a Selic) desde agosto;
3) O governo deu broncas nos bancos. No caso dos estatais, a bronca já teve consequências. O governo acredita que a "liquidação de juros" nos estatais deva induzir os privados a se mexerem.
A expressão "liquidação de juros" vem devidamente entre aspas porque taxas de juros não são bananas ou geladeiras, que em geral vendem mais quando seus preços caem.
A fim de saber a influência que a "queima geral" de juros no BB e na CEF pode ter no mercado, é preciso em primeiro lugar avaliar o tamanho da promoção e as condições em que serão aceitos os novos clientes do juro baixinho. Se o movimento for pequeno, promoção de marketing apenas, não vai fazer efeito.
Segundo, é preciso lembrar que esse mercado de serviços bancários é muito imperfeito, "falho". As empresas são poucas, a informação para o cliente é ruim etc. Mais importante, neste caso: o custo de mudar de banco não é pequeno (a começar pelo custo da amolação).
Terceiro, os bancos privados podem ter razão em dizer que não vão arriscar fundos, fazer mais empréstimos, porque o mar não está para peixe, a inadimplência está alta, a economia se recupera devagar e tudo isso é risco maior -de perdas, de ameaça à saúde financeira da instituição. Podem querer deixar o prejuízo para os estatais (como muita gente pensou, equivocadamente, que seria o caso na expansão de crédito da banca pública em 2008-09).
Mas pode bem ser também que os bancos estejam confortáveis com um (suposto) baixo nível de concorrência e, assim, enfiem a faca à vontade. A facada não ocorre apenas em taxas de juros. Vide o custo da taxa de administração dos fundos de investimento. Os bancos apenas vão se mexer quando o dinheiro começar a migrar para a poupança. Pode ser que o negócio seja dominado pelo oligopólio da indolência e do conforto da baixa competição.
Nesta semana, os bancos vão pedir ao governo medidas que os ajudem a baixar os juros, que de fato são altos também porque o mercado padece mesmo de inseguranças jurídicas que encarecem o crédito e, bidu, há impostos demais.
Se levarem alguma das reivindicações, podem baixar taxas -mas isso ainda demoraria. Pode ser ainda que a redução de juros viesse com a recuperação da economia e da capacidade de pagamento média dos consumidores, mais adiante.
Assim, no curto prazo, a baixa dos juros dos estatais pode ser um teste. Se a ofensiva dos bancos públicos for relevante e os privados reagirem, dentro de alguns meses (tempo bastante para avaliar inadimplências, rentabilidades e juros), pode ser que tenhamos feito um experimento importante sobre a concorrência bancária no Brasil.
*Articulista do jornal Folha de São Paulo
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