Drauzio Varela*
Em essência, a ereção é um fenômeno vascular. Só acontece quando as artérias que irrigam o pênis se dilatam e as válvulas das veias se fecham, de modo que o sangue fique aprisionado sob pressão nos corpos cavernosos, dois tubos de tecido esponjoso que vão da raiz do pênis à glande.
Na fase de excitação, há elevação da pressão arterial – tanto da máxima como da mínima – e aumento da frequência cardíaca. Em mulheres e homens, o maior aumento ocorre nos dez a quinze segundos que precedem o orgasmo, depois do qual a pressão e os batimentos cardíacos voltam aos níveis anteriores.
Em pessoas normotensas, o coração dificilmente chega a bater mais de 130 vezes por minuto e a pressão máxima a ultrapassar a casa dos 17.
Estudos com homens mais jovens, casados, demonstraram que a atividade sexual com a companheira consome uma quantidade de energia equivalente à da atividade física para subir dois lances de escada.
Embora faltem dados, é possível que nos mais velhos, sedentários, hipertensos, portadores de problemas cardíacos e com mais dificuldade para atingir o orgasmo, o esforço realizado corresponda a um gasto energético bem maior.
Nesses casos, minutos ou horas depois do ato sexual, podem aparecer dores precordiais, conhecidas como “angina do amor”, caracterizadas por dor em aperto do lado esquerdo do tórax com ou sem irradiação para o pescoço e o braço. Essas crises, no entanto, correspondem a menos de 5% dos ataques de angina.
Uma metanálise de quatro estudos realizados com mulheres e homens de50 a70 anos mostrou que, durante o ato sexual, o risco de infarto do miocárdio aumenta 2,7 vezes. Os que já tiveram infarto ou outra doença cardiovascular não correm risco mais alto. Nos sedentários, a probabilidade é três vezes maior; naqueles fisicamente ativos, ela não aumenta.
Ainda assim, o número absoluto de eventos cardiovasculares durante o ato sexual é mínimo: correspondem a menos de 1% do total de infartos. Quanto mais sexo houver, mais baixo será esse risco. Em mulheres e homens que já sofreram infarto, a probabilidade de ocorrer outro é insignificante: de um a dois para cada 100 mil horas de prática sexual.
Em 5.559 autópsias realizadas após morte súbita, apenas 34 (0,6%) haviam acontecido durante o ato sexual. Cerca de 85% eram homens; a maioria deles ao manter relações extramaritais com mulheres mais jovens em ambientes estranhos e/ou depois de consumo excessivo de alimentos ou álcool.
Alguns medicamentos usados no tratamento da hipertensão e das doenças cardiovasculares podem ter impacto negativo nos mecanismos de ereção e lubrificação vaginal.
Os homens podem beneficiar-se dos chamados inibidores da fosfodiesterase 5: sildenafila, tadalafila e vardenafila, drogas que aumentam a concentração local do óxido nítrico, responsável pela dilatação das artérias que nutrem o pênis.
A sildenafila e a vardenafila têm ação relativamente curta: em cerca de 4 horas metade da dose é excretada (meia-vida). Já a tadalafila tem meia-vida de 17,5 horas (pílula do fim de semana). Não há indícios de que alguma dessas drogas seja mais eficaz ou segura do que a outra. Na literatura médica, não há relato de mortes causadas por elas.
Com frequência encontro homens que se recusam a tomá-las com medo de que interfiram com os remédios para a hipertensão. Essa preocupação é infundada: não existe incompatibilidade.
A única contraindicação é representada pelos nitratos orgânicos, vasodilatadores coronarianos usados por via oral, sublingual ou na forma de adesivos. Nesses casos, a associação pode causar queda imprevisível da pressão arterial. Se você toma remédios para o coração, verifique se contêm nitrato.
Se tiver tomado sildenafila ou vardenafila nas últimas 24 horas ou tadalafila nas últimas 48, e for parar num pronto-socorro por alguma emergência cardiológica, avise os médicos. Você não poderá receber nitratos no decorrer desses períodos.
E para as mulheres?
Infelizmente, nenhuma dessas drogas aumenta o desejo sexual. A única providência recomendada é a aplicação ginecológica de cremes contendo estrógeno, capazes de reduzir a secura e a atrofia da mucosa vaginal associada à menopausa.
Lembre: não existe limite de idade para a vida sexual.
*Médico e escritor
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