O PMDB deflagrou ontem uma operação para blindar o governador do Rio, Sérgio Cabral, nas investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura as relações do empresário Carlos Cachoeira com os setores público e privado. Ela consiste em buscar o apoio da oposição e do PT, em especial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para evitar sua ida à comissão.
O vice-presidente da República e presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, convocou uma reunião na tarde de ontem em seu gabinete no Palácio do Planalto da qual participaram o líder da legenda na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o vice-líder, deputado Eduardo Cunha (RJ). O objetivo era avaliar a conjuntura política da CPI e como evitar que a apuração respingue em Cabral, o principal governador pemedebista.
Nos últimos dias, ele apareceu em fotos e vídeos com o ex-sócio da construtora Delta, o empresário Fernando Cavendish, em jantares em restaurantes de luxo em Paris. Cavendish é apontado nas investigações da Polícia Federal como importante interlocutor nos negócios ilícitos de Cachoeira. E foi na gestão de Cabral que a Delta obteve grandes contratos para execução de obras, muitos deles sem licitação.
Temer, Alves e Cunha decidiram procurar lideranças petistas e da base aliada para informar que o foco da CPI deve ser estritamente o que prevê seu objeto: as relações de Cachoeira com o setor público e privado. Além disso, outros argumentos a serem utilizados são: se Cabral for convocado, todos os 23 governadores que tenham contratos com a construtora Delta também devem depor na CPI; Cabral nunca escondeu a amizade com Cavendish e ninguém pode ser culpado apenas por manter relações pessoais com empresários; tudo não passa de um embate político entre Cabral e o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), que tem divulgado todo o material contra Cabral em seu blog. Por fim, alegam que a Delta iniciou suas relações com o Rio na gestão de Garotinho.
Em outra frente, o próprio governador fluminense fará uma ofensiva pessoal com setores da oposição, como o PSDB, e com o PT. Seu grande trunfo é a íntima relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que praticamente apadrinhou a criação da CPI para o PT. Cabral terá um encontro reservado com Lula, no Rio, hoje pela manhã, antes de um seminário do BNDES sobre investimentos do governo federal na África. Interlocutores do governador afirmam que ele apresentará sua "defesa" a Lula e pedirá seu apoio.
Se, ainda assim, houver pressão para a convocação de Cabral, a aposta é no alinhamento da ampla maioria governista presente na CPI. "Há uma questão política e ela deve ser resolvida politicamente. Se houver um requerimento para convocá-lo, vota-se e derrota-se", afirmou Eduardo Cunha.
A cúpula do PT acatou essa linha de atuação, prometeu defender Cabral e evitar sua convocação. A avaliação é de que Cabral integra o principal partido da base da presidente Dilma Rousseff e que o partido tem inclusive duas secretarias em seu governo. Essa posição, contudo, não é unânime. "A CPI tem obrigação de investigar as relações do governo do Rio com a Delta. Todas as evidências mostram relações mais do que íntimas e a empresa tem sido beneficiada com seguidas dispensas de licitação. por que não investigar isso?", disse o deputado Alessandro Molon (PT-RJ).
Outros setores petistas no Estado declararam que darão respaldo público a Cabral, embora nos bastidores comemorem o fato de ele estar sendo alvo de ataques. O motivo, segundo eles, é que o PMDB é hegemônico no Estado e assim tem conduzido as negociações das alianças eleitorais. Há pelo menos 15 municípios em que o PT tem pedido apoio do PMDB nas candidaturas municipais, ainda sem resposta. O caso mais crítico é o de Niterói, onde os pemedebistas querem apoiar a reeleição do prefeito do PDT, Jorge Roberto Silveira. Isso a despeito do pré-candidato petista Rodrigo Neves estar mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais. Há ainda uma segunda avaliação: a de que um Cabral fragilizado favorece a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) à sua sucessão em 2014.
A tendência, contudo, é de que a ofensiva da cúpula do PMDB tenha o efeito desejado. Inclusive já se ventila a possibilidade de um grande acordo entre os três maiores partidos do Congresso, uma vez que PT e PSDB também têm governadores sob o alvo da CPI. Respectivamente, Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, e Marconi Perillo, de Goiás. Além disso, ao PT também interessaria evitar que a CPI avance sobre as relações da Delta com o governo federal. "A cada vez que entra um novo ator de peso nas investigações, aumentam as chances de um grande acordo partidário", afirmou um petista da alta hierarquia partidária.
*Caio Junqueira de Brasília para o Valor Econômico
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