"Estou na fase de preparação do segundo volume da biografia de Barack Obama. A partir do trabalho histórico que fiz ao longo dos anos, com figuras que vão de Bill Clinton a Barack Obama, penso que direi que ele tem a capacidade de crescer e aprender, se lhe derem a chance, o que pode parecer pouco, mas não é verdade para a maior parte dos políticos.
Em certo sentido, a história de Obama mudou logo assim que ele entrou na Casa Branca e teve de governar como presidente. Até então, ele era, em grande medida, um símbolo, para os EUA e para o mundo, mas depois disso foi reduzido às suas dimensões humanas, com fragilidades humanas. Seu papel na história vai se expandir de novo, logo que ele sair da Casa Branca. Livros vão ser escritos sobre ele ao longo do século, por tudo que ele conseguiu realizar só por ter sido eleito presidente.
Em 2008, o candidato Obama permitiu-se o luxo de ser visto como um símbolo de esperança e mudança, mesmo sabendo dos perigos dessa representação. Era, ao mesmo tempo, uma estratégia eleitoral e, até certo ponto, aquilo em que ele acreditava a respeito de sua própria condição excepcional. Ele acreditava que poderia ser a figura da transformação e transcender as terríveis divisões partidárias da política americana moderna. Isso se revelou uma perspectiva ingênua, e ele teve de lutar para se encontrar politicamente ao longo de todo seu mandato. Apesar dessa imagem límpida, a verdade sobre Obama é que se trata de um político extremamente prático e pragmático, que se satisfaz ao conseguir o que pode conseguir, quando e onde for capaz.
É uma enorme injustiça esperar que uma única pessoa mude uma nação. Ele era meramente o reflexo de uma nação em plena mudança, com atitudes em mutação. Temos o hábito de acreditar que o arco da história se dobra na direção da justiça e dos direitos civis, e Obama é um marco de grande importância nessa longa jornada histórica, mas isso não faz dele alguém que possa, sozinho, alterar séculos de sociologia cultural. Ele representa algo ao mesmo tempo auspicioso e frustrante. Como mostro em meu livro, mesmo quando era muito jovem, com meros 22 anos, Obama já pensava que tinha de tentar 'abraçar tudo', o que inclui servir de ponte entre as raças e as ideologias. Isso é uma tarefa sobre-humana, mas ele não é sobre-humano.
A esquerda considerou Obama conciliatório demais e a direita o considerou muito fraco, mas nenhuma dessas posturas é útil para examinar como ele age ou por que ele faz o que faz. Acho que uma maneira mais útil de encará-lo é dizer que sua vida é definida por seus esforços para evitar armadilhas. A armadilha física de ter nascido numa ilha, a psicológica de ter crescido sem pai, a sociológica de crescer birracial, e as infinitas armadilhas da política. É assim que ele interage com o mundo. É por isso que, às vezes, ele parece lento. Ele está tentando entender onde as armadilhas estão e como pode contorná-las.
Os ataques vindos da direita, como quando lhe exigiram que exibisse a certidão de nascimento, e as insinuações de que seja muçulmano, dizem menos a respeito de Obama do que dos atacantes. Quando tentamos entender o que orienta a ação dessas pessoas, que desafiam os fatos e o bom senso, o que aparece são o medo de transformações demográficas e o racismo."
David Maraniss, autor de "Barack Obama: The Story" (Simon & Shuster, 2012) e "First in His Class: A Biography Of Bill Clinton" (Simon & Shuster, 1996)
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