Em conversa cordial mas objetiva com a presidente Dilma Rousseff,
o governador Eduardo Campos formalizou a entrega dos cargos do PSB no
governo. Campos disse a Dilma que a decisão tomada pela Comissão
Executiva Nacional, após mais de quatro horas de reunião, deixava a
presidente e o partido livres para cuidar de suas próprias candidaturas
presidenciais.
A decisão do PSB de entregar os cargos de que o partido dispõe no
governo, inclusive dois ministérios (Integração Nacional e Secretaria
dos Portos), torna praticamente irreversível a candidatura presidencial
de Campos, nas eleições de 2014. Sem a amarra de ser governo e ao mesmo
tempo candidato contra Dilma, o governador deve se movimentar mais à
vontade para "começar a aglutinar apoios", segundo integrantes do PSB.
Inclusive em seu próprio partido, no qual enfrenta algumas dissidências.
Embora nunca tenha ultrapassado a casa de um dígito nas pesquisas de
opinião, a candidatura de Campos é bem avaliada entre congressistas e
empresários: o governador de Pernambuco e não Marina Silva é visto com
potencial para romper o círculo da polarização PT-PSDB, existente desde a
eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994. Campos é um candidato
palatável tanto ao eleitor do PSDB de Aécio Neves como de parte do PT.
Na audiência com a presidente, Campos fez questão de ressaltar que a
decisão não significava que o PSB estava mudando de campo político, por
isso, não se tratava de um rompimento nem com o governo nem com o PT.
Pelo contrário, a orientação era para que todos os quadros petistas
abrigados nos seis governos estaduais do PSB fossem convidados a
permanecer em seus cargos.
"Não vamos de forma nenhuma entregar os cargos e entrar em oposição à
presidenta Dilma, vamos continuar dando apoio naquilo que entendemos
que é correto", disse Eduardo Campos, ao final da reunião da Executiva
Nacional, antes do encontro com a presidente da República. " Tudo aquilo
que for correto para o Brasil terá o apoio do PSB. Se houver uma coisa
relevante que o governo entenda que é preciso a ajuda do PSB, não haverá
nenhum problema dialogarmos", disse.
De acordo com o relato feito por Campos a integrantes da direção do
PSB, "a presidente compreendeu nosso intuito". Além de Dilma e Campos,
só o chefe de gabinete da presidente, Giles Azevedo, participou da
conversa. Como justificativa para a entrega dos cargos, Campos disse a
Dilma que o PSB não podia tolerar dois carimbos: o de partido
fisiológico e o de que está mudando do campo que integra desde as
eleições de 1989 com o PT - e no segundo turno de 2002.
O PSB, na realidade, foi encurralado e virtualmente constrangido a
tomar a decisão de ontem pelo PT, PMDB e ultimamente também pela
presidente Dilma Rousseff. "Neste momento, temos sido atingidos,
sistemática e repetidamente, por comentários e opiniões jamais negadas
por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na
estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente,
poder apresentar candidatura à Presidência em 2014", diz a nota da
Executiva Nacional.
Os dirigentes do PSB atribuem as manobras para levar o PSB a uma
decisão rápida ao presidente do partido, Rui Falcão, mas especialmente
ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O ministro Fernando Bezerra
Coelho (Integração Nacional), indicado por Eduardo Campos, contou na
reunião de ontem um episódio que os socialistas consideram emblemático. O
ministro leu em um jornal que sua cabeça estava a prêmio e que seu
ministério seria realocado para o PMDB.
Incomodado, o ministro contou ter ligado para Mercadante e dito que
se sentia constrangido e sem saber exatamente o que fazer, diante da
notícia. Mercadante respondeu que verificaria o que estava acontecendo e
depois telefonaria de volta. "Estou esperando até hoje pelo
telefonema". Outros episódios "ofensivos" protagonizados com o PT foram
lembrados.
O presidente do PT, de fato, cobrou a demissão dos ministros do PSB,
sobretudo de Coelho - Leônidas Cristino, da Secretaria dos Portos, foi
indicado para o cargo pelo PSB do Ceará, que é a ponta de lança de Dilma
no partido. Além de Mercadante e Falcão, Dilma também estava aborrecida
com o antigo aliado - só o ex-presidente Lula ainda tentava
contemporizar.
Segundo apurou o Valor, há pouco mais de uma semana a
presidente disse ao vice-presidente Michel Temer que tinha a intenção
de promover o afastamento do PSB no governo. Dilma se mostrava irritada
com a movimentação "ostensiva" de Campos como candidato, seu flerte do
com o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB, e com críticas que
fazia ao governo em reuniões com empresários.
No encontro com Temer, a presidente não abriu negociação sobre o
espólio do PSB, mas o PMDB já se posicionou para a disputa. O presidente
do Senado, Renan Calheiros, tem nomes no colete para o Ministério da
Integração Nacional e reivindica o reconhecimento da condição de aliado
que tem facilitado as coisas para o governo, nas votações do Congresso.
Com Integração Nacional, Portos, o comando da Chesf e da Sudene, o PMDB
promete palanques fortes para a candidatura Dilma no Nordeste
A bancada do Rio de Janeiro, por outro lado, namora a Secretaria de
Portos. Como se recorda, o líder da bancada na Câmara, Eduardo Cunha,
foi um dos mais fortes adversários da abertura dos portos, nos moldes
defendidos pelo governo, quando o assunto foi tratado na Câmara. O
governador Sérgio Cabral é candidato tanto para a Integração como para a
secretaria.
Qualquer cargo que o Cabral pegar, tenho certeza que ele vai mandar bem!
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