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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

PSB entrega cargos sem passar para a oposição

Raymundo Costa | De Brasília
Sérgio Lima/Folhapress / Sérgio Lima/Folhapress 
Eduardo Campos: em conversa com Dilma governador disse que decisão deixava ambos mais livres para 2014
Em conversa cordial mas objetiva com a presidente Dilma Rousseff, o governador Eduardo Campos formalizou a entrega dos cargos do PSB no governo. Campos disse a Dilma que a decisão tomada pela Comissão Executiva Nacional, após mais de quatro horas de reunião, deixava a presidente e o partido livres para cuidar de suas próprias candidaturas presidenciais.
A decisão do PSB de entregar os cargos de que o partido dispõe no governo, inclusive dois ministérios (Integração Nacional e Secretaria dos Portos), torna praticamente irreversível a candidatura presidencial de Campos, nas eleições de 2014. Sem a amarra de ser governo e ao mesmo tempo candidato contra Dilma, o governador deve se movimentar mais à vontade para "começar a aglutinar apoios", segundo integrantes do PSB. Inclusive em seu próprio partido, no qual enfrenta algumas dissidências.
Embora nunca tenha ultrapassado a casa de um dígito nas pesquisas de opinião, a candidatura de Campos é bem avaliada entre congressistas e empresários: o governador de Pernambuco e não Marina Silva é visto com potencial para romper o círculo da polarização PT-PSDB, existente desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994. Campos é um candidato palatável tanto ao eleitor do PSDB de Aécio Neves como de parte do PT.
Na audiência com a presidente, Campos fez questão de ressaltar que a decisão não significava que o PSB estava mudando de campo político, por isso, não se tratava de um rompimento nem com o governo nem com o PT. Pelo contrário, a orientação era para que todos os quadros petistas abrigados nos seis governos estaduais do PSB fossem convidados a permanecer em seus cargos.
"Não vamos de forma nenhuma entregar os cargos e entrar em oposição à presidenta Dilma, vamos continuar dando apoio naquilo que entendemos que é correto", disse Eduardo Campos, ao final da reunião da Executiva Nacional, antes do encontro com a presidente da República. " Tudo aquilo que for correto para o Brasil terá o apoio do PSB. Se houver uma coisa relevante que o governo entenda que é preciso a ajuda do PSB, não haverá nenhum problema dialogarmos", disse.
De acordo com o relato feito por Campos a integrantes da direção do PSB, "a presidente compreendeu nosso intuito". Além de Dilma e Campos, só o chefe de gabinete da presidente, Giles Azevedo, participou da conversa. Como justificativa para a entrega dos cargos, Campos disse a Dilma que o PSB não podia tolerar dois carimbos: o de partido fisiológico e o de que está mudando do campo que integra desde as eleições de 1989 com o PT - e no segundo turno de 2002.
O PSB, na realidade, foi encurralado e virtualmente constrangido a tomar a decisão de ontem pelo PT, PMDB e ultimamente também pela presidente Dilma Rousseff. "Neste momento, temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por comentários e opiniões jamais negadas por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura à Presidência em 2014", diz a nota da Executiva Nacional.
Os dirigentes do PSB atribuem as manobras para levar o PSB a uma decisão rápida ao presidente do partido, Rui Falcão, mas especialmente ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional), indicado por Eduardo Campos, contou na reunião de ontem um episódio que os socialistas consideram emblemático. O ministro leu em um jornal que sua cabeça estava a prêmio e que seu ministério seria realocado para o PMDB.
Incomodado, o ministro contou ter ligado para Mercadante e dito que se sentia constrangido e sem saber exatamente o que fazer, diante da notícia. Mercadante respondeu que verificaria o que estava acontecendo e depois telefonaria de volta. "Estou esperando até hoje pelo telefonema". Outros episódios "ofensivos" protagonizados com o PT foram lembrados.
O presidente do PT, de fato, cobrou a demissão dos ministros do PSB, sobretudo de Coelho - Leônidas Cristino, da Secretaria dos Portos, foi indicado para o cargo pelo PSB do Ceará, que é a ponta de lança de Dilma no partido. Além de Mercadante e Falcão, Dilma também estava aborrecida com o antigo aliado - só o ex-presidente Lula ainda tentava contemporizar.
Segundo apurou o Valor, há pouco mais de uma semana a presidente disse ao vice-presidente Michel Temer que tinha a intenção de promover o afastamento do PSB no governo. Dilma se mostrava irritada com a movimentação "ostensiva" de Campos como candidato, seu flerte do com o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB, e com críticas que fazia ao governo em reuniões com empresários.
No encontro com Temer, a presidente não abriu negociação sobre o espólio do PSB, mas o PMDB já se posicionou para a disputa. O presidente do Senado, Renan Calheiros, tem nomes no colete para o Ministério da Integração Nacional e reivindica o reconhecimento da condição de aliado que tem facilitado as coisas para o governo, nas votações do Congresso. Com Integração Nacional, Portos, o comando da Chesf e da Sudene, o PMDB promete palanques fortes para a candidatura Dilma no Nordeste
A bancada do Rio de Janeiro, por outro lado, namora a Secretaria de Portos. Como se recorda, o líder da bancada na Câmara, Eduardo Cunha, foi um dos mais fortes adversários da abertura dos portos, nos moldes defendidos pelo governo, quando o assunto foi tratado na Câmara. O governador Sérgio Cabral é candidato tanto para a Integração como para a secretaria.

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