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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Saída do PSB do governo racha o campo da esquerda

O Partido Socialista Brasileiro (PSB) é uma legenda histórica, com mais de 60 anos de atuação na política nacional. Desde a redemocratização, com exceção da eleição de 2002, quando lançou candidato próprio, sempre esteve aliado ao PT, junto com PDT e o PCdoB. O divórcio consumou-se na semana passada, quando seu presidente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, entregou os cargos que o partido ocupava no governo federal, sendo os mais importante a Secretaria de Portos e o Ministério da Integração Nacional. O gesto do PSB é a primeira manifestação importante de divisão no campo da esquerda que, desde 2003, governa o país. Além de ter história e uma bancada de médio porte no Congresso, o partido foi um aliado solidário dos governos do PT, inclusive em seus momentos mais críticos, como ocorreu na crise do mensalão, quando até mesmo eminentes próceres petistas voltaram as costas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PSB é um partido em franco crescimento, como demonstraram as eleições de 2010, quando elegeu os governadores de seis Estados, sendo quatro deles (Pernambuco, Ceará, Paraíba e Piauí) no Nordeste, um celeiro de votos do atual campo governista. Nada mais legítimo, portanto, que o partido tenha a aspiração de eleger um de seus quadros presidente da República. Este quadro é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, líder quase inconteste do PSB. Ao devolver os cargos, Campos fez sua maior cartada e o PSB demonstrou que é possível fazer política com alguma dignidade. Foi uma decisão autônoma, ética e responsável. Autônoma, porque tomada no voto de cada dirigente na instância partidária adequada; ética, pois a dupla militância empurrava o PSB para a dubiedade de quem caminha para a oposição mas não quer deixar as benesses do governo e responsável porque, ao sair, o PSB manteve o apoio a um governo sobre o qual tem críticas efetivas, mas ao qual está umbilicalmente ligado por uma coligação eleitoral. Não se trata de rompimento, o que pode até vir a ocorrer mais tarde, se a relação de 25 anos se tornar insustentável. Resta ao governo da presidente Dilma Rousseff, que forçou o PSB a essa decisão, compreender e reagir com a civilidade política que se espera de um governo republicano. É provável que Eduardo Campos tivesse tomado antes a decisão de se afastar do governo, não fosse o temor de retaliação do poder central aos governadores, prefeitos e parlamentares do PSB. A saída do PSB deveria servir de exemplo e inaugurar uma época de bons costumes na política. Infelizmente, não é o que se prenuncia, no momento. Antes mesmo da separação, governantes do PSB já recebiam o tratamento que o PT costuma dispensar aos inimigos políticos. Na reunião da Executiva Nacional que decidiu a entrega dos cargos, realizada na última quarta-feira, em Brasília, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, contou um episódio que retrata esse tipo de mau comportamento. A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) esteve em João Pessoa para inaugurar uma obra construída com 65% de verbas estaduais. Convidou até os adversários do PSB, mas esqueceu do dever institucional, republicano e civilizado de chamar o governador do Estado. Outros relatos se seguiram, reveladores de uma relação em deterioração. O governo e o PT, por seu turno, preparam um ataque especulativo sobre as bases do PSB, estimulando intriga e divisão. O PMDB, para não fugir a sua natureza, não perdeu tempo e abriu a temporada de caça ao espólio do PSB, especialmente o Ministério da Integração Nacional, pasta que já ocupou em administrações de triste memória. Justifica-se que esse é o preço a pagar num sistema de presidencialismo de coalizão, a fim de assegurar a estabilidade de governos eleitos sem uma base partidária forte, majoritária. Esquece-se de dizer, convenientemente, que a essência das coalizões deveria ser programática. Num cenário em que o apego aos cargos é a regra, mesmo de ministro pilhados em malfeitorias, como já ocorreu mais de uma vez no governo da presidente Dilma, a decisão do PSB, forçada ou não, é alvissareira. Mesmo que nada indique que possa se tornar prática corrente. © 2000 – 2013. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico. Leia mais em: http://www.valor.com.br/opiniao/3279144/saida-do-psb-do-governo-racha-o-campo-da-esquerda#ixzz2fitz0qPu

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