Reflexões e artigos sobre o dia a dia, livros, filmes, política, eventos e os principais acontecimentos

terça-feira, 24 de março de 2015

"BRILHANTE" DEPREDAÇÃO NA PRODUÇÃO DE PETRÓLEO E GÁS

O que está por trás do boom da produção depredadora do xisto e as areias betuminosas? Por que é o único setor da economia dos EUA com lucros ascendentes? Qual é o impacto da fratura hidráulica?

Conforme a crise capitalista mundial tem se aprofundado, praticamente todos os setores da economia entraram em crise ou viram os lucros caírem nos últimos anos. Os especuladores imperialistas “descobriram” uma “brilhante” saída para manter as taxas de lucro na produção – além dos crescentes ataques contra os trabalhadores, passaram a devastar os recursos naturais numa escala nunca vista na história da humanidade.

Hoje, nos EUA, o único setor da economia onde os lucros só tem aumentado é a produção de petróleo e gás usando as “técnicas” da fratura hidráulica e da fratura horizontal. Um “brilhante” futuro, conforme tem sido propagandeado pela imprensa imperialista, pois conseguiu baratear muito sensivelmente os custos de produção, ignorando os investimentos que deveriam ser direcionados à segurança e promovendo a contaminação do meio ambiente em níveis catastróficos.

Os preços do gás despencaram de US$ 11 por mBTU (milhão de unidade termal britânica) em 2008, para US$ 1,5 em abril deste ano, e US$ 3,4 em novembro.

O governo conservador canadense, do primeiro ministro Stephen Harper, começou a procurar mercados alternativos, principalmente na Ásia, para o LNG (gás natural líquido). Nos mercados asiáticos, a cotação de LNG alcança US$ 14 por mBTU. A província de British Columbia possui grandes reservas de LNG, mas grandes projetos têm sido suspendidos, da mesma maneira que aconteceu com a construção do oleoduto Enbridge Northern Gateway, que ligaria Alberta com British Columbia.

Royal Dutch Shell, Korea Gas Corporation, Mitsubishi e PetroChina estão tentando criar terminais na região de Kitimat, em British Columbia, para exportar LNG para a Ásia. O risco é a depressão da economia junto à concorrência do LNG produzido em Moçambique e Austrália, pois apesar dos relativamente baixos custos de produção ainda restam os enormes custos de distribuição.

O óleo produzido a partir do xisto no estado da Dakota do Norte, nos EUA, tem aumentado a pressão pelo fornecimento às refinarias do sul, oferecendo descontos de US$ 20 por barril, na comparação com o preço padrão WTI (West Texas Intermediate), que hoje está em torno de US$ 90, impactando os produtores da província de Alberta, no Canadá, que dão um desconto de US$ 10. A produção de óleo a partir da mineração (Alberta) precisa de um valor do barril de US$ 80, enquanto a produção a partir da fratura hidráulica é lucrativa a partir dos US$ 60.

O boom da produção depredadora de petróleo nos EUA e no Canadá

Segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), os EUA se tornarão o maior produtor mundial de gás em 2015 e o maior produtor de petróleo em 2017.

O Canadá também começou a desenvolver a produção de hidrocarbonetos a partir do xisto nas províncias de Newfoundland e Labrador, e na região central de Alberta, onde existiriam reservas de 3,324 trilhões de pés cúbicos de gás natural, 58,6 trilhões de gás líquido e 423,6 bilhões de barris de petróleo de alta qualidade (LTO: light tight oil). A produção de petróleo das areias betuminosas passou de 1,47 milhões de barris por dia em 2010, para 1,78 milhões e a previsão é que aumente para 3,17 milhões em 2020, segundo a CAPP (Associação dos Produtores de Petróleo do Canadá).

A dependência do Canadá das exportações de óleo e gás para os EUA é enorme. 75% da produção de óleo tem como destino os EUA. Em 2011, mais da metade da produção de gás do Canadá, que é o terceiro maior exportador em escala mundial, foi exportada aos EUA, e atendeu 13% da demanda.

A “bonança” do xisto (shale) nos EUA

O campo de Bakken, no estado de Dakota do Norte, já produz 600 mil barris por dia. O campo de Eagle Ford, no Texas, produz 300 mil barris.

O número de empregos diretos aumentou em 53% nos últimos sete anos, passando para 195,100, que espera-se que passem para 600 mil em 2020. Os empregos indiretos, incluídas as “atividades de suporte à mineração” aumentou em 73%, para 365 mil, de acordo com o Escritório de Estatísticas do Trabalho. Outros empregos foram criados nos fornecedores de serviços para o setor.

As “boas” notícias não param por aí. As refinarias têm visto os lucros aumentarem. As exportações de derivados de petróleo atingiram o recorde histórico de 2,5 milhões de barris diários no ano passado.

A indústria química tem aumentado a capacidade instalada para aproveitar os baixos custos da energia, do gás natural líquido, como o etano e o butano. A Shell deverá construir um empreendimento bilionário para o craqueamento (quebra de moléculas) de etano na Pennsylvania.

Os grandes desafios que a imprensa especializada colocam como desafios para a “bonança” são a nova regulamentação para o setor que a APMA (Agência de Proteção ao Meio Ambiente) deverá publicar no próximo ano, o aumento dos riscos para a saúde e a escassez de água. Adicionalmente, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), a previsão de desempenho produtivo dos reservatórios aponta para ser “muito pobre” já em 2017.

O caminho para a lucratividade do capitalismo passa pelo aumento exponencial da exploração das massas trabalhadoras e da depredação do meio ambiente em crescente escala. Não há mágica, pois os mecanismos de funcionamento da economia capitalista estão caminhando aceleradamente para a decomposição devido ao grau de parasitismo do sistema.

Efeito colateral: a suspensão de grandes projetos

A produção de óleo e gás usando a fratura hidráulica e a fratura horizontal permitiu a obtenção de crescentes volumes de produção no mercado doméstico e provocou a queda dos preços no Canadá. Mas trouxe como efeito colateral a suspensão dos projetos maiores, onde o retorno sobre os investimentos ficaria mais difícil de ser conseguido. Desta maneira, a “solução mágica” da fratura hidráulica provoca o estancamento de outros setores.

Após a decisão, tomada no ano passado pelo Departamento de Estado dos EUA, de adiar a construção do oleoduto Keystone XL, a produção de petróleo a partir da mineração foi impactada, pois enormes investimentos tinham sido direcionados para as areias betuminosas, em Fort McMurray, em Alberta, com o objetivo de exportá-lo para as refinarias localizadas no Golfo do México.

Segundo a AIE 16 projetos, avaliados em US$ 150 bilhões, foram suspendidos somente em 2008-2009, quando o valor do barril do petróleo despencou. Agora, perante o aprofundamento da crise capitalista mundial, vários novos grandes projetos começaram a ser suspendidos.

Em que consiste a fratura hidráulica?

A fratura hidráulica consiste basicamente na injeção de água, areia e uma mistura química, composta por centenas de ativos químicos, cuja fórmula as multinacionais mantêm sob sete chaves, com o objetivo de facilitar a extração dos hidrocarbonetos incrustados nas rochas. Ela começou a ser implementada em larga escala há cinco anos, coincidindo com o colapso capitalista de 2007-2008. Em cima destes mecanismos, os EUA esperam transformar-se no maior produtor mundial de gás em 2015, e o maior produtor de petróleo em 2017.
A infiltração desses componentes químicos no lençol freático, nos aquíferos e no subsolo converte as áreas em bombas tóxicas. Pequenos terremotos vem sendo observados, com cada vez maior frequência, em algumas áreas de exploração. Onde é explorado gás, a partir do xisto, com o uso desses métodos, a água tem atingido um grau de contaminação tal que é possível acender fogo na torneira ou nos riachos (a própria água funciona como combustível!), conforme tem sido documentado em vários filmes que estão disponíveis na Internet.

Os especuladores financeiros propagandeiam a ideia da queda dos custos de produção. No estado da Dakota do Norte, nos EUA, e na província de Alberta, no Canadá, nos últimos anos, o custo médio de exploração tem caído, para menos da metade. O custo para a produção de um barril de petróleo está um pouco acima dos US$ 20, acima da média do Oriente Médio, que é de US$ 5, mas similar ao custo da produção em águas profundas. O problema é que esses cálculos não consideram os danos ambientais. Na refinaria experimental da Petrobras, localizada em São Bento do Sul, Paraná, que produz petróleo a partir do xisto, o custo de produção é de US$ 20 o barril, mas os custos de reparação ambiental representam pelo menos outros US$ 20. Além disso, o óleo que é extraído é muito pesado, aumentando os custos de refino.

O “truque” das petrolíferas e mineradoras para aumentar os lucros consiste simplesmente em reduzir os custos com a segurança e a reparação ambiental ao mínimo possível, produzindo efeitos devastadores.

A extração do betume, que fica incrustado na rocha, implica na mineração e separação do petróleo da areia. Nesse processo, são utilizadas quantidades desmedidas de água e, muitas vezes, grandes volumes de gás natural. Só a água utilizada é de três a quatro barris a mais, para a produção de um barril de petróleo, do que é a usada em métodos convencionais.
*Artigo publicado no site do PCO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Acessos ao Blog

Post mais acessados no blog

Embaixada da Bicicleta - Dinamarca

Minha lista de blogs

Bookmark and Share