Felipe Souza*
As baleias que frequentam nosso litoral nascem aqui no Brasil, principalmente na Bahia e no Espírito Santo. Entre outubro e novembro migram até as ilhas Georgia do Sul e Sandwich do Sul (território britânico no Oceano Atlântico Sul) onde passam o verão se alimentando. Lá elas comem o suficiente para se manter o ano todo. Em meados de abril elas voltam para o Brasil, chegando entre maio e junho. As que acasalaram no ano anterior vem para ter o filhote e as demais chegam para se acasalar. No período que passam aqui, não se alimentam e só utilizam a camada de gordura, como reserva de energia, para se manter. Pesquisas indicam que a falta krill na área de alimentação das Jubartes vem afetando a saúde das baleias, principalmente os jovens. Esses indivíduos, que não estão na época reprodutiva, em vez de subirem para o banco dos Abrolhos ficaram concentrados no Sul e Sudeste do Brasil buscando sardinhas e tainhas, o que não é comum.
Em 2021 foram registrados 216 encalhes de baleias jubartes no Brasil, sendo a maioria formada por indivíduos jovens, com até cinco anos, que apresentavam quadro de desnutrição.
Estudos publicados na revista Nature, mostram que no setor sudoeste atlântico do oceano Antártico, onde abriga 70% da população de krill, não é somente uma das regiões mais afetadas pelo aquecimento global com o aumento rápido da temperatura do oceano mas também, vem ocorrendo um aumento significativo na captura do krill. Acredita-se que possa estar ocorrendo na Antártica uma sobreposição entre a pesca e a desova do krill que mudou do verão para o inverno (época pesqueira na região). Dessa forma, a diminuição do krill tem como causa não somente o aquecimento global, mas também o aumento da captura – podendo ser consequência direta do que estamos observando durante essa temporada com a Campanha Borrifos, fazendo com que principalmente as juvenis estejam mais magras e em busca de alimento, podendo ficar presas em redes e instrumentos de pesca. A Geórgia do Sul e as Ilhas Sandwich do Sul, de onde a Jubarte parte rumo à nossa costa, estão no limite norte da distribuição do krill. O krill nas ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul não são autossustentáveis, dependem do movimento do krill para o norte nas correntes do Oceano Antártico e de seus locais de desova sob o gelo na Península Antártica e no Mar de Weddell, onde ficam protegidos. A reprodução do krill é altamente dependente das condições do gelo marinho e, portanto, de fatores ambientais, o que torna os fatores apontados acima como a mudança do período de desova e a maior temperatura já registrada preocupações centrais.
*BBC Brasil
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